Pedro Nercessian comemora a boa fase na tevê e no cinema. Em entrevista, ator de A força do querer fala sobre a carreira e sobre Brasília. Confira!
Quem assiste à novela A força do querer, na faixa das 19h, da Globo, deve pensar que o ator Pedro Nercessian acha ruim viver um personagem pequeno como Amaro. Mas não é bem assim. Pedro acha que está pronto para viver o primeiro protagonista na tevê (no cinema e na teatro a oportunidade já veio), mas não se pressiona com relação a isso. “É uma questão de oportunidade. Estou pronto e, quando for pra ser, vai vir no tempo certo”, afirma o ator que esteve na telinha em produções diferentes como Os mutantes (2013) e Justiça (2016).
Lá no início da carreira, na temporada 2003 de Malhação, Pedro era Fabrício. O papel abriu as portas para a carreira dele e também para a relação do ator com Brasília.
“O Oswaldo Montenegro foi uma das pessoas que acreditaram em mim àquela época. Eu estava no ar e ele me chamou para fazer testes para Leo e Bia, que se passa na cidade. Foi assim que entrei em contato com um lado diferente de Brasília. É a Brasília mística, cultural, diferente da política. É a Brasília que vale a pena”, lembra Pedro, que depois esteve à frente de uma festa que teve várias edições na capital federal.
Sobrinho do também ator Stepan Nercessian (que está no ar em Sob pressão), Pedro brinca que o Centro-Oeste está nas raízes dele, já que a família materna é goiana. Em entrevista ao Próximo Capítulo, o ator fala sobre A força do querer, teatro, cinema e família.
Leia entrevista com Pedro Nercessian!
O Amaro de A força do querer é um personagem periférico que ganha espaço pelas confusões do Ruy (Fiuk). Você se cobra o momento de ter o primeiro protagonista na tevê?
Novela é assim mesmo… Tem várias tramas correndo ao mesmo tempo. Desde a menina que vem do interior do Pará (Ritinha, de Isis Valverde) ao Amaro, um menino solar que corre na Lagoa. Eu adoro o Amaro porque vinha de Justiça e de um filme muito denso (Canastra suja, de Caio Sóh) e peguei um personagem mais leve. Quanto a ser protagonista, eu não me cobro, mas tenho muita vontade. Estou preparado, mas não ansioso. Seria um desafio, um reconhecimento do trabalho que venho construindo.
A força do querer toca em temas polêmicos (vício em jogos, transexualidade e baleia azul, entre outros – veja mais sobre o assunto aqui). No grupo de teatro Afetados, você aborda temas como violência contra a mulher e gravidez na adolescência num projeto social. Como a ficção pode ajudar as pessoas a superar essas questões?
Ao ver o mesmo problema que enfrentam numa novela ou no palco, as pessoas se identificam, se sentem menos sozinhas. A arte pode aproximar e mostrar que o fato de ela enfrentar um problema não a faz anormal. É o caso da trama da Ivana em A força do querer, por exemplo. Às vezes, uma transexual no interior do país assiste às cenas e vê que existe mais gente como ela. A arte tem essa força de não isolar. Vejo isso diretamente com o Afetados. O projeto começou com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), no Rio de Janeiro. É muito bom se apresentar numa comunidade, voltar lá depois e ver que a relação daquelas pessoas com a arte havia mudado de alguma forma.
Você foi diretor artístico do Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro. Como foi essa troca com outras gerações?
Foi uma experiência muito rica. Eu era muito novo quando comecei a frequentar aquele local. Aos 13, 14 anos já ia lá porque meu tio (o ator Stepan Nercessian) trabalhava lá. Meu tio me chamou para me apresentar com teatro infantil e depois para ser diretor lá. Mas não tenho essa de me sentir bonzinho. É uma coisa que me fez bem, de que eu gosto e que me satisfaz. Parece clichê, mas é verdade: eu ganhava mais do que dava. Aprendi demais com histórias incríveis e passei a lidar com a fama que a carreira pode trazer de uma maneira diferente. Eu me colocava no lugar deles e vi que a fama não significa nada na nossa vida.
Ser sobrinho do Stepan Nercessian te ajudou na carreira. Ou atrapalhou pela cobrança ser maior?
Hoje somos companheiros de trabalho, além de parentes. Mas, há algum tempo, eu era um ator estreante e ele já era um cara consagrado. Nessa época eu não gostava muito de ajuda (risos). Queria conquistar as coisas pelo meu próprio esforço. Hoje vejo as coisas de um outro modo. Mas ele dava o jeito dele. Me ensinava a pescar e não me dava o peixe. A entrada no Retiro foi um divisor de águas na minha vida e veio por ele.
No cinema, com Canastra suja, você vai ser coprodutor, além de ator. Como foi essa transição?
O Caio Sóh (diretor do filme) tem o costume de fazer filmes com produtores associados. Éramos como uma cooperativa, fazendo um filme de amigos. Eu já fazia parte da rede de contatos dele e ele me convidou. Fiquei muito feliz. É um trabalho muito bonito que me deu os primeiros prêmios no cinema. O filme mostra a relação de um pai e um filho que se amam, mas não conseguem conversar. Consegui mostrar meu amadurecimento como ator nesse filme, o que foi muito bom.
Você fez mais produções curtas, como seriados e participações especiais, do que novelas em tevê. É uma opção?
Não. Aconteceu. Depois de Malhação, eu fiz muito cinema. Acho que fiquei visto como um ator de cinema. Tanto que fiz As brasileiras e As cariocas, que são produções de tevê, mas da turma de cinema. Mas isso não me incomodou. Achava que era o momento de fazer algo maior na tevê quando pintaram Justiça e o Amaro. Até recusei o papel em um filme para fazer a novela. Está valendo a pena.