Ratched: mistério e drama se misturam na nova série de Ryan Murphy

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Série Ratched se firma nas boas interpretações femininas, especialmente de Judy Davis e Sarah Paulson, para emocionar e tocar em feridas sociais

Há perigos em trazer de volta à cena um personagem criado por outra pessoa. O risco só aumenta quando se trata de uma vilã tão icônica como Mildred Ratched, a enfermeira de Um estranho no ninho que rendeu o Oscar a Louise Fletcher em 1976. Pois é exatamente o que faz o premiado diretor Ryan Murphy (de Pose, American horror story e The politician, entre outros) em Ratched, série da Netflix que estreou no Brasil em 18 de setembro.

Na verdade, não é isso que Murphy faz, não. A personagem central de Ratched é a visão que o diretor tem de Mildred. E ela é quase oposta ao do filme. A nova Mildred ganha gestos largos, caras e bocas, uma maldade interior e muitas cores. Isso pode incomodar quem for muito fã de Um estranho no ninho ou quem estiver muito apegado à criação de Louise. Entre as semelhanças, as duas versões de Mildred Ratched ganham uma intérprete à altura: na série, Sarah Paulson entrega uma ótima personagem que oscila entre o ódio que move assassinatos planejados a sangue frio e momentos de insegurança amorosa, quase líricos.

Em Ratched, Mildred vai a um conceituado hospital psiquiátrico da Califórnia procurando emprego. Logo de cara, ela percebe que terá como pedra no sapato a enfermeira chefe do local, Betsy Bucket (Judy Davis, excelente no papel). Betsy não confia em Mildred de graça. E logo descobrimos que realmente não é à toa.

Judy Davis como Betsy na série RatchedJudy Davis como Betsy na série Ratched
Foto: Netflix/ Divulgação. Judy Davis vive a enfermeira Betsy, pedra no sapato da protagonista Mildred

Está internado no hospital Edmund Tolleson (Finn Wittrock), o assassino de quatro padres que alega ter doenças mentais e, por isso, não poderia ser condenado à morte em 1947. De olho na reeleição, o governador entrega ao diretor do hospital Richard Hanover (Jon Jon Briones) a missão de atestar ou não a sanidade de Edmund. O roteiro de Ratched guarda surpresas, como o real motivo do interesse de Mildred no caso de Edmund, revelado numa linda cena.

Série em oito episódios é como se Ratched tivesse duas fases. Na primeira, a enfermeira fria e calculista só quer dar vazão a seus planos, passando por cima de quem for. Na segunda, ela se descobre apaixonada pela assessora do governador, Gwendolyn Briggs (Cynthia Nixon), e se revela dotada de uma compaixão até então oculta. Vale lembrar que Sarah Paulson, Judy Davis, Cynthia Nixon e Sharon Stone (na pele da excêntrica e misteriosa ricaça Lenore Osgood) mostram a força do elenco feminino da série.

Discussões importantes aparecem em Ratched

Em meio aos mistérios, a série toca em assuntos importantes. Talvez a homossexualidade seja o mais evidente deles. Por meio de tratamentos no hospital, Hanover tenta descobrir a “cura” para essa “doença”. Os pacientes estão ali internados justamente para isso. Por outro lado, há o romance entre Mildred e Briggs e a luta interna que a protagonista trava contra ela mesma para se aceitar lésbica.

Mais de passagem, Ratched ainda traz discussões como o tratamento dado a pacientes psiquiátricos, o vale tudo no meio político, assédio sexual dentro da Igreja católica e vício de médicos em remédios.

Sharon Stone como a excêntrica Lenore Osgood

Essas discussões são todas envoltas numa embalagem que os fãs de Ryan Murphy já conhecem e identificam como marcas dele: as cores fortes presentes no figurino e na direção de arte ー são tons luminosos especialmente de azul e amarelo; a direção ágil, aqui marcada pela tela dividida em duas ou até três em vários momentos; e a tensão sexual sempre presente, no caso um tanto deslocada.

Quem não está tão acostumado com a estética do diretor pode estranhar um pouco. Mas é só se deixar levar pelos mistérios do roteiro e pelo show das atrizes que Ratched será uma boa diversão.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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