Nova estreia da Netflix, Wandinha virou hit mundial exatamente por saber se afastar de A Família Addams
O mais novo hit do momento no mundo das séries tem nome e sobrenome: Wandinha Addams (Jenna Ortega) . A icônica personagem dos filmes da década de 1990 — ou da série de 1964 (criada pela mente de Charles Addams, ainda em um quadrinho de 1930) ganhou uma nova roupagem, agora na Netflix. E, se no passado, a personagem ficava restrita ao local de coadjuvante, em Wandinha a jovem de 15 anos se torna a grande protagonista.
A série começa com Wandinha tendo “problemas” com outros colegas em uma escola “normal”. Logo, Mortícia (Catherine Zeta-Jones) e Gomez (Luis Guzmán) decidem que Wandinha deve estudar na escola Never More, local que recebe jovens “não comuns”. Na academia (que deveria ser de paz e aprendizado), Wandinha encontra uma série de assassinatos — e adivinhem só? Decide investigá-los.
No elenco de apoio, o telespectador acompanha uma conjunção e estrutura narrativa muito similar ao de qualquer outra série teen (especialmente da Netflix). Enid (Emma Myers) é a companheira de quarto de Wandinha. Ela é o oposto da herdeira Addams em relação à personalidade, mas logo se torna uma amiga fiel.
Como a “rival” de Wandinha, temos Bianca (Joy Sunday), a garota popular da Never More. A princípio as duas se estranham, mas logo se unem pelo bem maior da escola. Como não poderia deixar de ser em uma série teen — sim, Wandinha é acima de tudo uma série teen —, Wandinha está em um triângulo amoroso entre Tyler (Hunter Doohan) e Xavier (Percy Hynes White). É difícil falar de ambos sem um grande spoiler, mas é possível pontuar que os dois têm um bom lugar na narrativa.
O grande tropeço de Wandinha no núcleo dos coadjuvantes é exatamente nos momentos em que tenta “honrar” as raízes da Família Addams. A aparição tanto de Gomez quanto de Mortícia são dispensáveis (assim como a participação do Tio Faster) e dão uma incômoda sensação de encher linguiça mais do que de fato empreender alguma construção na história.
Pontos positivos
A nova Wandinha logrou sucesso entre o público — a primeira temporada da produção, que tem oito episódios, quebrou o recorde de “série mais vista em língua inglesa durante uma semana” que era de Stranger things. Foram 341,2 milhões de horas contra 335,01 — graças a elementos desenvolvidos por si própria, do que por características da Família Addams original.
Na Netflix, Wandinha foi construída pela mente de Tim Burton, cineasta por trás de outros sucessos do cinema (como Edward — mãos de tesoura e A noiva-cadáver). Burton também é responsável pela direção dos quatro primeiros episódios. Ao longo da carreira, o cineasta conseguiu fama pela estética “neo-gótica” e “tragicomédia” que implantou nas telas e são exatamente essas características que se destacam em Wandinha de forma positiva.
O humor ácido da produção está muito bem escrito e se encaixa como uma luva na atuação brilhante de Jenna Ortega. A atriz é, definitivamente, o grande trunfo da produção. Cada movimento, cada palavra e cada olhar são a composição quase perfeita de uma Wednesday melhor do que Charles Addams poderia imaginar.
Em síntese, Wandinha nem precisava da Família Addams para se consagrar. Bastava a estética singular de Tim Burton e o talento desmedido de Jenna Ortega para ser o novo hit que a Netflix tanto precisava.