Segunda temporada de Sex education acerta ao se aprofundar em mais temas

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Sequência vai além das questões relacionadas ao sexo. Problemas psicológicos, relações familiares e assédio fazem parte dos assuntos abordados na segunda temporada de Sex education. Confira a crítica com spoilers!

Quando Sex education estreou na Netflix no ano passado, a produção surgiu como uma série que tinha como norte a iniciação sexual. A trama pegou o assunto e entregou uma abordagem inédita na televisão, sem clichês e excessos, com uma linguagem que conversava com o público jovem. Ainda na estreia, o seriado também pincelou outros temas, como as barreiras na descoberta da homossexualidade e as diferentes formas de bullying, tudo isso com personagens ótimos, carismáticos e que tinham mais para serem explorados.

Na sequência, Sex education pegou tudo que deu certo e se expandiu. As questões relacionados ao sexo estão lá, agora, inclusive, com novas perspectivas, como discussões sobre vaginismo, assexualidade e fetiches. Mas, mais do que isso, o seriado dá um pulo e passa a abordar de forma mais profunda outros temas, assuntos cotidianos, tanto para os jovens, quanto para os adultos.

A segunda temporada de Sex education começa explorando a nova dinâmica na casa de Otis (Asa Butterfield) e Jean (Gillian Anderson), que estão se relacionando com Ola (Patricia Allison) e Jakob (Mikael Persbrandt), filha e pai, respectivamente. As relações, claramente, estão dando errado. Otis e Ola não conseguem avançar e partir para o sexo. A quase “onipresença” de Jakob na casa incomoda Otis e Jean, cada um por um motivo diferente.

É a partir disso que as narrativas de Otis e Jean se desenrolam na temporada. Otis perde tempo de tela, até porque o personagem vai se tornando pedante ao longo da temporada, uma intenção óbvia de aproximá-lo da figura paterna, assunto que é muito bem explorado na segunda temporada. Otis tem medo de ser como o pai, mas, em determinados momentos, repete o padrão. Como era de se esperar, a sequência coloca Otis entre os dois amores: Ola e Maeve (Emma Wiley). Situação que, de certa forma, fica pendente para uma terceira temporada, com um ótimo gancho, inclusive.

Crédito: Netflix/Divulgação

Se Otis perde um pouco do carisma da primeira temporada, é Jean quem passa a ganhar um lado mais humano. A série acerta em mostrar as vulnerabilidades da personagem, que, apesar de ser especialista em questões psicológicas, não consegue enxergar os próprios problemas por trás de engatar e se entregar a um relacionamento sério com Jakob.

Fora da casa dos protagonistas, Sex education se volta aos ótimos personagens e dá, pelo menos para a maioria, boas narrativas. Eric (Ncuti Gatwa), grande destaque da primeira temporada, tem um aprofundamento.

Agora, o personagem não precisa mais se descobrir homossexual. As descobertas são outras: como viver após se assumir? Há diálogos muito interessantes e profundos envolvendo Eric e Otis; e depois Eric e Rahim (Sami Outalbali), novo interesse amoroso do jovem.

Crédito: Netflix/Divulgação

Também cabe a Eric, de certa forma, humanizar Adam (Connor Swindells), que segue um enredo oposto da primeira temporada, em uma espécie de redenção. E isso acontece ainda porque a série resolve se voltar para dentro da casa do personagem, mostrando a complicada relação dos pais dele: o raivoso diretor Michael (Alistair Petrie) e Maureen (Samantha Spiro), uma mulher extremamente reprimida pelo marido. Essa repressão, inclusive, espirra pela casa inteira.

As relações familiares permeiam a temporada. Maeve também é uma das personagens em que o tema é explorado. Se na estreia foi a partir da relação com o irmão, agora é com a mãe, Erin (Anne-Marie Duff), uma viciada em drogas em busca de se redimir dos erros do presente e do passado. A presença da personagem traz uma outra perspectiva para Maeve, que precisa lidar com a mãe e com a meia-irmã. Ao mesmo tempo em que precisa se descobrir novamente dentro do cenário escolar. Agora, ao lado dos Cabeças Quiz, o time do colégio que participa de competições de conhecimentos gerais.

É dentro desse grupo que surge uma nova e necessária personagem: a jovem nerd, negra e fora dos padrões estéticos, Viv (Chinenye Ezeudu). Autoestima é um dos temas abordados no enredo da personagem, que, divide a tela com Jackson (Kedar William-Stirling) que ganha ainda mais aprofundamento com a história de que não quer voltar a competir na natação.

O medo do personagem tem a ver com os problemas em casa — as mães dele estão em crise no casamento –, e com o fato de que nadar nunca foi o sonho dele. Tudo isso desemboca num problema psicológico do jovem, que começa a se flagelar para que não tenha que voltar ao esporte. O momento em que a série mostra isso é outro ponto alto, tanto de delicadeza na abordagem, quanto na necessidade da exploração do tema.

Crédito: Netflix/Divulgação

Mas o melhor momento da série está no sétimo episódio e é protagonizado por uma personagem, até então, considerada boba na narrativa: Aimee (Aimee Lou Wood). Logo no começo da segunda temporada, a personagem sofre um abuso sexual dentro do ônibus, quando um homem está se masturbando no transporte público e o sêmen espirra nela. Nada acontece, ninguém no veículo a ajuda. A personagem nem percebe a gravidade do que aconteceu. É Maeve quem convence Aimee a dar parte na polícia.

O fato e a dificuldade de entender aquilo como abuso muda a personagem ao longo da temporada. Ela passa a ter medo de entrar no ônibus, se distancia do namorado. Está sempre com medo. E é no sétimo episódio que a segunda temporada de Sex education dá uma lição, tanto em Aimee, como no espectador, sobre o assunto. Tudo isso mostrando um conceito muito atual e importante do femininismo: a sororidade.

Crédito: Netflix/Divulgação

Outra personagem que é apresentada sob nova perspectiva é Ruby (Mimi Keene), graças à relação de uma noite com Otis. Assim, a gente descobre que a personagem cria situações para mascarar os problemas em casa: o pai sofre de esclerose.

Mas nem só de acertos — apesar de muitos — vive a segunda temporada de Sex education. Há dois enredos explorados na sequência em que a série dá uma derrapada. A narrativa de Ola é resolvida de uma forma preguiçosa, a colocando com Lilly (Tanya Reynolds), um modo de arranjar uma história para duas personagens que estariam perdidas. Mas o pior momento são as interações entre os professores Hendricks (Jim Howick) e Emily Sands (Rakhee Thakrar). É de dar vergonha!

Mesmo com esses pequenos erros, a segunda temporada de Sex education termina com saldo positivo, além de um gancho perfeito para uma sequência e com um personagem novo que apareceu na reta final com muito ainda a ser explorado.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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