Personagens periféricos na primeira temporada de Special ganham tempo de tela na segunda sequência. Série fica ainda melhor
Um dos poucos erros da primeira temporada da série Special (Netflix) é deixar meio que de lado duas personagens muito interessantes: Karen (Jessica Hecht), mãe do protagonista Ryan (Ryan O’Connell), e Kim (Punam Patel), a melhor amiga dele. A segunda temporada, disponível no catálogo da Netflix há cerca de uma semana, repara esse deslize e o faz sem tirar a importância de Ryan, razão de ser da série.
Special traz à luz a luta de Ryan para ser aceito socialmente e para se aceitar. Assim como o ator e roteirista Ryan O’Connell, o personagem é homossexual e tem paralisia cerebral leve. Os desafios continuam sendo enormes e esbarram a todo momento na autoestima de Ryan e na superproteção de Karen.
É aí que a personagem de Jessica Hecht cresce. Ela e o filho começam a temporada rompidos há dois meses, uma eternidade para ela, que sempre manteve Ryan sob seu olhar; e para ele, que se arrisca a morar sozinho e ser independente. Karen também se vê morando sozinha e tem que enfrentar isso, encarando um inédito autoconhecimento. Para não ficar tão distante do filho, Karen recruta Kim para o lado dela, o que rende boas sequências às atrizes.
Kim aparece nessa temporada ainda mais empoderada. A blogueira está afiadíssima em sua luta pela inclusão das “fashionistas plus size” no mercado, e os posts dela são um sucesso. Special continua seguindo a receita bem-sucedida de unir comédia e drama. Para Kim, isso só traz benefícios. Desta vez, ela se apaixona por um rapaz, mas insiste na teoria de que um homem magro, rico e bem-sucedido não pode se interessar por ela, gorda e endividada. A personagem também ganha conflitos familiares bem interessantes, que abrem caminho para Punam Patel brilhar.
Mesmo com Kim e Karen ganhando o merecido destaque, Ryan continua dominando Special. E talvez seja isso que faça da série tão boa. Sem fazer o personagem de coitadinho, o texto é divertido, com acidez na medida, e emocionante, nos levando, muitas vezes, à reflexão. Assim como na primeira temporada, os episódios curtos (de cerca de meia hora) nos convidam a maratonar a série.