Passada a primeira semana da série Onde nascem os fortes, o público ainda não sabe muito sobre a trama principal da atração: a busca por Nonato (Marco Pigossi). Isso porque falta agilidade ali, o que pode ser um perigo ー o público de hoje está acostumado ao ritmo de seriados estrangeiros e de muitos brasileiros, muito diferente do apresentado por Onde nascem os fortes até aqui, que mais se assemelha ao de novelas.
Maria (Alice Wegmann) e Cássia (Patrícia Pillar) demoraram quatro capítulos para realmente agir em busca do irmão gêmeo da primeira e filho da segunda. E só nesta semana é que devem realmente se descabelar e fazer o que o seriado promete entregar desde o início: uma jovem fazendo o que for preciso (matando até) para achar o irmão e uma mãe que confia na Justiça para encontrar o garoto-problema.
A pasmaceira da primeira semana só não foi total porque as tramas paralelas movimentaram Sertão, a cidade fictícia onde os autores Sérgio Goldenberg e George Moura ambientaram a ação. Especialmente a de Rosinete (Debora Bloch). A esposa do todo-poderoso Pedro Gouveia (Alexandre Nero) teve lindas cenas líricas quando sai para correr e aproveita para pedir a Deus ajuda para achar a cura para a doença da filha, Aurora (Lara Tremouroux).
Ainda à procura do bem-estar da menina, Rosinete busca ajuda de Samir (Irandhir Santos) no Lajedo dos Anjos e um clima de tensão deixa o público mais curioso em saber o que tem entre eles dois, do que em descobrir o paradeiro de Nonato. Rosinete, que parece ser uma caixinha de surpresas, ainda demonstrou ter um passado nebuloso ao lado do primo Ramiro (Fábio Assunção).
Ramiro e Pedro representam outra questão que permeou a busca por Nonato: a disputa pelo poder em Sertão. Um é juiz e representa a lei ー mesmo que, para desbancar o rival precise descumpri-la ー e o outro é empresário da maior fábrica de bentonita da cidade e aposta no medo que as pessoas têm dele para seduzir a todos.
O sertão trazido em Onde nascem os fortes não tem nada daquele sofrido e escuro que estamos acostumados a ver na teledramaturgia. Ele é rico ー e não apenas financeiramente: em cores, em modernidade. O sertão do diretor José Luiz Villamarim é moderno ー na tecnologia de Rosinete correndo toda equipada e nas palavras feministas de Maria ー e isso fala bastante em Onde nascem os fortes.
Ficou com gostinho de quero mais a participação de Ramirinho (Jesuíta Barbosa). Na verdade, quem chamou a atenção mesmo foi Shakira do Sertão, drag queen que ele interpreta na noite de Sertão. Logo no primeiro capítulo, Maria e Nonato se encantam com uma apresentação dele. Mas foi na quinta-feira (26/4) que Jesuíta esbanjou talento numa cena em que se maquiava no quarto quando quase foi surpreendido pelo pai. Apresentou a trama que promete fazer barulho.
A cena de Ramirinho abre espaço para um dos maiores destaques da primeira semana de Onde nascem os fortes: a trilha sonora. Só nessa passagem o próprio Jesuíta solta a voz em belíssimas versões de O amor e o poder e de Mal necessário. Além disso, teve Fagner, Caetano Veloso, Naiara Azevedo, Sidney Magal, Gal Costa e Elton John ー tudo isso no devido lugar.
A atuação de Jesuíta Barbosa é delicada, na dose certa. Assim como estão muito bem Alice Wegmann, Debora Bloch e Irandhir Santos. Mas, até agora, as melhores performances são de Alexandre Nero, que brilha como Pedro Gouveia. Patrícia Pillar, Fábio Assunção e Gabriel Leone (Hermano, filho de Pedro e Rosinete) tiveram boas cenas, mas não corresponderam. Experientes e talentosos, têm tudo para virar o jogo. Assim como Onde nascem os fortes. Afinal, o trio autores e diretor já mostrou sintonia em trabalhos excelentes, como O rebu e O canto da sereia.
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