Tente imaginar uma sessão de terapia coletiva em que pessoas de diferentes idades, gêneros e classes sociais dividissem as questões. Certamente apareceriam temas como a busca pela felicidade, papel social do homem e da mulher, o saber se ouvir, a vontade que a vida simplesmente acabe, a insegurança amorosa. Essas angústias contemporâneas entram com tudo na quarta temporada de Sessão de terapia, a primeira a ser disponibilizada antes no Globoplay.
É notável como estar num serviço de streaming fez bem à série ー as três primeiras temporadas de Sessão de terapia foram exibidas no GNT. Assim como nas temporadas anteriores, os episódios são divididos por dia de semana, de acordo com a agenda do terapeuta Caio (Selton Mello). Às segundas, ele atende Chiara (Fabiula Nascimento), às terças, Guilhermina (Lívia Silva), às quartas, Nando (David Junior) e, às quintas, Haydée (Cecília Homem de Melo). A sexta é dedicada à supervisora de Caio, Sofia (Morena Baccarin).
Assistindo a cada episódio no dia certo, o fio da meada de cada paciente era muitas vezes perdido, por mais que o recurso “anteriormente em Sessão de terapia…” ajudasse. Agora, é possível que maratonemos os episódios da série, aproximando uma sessão da seguinte. A duração dos capítulos (cerca de 25 minutos) e os ganchos criados pela roteirista Jaqueline Vargas facilitam o processo.
O texto de Jaqueline é um dos trunfos desta temporada de Sessão de terapia. O que podia ser massante, chato, pesado vem recheado de tiradas engraçadas, geralmente vindas de Chiara, personagem que usa a comédia para falar de temas bem dolorosos para ela, como fama e inveja. Mesmo quando o assunto é denso, como a vontade de desistir da vida de Haydée ou o possível abuso sexual de Guilhermina, isso é trazido com mais humanidade do que drama.
É interessante notar que, nesta temporada, a vida pessoal de Caio ganha um certo destaque, na sessão de supervisão com Sofia. Ali, aos poucos, conhecemos as tragédias do terapeuta e entendemos as atitudes dele com alguns pacientes, como Guilhermina e Haydée. Só é estranho que Caio se apaixone por Sofia, mesmo artifício usado nas duas primeiras temporadas da série, quando o terapeuta Téo (Zécarlos Machado) se encanta pela supervisora Dora (Selma Egrei). Reforça o estereótipo de envolvimento entre paciente e terapeuta.
Não dá para falar desta temporada sem tocar no assunto atuações. Elas estão na medida – Selton Mello se despe um pouco do sussurrar característico para fazer um forte Caio, que, na verdade, revela-se, depois, um homem frágil. Fabiula Nascimento e Cecília Homem de Mello também se destacam a cada sessão. David Junior e Aline Silva são mais jovens, mas dão conta do recado, principalmente ela, uma revelação do programa.
Unir diversão e reflexão na dose certa é para poucas séries da TV. Sessão de terapia consegue e você se pega ora rindo, ora chorando, sempre se emocionando.
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