Cara e Coragem Foto: Globo/Estevam Avellar

Ricardo Pereira: “Eu gosto de personagens que me façam sair daquilo que é normal”

Publicado em Entrevista

É transitando entre o cinismo e o amor familiar de Danilo que Ricardo Pereira se destaca como o vilão de Cara e coragem

O ator português Ricardo Pereira vive um momento de extremos na telinha. Pode começar um capítulo de Cara e coragem tramando um jeito de roubar uma fórmula capaz de produzir armas poderosíssimas e terminar o mesmo episódio se derretendo de amores pelo enteado e ajudando a esposa a ganhar a guarda do menino.

Essa dualidade de Danilo conquistou Ricardo e o instiga. “É quase como se ele dividisse em duas vidas grandes e depois em outras subvidas”, tenta explicar o ator, em entrevista ao Correio.

Sem os ares de vilania, naturalmente, Ricardo também se divide entre os sets de gravação e a educação de Vicente (10 anos), Francisca (8 anos), e Julieta (4 anos). “Aprendo muito com esse processo do crescimento deles. Cada um tem sua personalidade, claro, mas dando muito amor e muito afeto e preparando eles para o mundo”, afirma.

Na entrevista a seguir, Ricardo fala sobre Cara e coragem, os meninos, pandemia e até sobre os desejos de ser cantor e apresentador. Confira!

Entrevista // Ricardo Pereira

 

Seu personagem em Cara e coragem é mais um vilão para sua coleção. Ele é o maior deles? Por quê?
Eu sempre falo que o papel que a gente está fazendo no momento é sempre o mais desafiador, o maior, porque é o que a gente está no momento envolvido, trabalhando, se dedicando. Eu já fiz muitos papéis diferentes, no meio desses tantos, muitos vilões, mas o Danilo é um desses vilões bastante dissimulados, cheio de camadas. Ao mesmo tempo que é muito prazeroso estar perto dele, ele sabe que por trás daquele sorriso, daquele olhar, o que ele está querendo fazer e onde está querendo chegar, o que ele está querendo alcançar. Posso dizer que é um vilão muito enrustido, dissimulado e que está me dando um prazer enorme de construir cada detalhe dele.

A gente costuma ouvir que interpretar vilões é mais divertido. É mesmo? Por quê?
Muita gente fala isso. Eu gosto de fazer bons personagens, sejam eles vilões, sejam mocinhos. Eu gosto de fazer personagens que me façam sair daquilo que é normal, que sejam longe daquilo que eu sou, que me permitam criar muito, procurar muito, acrescentar muito, testar, ver várias formas de fazer determinado personagem, que me dê muita luta, muito trabalho, que seja desafiante. Esse é o compromisso artístico que eu quero encontrar.

A novela fala sobre coragem. Como o tema se encaixa no Danilo?
Acho que até a cara, o rosto desse homem, é um rosto que transparece, transmite uma tranquilidade, uma segurança, um afeto muito grande. Essa é a vitrine, o cartão de visitas desse personagem. Ele transmite tranquilidade, segurança, sabedoria, experiência para quem se aproxima dele. E obviamente as pessoas acabam de algum jeito baixando a guarda. Eu acho que é aí que ele começa a cruzar essas influências, essas amizades com o objetivo que ele tem: conseguir a pasta com a fórmula para fazer o tal negócio que ele tanto deseja. Mas entre tantas outras coisas que vão acontecendo durante o caminho, ele utiliza muito esse poder de argumentar, de envolver as pessoas para conseguir o que ele quer.

Dar vazão a essas duas caras é a coragem de Danilo, então?
A coragem do Danilo é a coragem de fazer isso e chegar em casa e ter uma outra vida. É quase como se ele dividisse em duas vidas grandes e depois em outras subvidas. A vida da família, do amor, da paixão que ele tem pela mulher é, de fato, uma vida honesta no ponto de que ele ama essa mulher, gosta de estar com ela, ele a ajuda na luta pela guarda do filho com o ex-marido. Essa coragem, essa frieza com que ele aborda o resto da vida, sem ter medo de ser descoberto, é fantástica, é de alguém que premedita tudo, é muito astuto, com uma inteligência muito grande a ponto de esconder quem de fato ele é, e esse vilão que ele é.

E o Ricardo? Quais são as maiores “coragens” que você carrega?
Acho que todos nós em algum momento temos a coragem muito próxima da gente. Muitas vezes até mesmo a coragem de enfrentar e querer experimentar o desconhecido, de embarcar em aventuras que a gente não conhece tão bem. Eu sigo muito a intuição, muitas vezes a gente não tem certeza dos passos que a gente quer dar, mas seguindo a intuição e com determinação e coragem, pode dar certo. A minha coragem é de seguir muito aquilo que eu sinto que pode ser o caminho, o movimento, o sentido certo para a minha vida. Tenho tido coragem de seguir meus instintos e tem sido muito bom!

Foto: Paulo Belote/ TV Globo

Você tem três filhos pequenos. Criá-los num mundo em que as minorias querem ter mais vozes e as sociedades parecem estar cada vez mais “caretas” é um desafio?
Sim. Criar Vicente, Francisca e Julieta tem sido a maior viagem de nossas vidas, minha e da minha mulher. Aprendendo muito com esse processo do crescimento deles, tentando passar os melhores princípios da vida, educando, estando perto, tentando passar que eles sejam sempre muito atentos ao mundo, ao que os rodeia, a todas as pessoas, a todas as vozes que são importantes, acompanhando eles bem de pertinho. Cada um tem sua personalidade, claro, mas dando muito amor e muito afeto e preparando eles para o mundo, esse mundo grande, enorme, fazendo com que eles tenham sempre esse olhar muito atento sobre tudo e respeitando tudo, isso é muito importante para a gente.

Durante a pandemia você estava em Portugal. Por quê? Foi uma opção ou acabou acontecendo?
Na verdade, eu passei uma parte da pandemia aqui e outra parte lá, e acabou acontecendo. Eu tinha terminado um trabalho aqui, a novela Éramos seis, na Globo. Foi a última novela concluída, logo depois a Globo parou, assim como os outros setores que também precisaram parar por conta da pandemia. Um trabalho que eu iria fazer depois foi adiado, a escola das crianças ficou on-line e estávamos um pouco preocupados com meus pais, meus sogros e com a família, caso eles precisassem de alguma assistência. Então acabamos indo para Portugal para caso precisasse prestar algum tipo de ajuda para a nossa família. E acabou acontecendo de a pandemia ser vivida em dois lugares.

Você ganhou um prêmio recentemente por viver um cantor na novela portuguesa Amor amor. Como foi essa experiência? Você arriscaria ser cantor?
Dar vida ao Romeu Santiago da novela Amor amor foi um trabalho muito exigente, que juntou o canto com a atuação. Fui atrás de estudo, de professor de canto, de músicos para me ajudarem a compor esse personagem. Um trabalho muito gratificante pelo retorno que ele trouxe, pela alegria que ele trouxe e por ser um trabalho muito fora da caixa, muito diferente de tudo que eu tinha feito. Ele abordava muito a música popular, tradicional portuguesa e me levou para um lugar que eu ainda não tinha explorado. Mas daí a virar um cantor… Eu tenho que continuar com as aulas. Eu descobri um lugar muito especial, com muito respeito a todos os músicos, todos os cantores. É muito exigente essa profissão, tenho muitos amigos músicos e cantores e quem sabe no futuro, continuando a praticar, eu não possa fazer algo que tenha a ver com esse percurso de cantor.

Você já fez muitos trabalhos como apresentador. Como seria um programa com a sua cara?
Eu tenho feito muitos trabalhos como apresentador, tanto em Portugal quanto no Brasil. Fiz muitos programas diferentes, de gêneros diferentes, programas ao vivo, programas gravados, de música, de entrevista, diários, de atualidades… é uma outra linguagem para eu explorar na minha carreira. Eu amo também, muito, trabalhar como apresentador. Permite-me dar continuidade a esse lado da comunicação e é um outro jeito de comunicar que me seduz muito. Eu acho que um programa que eu gostaria de apresentar agora teria que ter um pouco da atualidade, algum game e, além disso, ter entrevista. Acho que teria que ter um pouquinho disso tudo, tudo junto, se complementando muito bem. E música também… onde eu pudesse continuar esse meu exercício de canto, onde eu pudesse pôr em prática as entrevistas e esse jeito de comunicar. Tinha que ter um pouquinho disso tudo. Quem sabe duas horas no ar, ou 1h30, ao vivo. Eu gosto de programa ao vivo e acho que a minha cara é um programa ao vivo e que tivesse um pouquinho disso tudo.