Com o advento dos serviços de streaming e on-demand, a tevê aberta apresentou queda na participação do setor audiovisual. Mesmo assim, a programação ainda é bastante consumida pelo público
Por Adriana Izel e Devana Babu*
Durante muito tempo, a televisão aberta foi a única opção do telespectador. Depois veio a tevê por assinatura e, nos últimos anos, os serviços de streaming e on-demand. O que mudou a forma de consumo de parte do público: entre 2007 e 2014, a tevê aberta viu a participação no setor audiovisual ser reduzida de 63,7% para 41,5%, de acordo com dados do estudo “TV Aberta no Brasil: aspectos econômicos e estruturais” do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual, da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
A popularização de plataformas como Netflix, Globoplay e Amazon Prime Vídeo, que têm preços considerados acessíveis e catálogos cada vez maiores, fez com que parte do público abandonasse a tevê tradicional. É o caso da vendedora Janaina Moreira de Alburquerque, 38 anos. “Não assisto à tevê. Na tevê aberta, nem sei o que passa. Assisto a filmes na Netflix.”
Assim como ela, Moisés dos Santos Coelho, 19, também vendedor, abdicou da tevê. “Televisão é muito estranho, porque aliena as pessoas. Mas gosto de ver Netflix. Gosto de uma série chamada Suits, que é sobre advogados ricos que defendem milionários”, conta. “É muito raro eu assistir à tevê. Duas vezes por semana, no máximo. Gosto mais de ver séries e filmes na Netflix. Gosto de ação e histórias sobre a natureza”, diz o comissário de bordo Gedielson Farias, 34.
O mesmo acontece com o enfermeiro Nelson Rocha, 51 anos. Ele conta que não vê televisão, porque fez uma substituição pelos aplicativos digitais. “Se eu assisto à tevê? Não, porque tenho Netflix. Gosto de assistir Star trek”, explica em referência ao spin-off lançado na plataforma.
Já para a estudante Luiza Pedras, 30, é a possibilidade de escolher a própria programação que a encanta nos serviços e a afasta da televisão tradicional. “Não vejo tevê, porque não gosto de nada que passa. Vejo séries na Netflix como Breaking bad e The walking dead”, esclarece.
Disputa de atenção
Em meio a todas essas mudanças causadas pelos serviços sob demanda — em que o espectador escolhe o programa e o horário para assistir —, a tevê aberta ainda precisa disputar atenção com outros atrativos, como os celulares, já que, pesquisa recente da Conecta Brasil, revelou que 88% dos brasileiros navegam na internet por meio de smartphone e computador, enquanto assistem à televisão.
O servidor público Fernando Bruno, 34, é uma dessas pessoas. Ele acaba sendo atraído pela internet e consumindo muito mais conteúdos do YouTube. “Assisto à tevê muito raramente. Aliás, só vejo tevê universitária. Prefiro Netflix. Gosto da série Dark. Gosto de ver clipes no YouTube também”, diz.
A estudante Larissa Cavalcante, 18, costuma ver os programas televisivos ao mesmo tempo em que faz outras atividades. “Gosto de deixar a tevê ligada quando estou me arrumando, para ver o jornal antes de ir pra faculdade. À noite, também. E gosto muito de ver desenhos. Nas férias, acordo cedo, tomo café e fico assistindo a desenho”, afirma.
Ainda no auge
Mesmo que a televisão aberta tenha tido uma queda na audiência nos últimos anos, isso está longe de representar o fim do modelo como se conhece no Brasil. Pelo contrário, ainda há um público cativo de programações como jornais e novelas. Na última semana, o folhetim Verão 90, de Izabel de Oliveira e Paula Amaral, contabilizou 28 pontos no Ibope na Grande São Paulo, o que equivale a televisores ligados em 2.044.500 de domicílios e aproximadamente 19.957.800 milhões de espectadores.
Números esses que, se comparados com dados recentes divulgados pela Netflix, comprovam a força da tevê aberta nas terras tupiniquins. Segundo a plataforma de streaming, a terceira temporada de Stranger things foi assistida por 40,7 milhões de contas no mundo em quatro dias. Enquanto os dados de Verão 90 retratam apenas um dia de exibição da novela na Rede Globo.
Pessoas como o estudante Eric Antunes, 16 anos, reforçam isso: “Eu assisto à tevê todo dia, para ver o jornal”. A vendedora Camila Alencar de Carvalho, 23, é outro exemplo. “Vejo tevê, em média, uma hora por dia. Gosto de ver novela e jornal. Ultimamente, não tenho acompanhado nenhuma novela, poque não tenho tempo, mas sempre dou uma olhadinha”, justifica.
O mesmo vale para o artesão Fábio Lima Coelho, 34. “Assisto à tevê todo dia. Só tevê. Vejo o jornal, principalmente, mas também vejo filme, novela”, revela. E ainda para Joandro Pereira de Souza, 28: “Vejo tevê todo dia. Gosto de desenhos, filmes de terror e novelas. Não assisto a outros tipos de mídia, como Netflix. Só tevê”.
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira