O outro lado do paraíso não trata alcoolismo com seriedade

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O alcoolismo é um tema recorrente na dramaturgia. Em O outro lado do paraíso, autor Walcyr Carrasco erra ao não levar o tema a sério.

A última segunda-feira foi especial para a novela O outro lado do paraíso, o que não é necessariamente positivo. O mesmo capítulo que trouxe o certeiro casamento de Josafá (Lima Duarte) e Mercedes (Fernanda Montenegro) tratou do alcoolismo de Beth (Glória Pires) sem qualquer brilho, beirando a irresponsabilidade.

A personagem de Glória Pires queria salvar Adriana (Julia Dalavia), doando a ela um órgão, mas, com o fígado comprometido pelo alcoolismo, ela não pôde ajudar a filha. Desesperada, Beth quer voltar a beber ー ela estava abstêmia desde quando decidiu fazer o transplante ー a qualquer custo, mas é impedida por Clara (Bianca Bin) e Patrick (Thiago Fragoso). Aí começa a derrocada do autor Walcyr Carrasco.

Como uma menina mimada, Beth chora, esperneia, joga as garrafas de vodca na parede. Enfim, se porta como a doente que é ー alcoolismo precisa ser visto como doença pela sociedade. Mas não é tratada como tal. Clara e Patrick e os outros personagens que estão perto dela fazem no máximo transferir dinheiro para que Beth e Renan (Marcello Novaes) abram uma confecção de vestidos de festas. Nada de clínica de reabilitação ou reuniões do AA.

Crédito: Globo/Raquel Cunha. O outro lado do paraíso peca ao não tratar o alcoolismo com seriedadeCrédito: Globo/Raquel Cunha. O outro lado do paraíso peca ao não tratar o alcoolismo com seriedade
Crédito: Globo/Raquel Cunha. O outro lado do paraíso peca ao não tratar o alcoolismo com seriedade

No capítulo seguinte, o calvário de Beth continua ー e o do público também. Em cenas que beiraram o patético, ela vai atrás de álcool de cozinha (em gel mesmo) ou de perfume para saciar o desejo de beber. Não que isso não aconteça na vida real e não é que as pessoas que chegam a esse ponto sejam patéticas. Ruim foi a cena e o frágil texto de Walcyr.

Não é de hoje que os alcoólatras povoam nossas novelas. E foram muitas as vezes que os personagens prestaram um serviço incrível à sociedade, como a professora Santana (Vera Holtz, soberba em Mulheres apaixonadas), o aposentado Orestes (Paulo José, em Por amor) ou clássico dos clássicos a irrepreensível Heleninha Roitman, um dos melhores papéis de Renata Sorrah na tevê, em Vale tudo.

Nos três casos, em medidas e momentos diferentes, o assunto era tratado com a seriedade e com a profundidade merecida. Eram tons, autores, situações distintos. Eles tinham em comum a qualidade, item que falta em O outro lado do paraíso. Já disse e repito: Glória Pires merecia ser mais bem tratada na Globo.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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