Pedro Vinícius e o personagem Michael, que ele interpreta em Malhação – Vidas brasileiras, têm muito mais em comum do que se pode imaginar. Os dois lutam pela representatividade gay e querem ser felizes, com muito amor no coração.
Pedro e Giovanni Dopico, que vive o Santiago, fizeram história em Malhação por protagonizarem o primeiro beijo gay da novelinha.
“Imaginar que protagonizei um ato que entra para a história da televisão brasileira é muito surreal. A importância disso é que motiva outros produtos a terem casais LGBTQs e tratar suas relações de maneira natural, como deve ser tratada. Chegará um dia que um beijo LGBTQ+ não será mais um evento ou um acontecimento, será comum e natural”, comenta Pedro, que contabiliza muito mais mensagens de apoio do que de condenação à cena.
Em entrevista ao Próximo Capítulo, Pedro Vinícius fala sobre o marco do beijo, o medo de se tornar ator de um papel só e militância LGBTI+. Confira!
Como foi a repercussão do beijo do Michael e do Santiago?
A cena do beijo repercutiu mais do que eu esperava, sinceramente. E essa repercussão foi muito mais positiva do que negativa, o que me surpreendeu bastante também, até porque, na conjuntura atual, tem sido muito difícil encontrar pessoas que estão dispostas a apoiar o amor, entende? Acredito que a cena foi ao ar no momento certo, estávamos precisando disso.
Imagino que tenha havido muitas reações positivas e negativas. Como lida com isso?
Eu lido bem com ambas as reações. Os dois são fatores motivacionais para eu continuar a construir o caminho que estou percorrendo. Os comentários positivos me mostram até onde o meu trabalho está chegando e como ele anda representando tantas pessoas que antes não tinham a visibilidade merecida. Enquanto os negativos me revelam pelo o que eu ainda tenho que lutar, e que por isso eu não posso desistir do meu trabalho, muito menos do que eu acredito. Tenho grandes expectativas para o futuro.
Acha que o país hoje está mais preparado para ver uma cena como essa com a naturalidade que deveria do que há 5, 10 anos?
Não tenho como saber, infelizmente. Eu juro que gostaria de responder impulsivamente que “sim, o Brasil está preparado para ver cenas de amor e afeto”, mas dada as últimas circunstâncias, eu não sou capaz de saber se o país está mais preparado para ver cenas de violência do que cenas de beijo entre duas pessoas que se gostam. E mesmo com a boa repercussão, a mesma que teve muito retorno positivo e etc., eu não posso me basear apenas nisso, o Brasil é grande demais e as pessoas são complexas. Particularmente, eu espero que sim, e eu existo para isso, para ajudar a criar um cenário novo no qual meus filhos, e os filhos dos meus amigos, poderão viver em paz e com respeito.
Você sabia que havia a possibilidade de a cena ser rodada quando começou a gravar Malhação?
Não, mas eu sempre torci para que o Michael tivesse um par, porque eu sabia que no desenrolar da trama, muitos outros casais iam ser formados, e tinha noção da importância desse detalhe. Quando soube que existiria essa possibilidade, fiquei muito feliz! Foi uma ótima surpresa.
A ficha já caiu que vocês entraram para a história de Malhação? Qual é a importância disso?
Até o dia 3 de outubro, que foi o dia que o beijo foi ao ar, eu achava que já havia rolado um beijo entre dois meninos na novela. No dia, eu e uma galera do elenco assistimos no módulo com os diretores e produtores, quando estava chegando no fim do capítulo, e o beijo finalmente foi ao ar, as pessoas começaram a gritar “Fizemos história!”, e me emocionei porque isso é muito, muito importante! Imaginar que protagonizei um ato que entra para a história da televisão brasileira é muito surreal. A importância disso é que motiva outros produtos a terem casais LGBTQs e tratar suas relações de maneira natural, como deve ser tratada. Chegará um dia que um beijo LGBTQ+ não será mais um evento ou um acontecimento, será comum e natural.
Houve uma preparação para essa cena com o Giovanni Dopico? Ou para vocês era apenas mais uma cena?
Para fazer essa história, a diretora Natalia Grimberg pediu para que eu e o Giovanni tivéssemos preparações separadas, ela queria trazer para a cena esse choque entre dois personagens tão diferentes, queria que o Michael e o Santiago se conhecessem em cena, não em uma preparação. Para a cena do beijo, a nossa preparação havia sido em cena, durante todos os dias em que gravávamos as cenas da história do Michael. Toda a relação e química que o Michael e o Santiago tem foram criadas durante as gravações.
Antes do beijo, vieram cenas de homofobia contra Michael. Como você vê uma novela destinada ao público jovem tocar num tema tão urgente e delicado como esse?
Eu vejo que estamos no caminho certo. Atualmente, os alvos da violência são majoritariamente jovens, e denunciar essas agressões e como elas atingem a vítima é importantíssimo. Tanto para os jovens que nos assistem quanto para os pais desses jovens, que acabam por assistir uma coisa que seu filho ou filha está sujeito nas ruas.
Você se considera um militante da causa gay? Acha importante os artistas se posicionarem com relação a isso para ajudar os fãs?
Eu me considero um militante da causa LGBTQ+, com certeza. Acho superimportante que artistas se posicionem em relação às causas sócio-políticas porque somos pessoas influentes e, com isso, podemos ajudar muitas e muitas pessoas que entram em contato com a nossa arte. Se a arte resiste, o mundo progride!
Como você foi parar em Malhação – Vidas brasileiras?
O Michael foi um presente que veio de uma forma muito predestinada. Eu fiz o ensino médio numa escola-residência daqui do Rio, a Escola SESC de Ensino Médio, que tem um projeto pedagógico bem diferenciado, e em 2017, quando eu estava cursando o terceiro ano do ensino médio, teve um evento sobre educação na escola. Eu e uma amiga estávamos guiando um grupo que queria conhecer mais sobre o projeto pedagógico da escola e tudo mais. No grupo que estávamos guiando, tinha uma mulher que fazia muitas perguntas pessoais, como o que havia nos motivado a sair de casa tão jovens, o que queríamos fazer quando saíssemos do ensino médio, etc. No final da visita, ela disse que queria conversar com a gente e se apresentou. Disse que era Natália Grimberg e que dirigiria a nova temporada de Malhação, e que queria que fizéssemos um teste. E aí as coisas foram acontecendo, dando certo e cá estou!
Michael tem todo o apoio da mãe na história. Com você também foi assim? Você acaba levando sua experiência de vida para cenas, como as de preconceito ou quando Michael precisa da ajuda do Hugo (acredito que tenha sido o Márcio, durante a história de Maria Alice) para se salvar de agressores?
Sim, eu sempre tive uma família que me apoiou. Minha relação com minha mãe é muito transparente, honesta. Para compor o Michael eu já doei muita coisa minha, que já passei ou que faz parte do Pedro também, mas isso foi no início da novela, depois de um tempo, o Michael já tinha uma forma totalmente diferente da que eu havia emprestado para ele e, assim, ele foi se tornando o compositor dele mesmo.
Michael tem 15 anos, mas é um dos mais maduros da turma que estuda no Sapiência. Você também amadureceu rápido ou ainda aprende muito com o personagem?
Nunca se para de aprender, ainda mais de amadurecer. Aos 15 eu já me tinha como uma pessoa madura para a idade, e as pessoas também falavam isso pra mim, então eu também acreditava. Saí de casa nessa idade e por isso tive que amadurecer rápido para poder alcançar as coisas que eu sempre almejei e também para sobreviver no meio em que eu estava, que era o ambiente acadêmico.
Você é um ator nordestino que não precisou abrir mão do sotaque para fazer o Michael. Ser Paraibano atrapalhou sua carreira na tevê de alguma forma? Você sente que precisa ir melhor do que outro ator num teste, por exemplo?
Ser nordestino nunca será um fator que me atrapalhará, na verdade, me fortalece muito. Gosto de ter o sangue do nordeste e dizer que sou paraibano, é de onde eu tiro muita força para fazer o que faço, de maneira geral. Sobre o trabalho e trabalhos futuros, eu me cobro bastante porque eu sinto que carrego comigo muitas pessoas, eu não cheguei em Malhação sozinho e com certeza não chegarei a outros sem contar com a pessoa que está do meu lado.
Além da questão da homossexualidade, Michael discute a falta de oportunidade de educação por meio da ONG Percurso, da qual ele faz parte. Tem esperança de que o Brasil avance nessa questão?
Eu ponho muita fé que vamos conseguir mudar o país por meio da educação, pois este é o único caminho possível. Se o Brasil pensasse em investir todo o dinheiro que estão pensando em investir em armas e penitenciárias só que em escolas e livros, teríamos um Brasil totalmente diferente em poucos anos. A questão é que as pessoas são imediatistas, querem investir no resultado mais rápido, que nunca é eficaz.
Você teme ser rotulado e viver apenas papéis homossexuais a partir de agora?
Temo, mas acredito que nenhum papel é igual. Acredito que é muito provável que eu faça alguns personagens gays nesse início da minha carreira, até porque estamos numa onda de buscar representatividade nos produtos. Mas acredito que não estou fadado a isso minha vida inteira, não pretendo ser ator de um personagem só.
Já tem planos para quando a temporada de Malhação acabar?
Quero voltar a estudar. Estou faminto pelo ambiente acadêmico, e não me importo de trabalhar e estudar, faz parte. A questão é como se organizar para fazer isso acontecer, mas eu tenho fé que dará tudo certo. Ano que vem será um ano de muitas mudanças na minha vida, estou ansioso.
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