Em entrevista ao Próximo Capítulo, o ator português falou sobre a boa repercussão na novela de Walcyr Carrasco e também da internacionalização da carreira
O português Pedro Carvalho estreou na televisão brasileira em 2016 como protagonista do folhetim Escrava mãe, da Record. Com uma longa carreira em Portugal, ele chamou atenção da equipe de elencos da emissora no Brasil e garantiu o primeiro passo para internacionalização da carreira, que se firma a cada ano. “Tem sido assim, um bate e volta, um vai e vem, uma ponte área entre Brasil e Portugal. Quero firmar minha carreira aqui, como firmei lá. Esse é o objetivo principal agora”, revela.
Com a escalação para viver o chef Abel em A dona do pedaço, Pedro Carvalho chega à terceira novela brasileira. Antes, ele esteve em O outro lado do paraíso, entre 2017 e 2018. O personagem é diferente da maioria dos papéis de Carvalho em Portugal. Lá, ele está acostumado a viver mocinhos. Aqui tem tido espaço para se enveredar na comédia, graças ao papel da trama de Walcyr Carrasco. “Tentei criar um personagem cômico, porque eu gosto muito de fazer comédia e isso sai completamente da minha zona de conforto”, conta.
Ao mesmo tempo em que integra o núcleo cômico, Abel faz parte de uma narrativa que abre debate na novela. O cozinheiro vive um relacionamento com Britney, personagem trans vivida pela atriz também transgênero Glamour Garcia. “São personagens que passam uma mensagem forte. O que mais me agrada é abordar um assunto pesado, que traz polêmicas, de uma forma leve e em comédia. A gente se diverte, mas fala sério. Acho que isso é mais fácil de entrar na cabeça das pessoas. Tenho me divertido muito fazendo, mas sempre com consciência, porque a gente sabe que está rindo, mas falando de coisas sérias”, analisa.
A partir de segunda-feira (15/7), Pedro Carvalho poderá ser visto em outra novela. É que a Band estreia a produção portuguesa Ouro verde, às 20h20, que o ator gravou em 2017 em Portugal. Na trama, ele vive o personagem Tomás Ferreira de Fonseca, o herdeiro da empresa Ouro verde, um dos centros da narrativa. Muito em breve, o português poderá ser visto em outra produção, a série portuguesa Terra nova, ainda sem previsão de lançamento.
Entrevista / Pedro Carvalho
Essa é a sua terceira novela no Brasil. Como se deu essa sua inserção no mercado brasileiro?
Essa é a minha terceira novela, que espero de muitas aqui no Brasil. (Risos). Essa inserção no mercado brasileiro foi de uma forma muito natural, muito orgânica, por assim falar, porque em Portugal eu já gravo novela desde os 17 anos. Já gravei 13 novelas lá. Já fiz muito cinema, teatro… A gente tem uma forma de fazer tevê muito parecida com a do Brasil. Comecei lá na nossa Malhação, que tem outro nome, chama Morangos com açúcar. Fiz o protagonista da temporada quatro, e, na TVI, que é a maior emissora e é muito parecida com a TV Globo. Fechei contrato com a emissora e fui emendando uma novela em outra. Em Portugal já tenho uma carreira e, nesse âmbito da tevê, já sou um rosto bem conhecido. Fiz vários protagonistas. Em 2015, eu tinha terminado de fazer uma novela das 21h lá e aconteceu que foi um ano que de fato correu muito bem. Depois disso, eu ganhei dois anos consecutivos o prêmio de melhor ator de tevê lá. Acho que tudo isso chamou muita atenção, porque aqui no Brasil a Record estava procurando um galã português para fazer a novela Escrava mãe, que é uma novela de época que conta o que acontece antes da história da Escrava Isaura, que é um português que se apaixona por uma escrava no Brasil. Eles acabaram vendo meu material e acabaram decidindo por mim. Tem sido assim, um bate e volta, um vai e vem, uma ponte área entre Brasil e Portugal. Quero firmar minha carreira aqui, como firmei lá. Esse é o objetivo principal agora.
Como você se preparou para viver o Abel?
Tenho feito vários workshops de confeitaria. Aliás, a Globo deu pra gente um workshop bastante intensivo de confeitaria. A gente fez vivência em fábrica. Depois tentei criar um personagem cômico porque eu gosto muito de fazer comédia e sai completamente da minha zona de conforto. Ele é muito desbocada, mas, principalmente, ele tem muito bom coração. Tentei criar esse personagem assim, dessa forma, e acho que deu certo, porque o público está gostando bastante e estou me divertindo muito.
Seu personagem manda bem na cozinha. Você também? O que acha que tem comum com Abel?
O Abel manda muito bem na cozinha e não é só na confeitaria, vocês vão perceber isso mais pra frente. (Risos). Eu gosto de cozinhar, inclusive, lancei um livro de receitas em Portugal, chamado Sopas para Síria. Na verdade, o que eu fiz, foi aproveitar o fato de ser um rosto conhecido de Portugal. Eu reuni vários chefs de cozinha, que já ganharam ou participaram do Masterchef, e conjuntamente com a Barbara Abdeni Massad, que é chef de cozinha e fotógrafa de guerra, criamos um livro com várias fotografias da Síria e convidamos cada um desses chefs para elaborar uma receita gourmet de uma sopa. O fato de ser sopa é porque é uma metáfora, porque tem vários ingredientes quentes, de aquecer a alma. A gente queria passar essa harmonia, a união dos povos, por tudo que tem passado na Síria. Compilamos esse livro com as fotografias e as receitas de cada chefs. 80% da verba do livro foram revertidos a favor dos refugiados da Síria. Então eu sempre tive um gosto pela cozinha. Acho que tenho esse gosto e cozinhar me relaxa também, é quase pra mim uma meditação.
O seu personagem de certa forma faz parte de uma narrativa bem interessante que aborda o relacionamento com a Britney. Você acha que a novela pode ajudar a diminuir o preconceito contra as pessoas trans?
Acho que a nossa missão como ator é desmistificar coisas que não têm mistério nenhum e que não têm que ser complexas, porque somos todos diferentes, mas somos, na verdade, todos iguais. Tenho muito orgulho e gosto muito de contar uma história e, talvez, conseguir fazer as pessoas verem as coisas de uma outra forma. Adoraria conseguir acabar com o preconceito, espero ser uma gota no oceano para que as pessoas possam pensar e refletir acerca desse assunto. A problemática é o preconceito. Isso sim é crime, é doença, é deformação. O Walcyr tem sido muito inteligente em escrever algo que é complexo de uma forma muito leve, porque acho que é mais fácil de entrar na cabeça das pessoas. Espero que a gente esteja caminhando para um mundo que o preconceito seja crime mesmo, que seja punido por lei. E, principalmente, que as gerações mais novas consigam ver as coisas de outra forma. Acho que está caminhando para isso, felizmente. É de amor que a gente está falando. Toda forma de amor é válida. Fosse um mundo mais cheio de amor, que a gente estaria bem. Espero poder passar essa mensagem com meu personagem ingênuo, doce, bronco. Ele vai ter situações que não vai ser tão agradáveis, mas isso faz parte da construção da história.
Essa interação entre você e a Glamour Garcia tem sido bastante elogiada. Como tem sido dividir a cena com ela e abordar de forma leve uma temática que pode ser pesada?
Tem sido ótima essa repercussão, realmente confesso que não esperava, porque os nossos personagens só agora começaram a crescer na trama. São dois personagens muito marcantes e estou muito feliz. Adoro gravar com a Glamour. Ela é muito talentosa, a gente se dá muito bem dentro e fora do set. A gente troca muito e sabe que tem uma responsabilidade muito grande. São personagens que passam uma mensagem forte. O que mais me agrada é abordar um assunto pesado, que traz polêmicas, de uma forma leve e em comédia. A gente se diverte, mas fala sério. Acho que isso é mais fácil de entrar na cabeça das pessoas. Tenho me divertido muito fazendo, mas sempre com consciência, porque a gente sabe que está rindo, mas falando de coisas sérias.
A dramaturgia brasileira já tem alguns atores portugueses firmados. Você pretende seguir esse caminho? Continuar sua carreira por aqui?
É verdade, conheço todos eles. Somos todos amigos. O Ricardo Pereira, o Paulo Rocha e agora eu, que sou o mais novinho. Pretendo sim. Como falei, em Portugal, tenho uma carreira que comecei desde cedo, tenho muita vontade de firmar minha carreira aqui. Por isso mesmo estou fazendo aula de fono para falar o português correto. Espero em breve poder fazer um português do Brasil. Esse é o objetivo, firmar mais a minha carreira aqui, porque estou muito apaixonado pelo Brasil. Me sinto completamente em casa. Pra mim é um desejo que vai se tornar realidade se Deus quiser.
No ano passado você gravou uma série em Portugal. O que pode contar sobre ela e sobre a sua participação na trama?
Terminei O outro lado do paraíso e fui correndo para gravar essa série Terra nova, que é do cineasta Joaquim Leitão, com quem eu sempre tive muita vontade de trabalhar. É uma série de época que se passa nos anos 1930, que foi uma época muito conturbada para Portugal e muito importante porque estava passando um momento de ditadura. São quatro amigos — eu sou um deles — que lutam por tentar implementar os ideais da democracia no país. Se chama Terra nova porque acontece em paralelo de um navio de pescadores que têm uma aventura conturbada e as famílias ficaram em terra. A série conta a história dessas famílias. O meu personagem é o mais radical de todos. Ele se chama Nunes e não tem medo. Ele faz tudo pelo amor à pátria. Vai ser preso, vai sofrer perseguição política. É bem interessante e bem físico. Gostei muito de fazer. Ela vai ao ar esse ano.