Há cinco anos, quando a HBO estreou o Greg news, late show comandado por Gregório Duviver, o humorista não achava que a ideia poderia durar tanto. Era necessário coragem para uma emissora deixar ir ao ar a acidez e a lucidez de Duviver. “É muito difícil um projeto como esse, contundente, explícito, ir para frente numa emissora brasileira. Não conheço outro”, afirma o apresentador.
O Greg news vingou e chega nesta sexta-feira (9/4), às 23h, à quinta temporada. Se na temporada passada a casa de Gregório foi transformada num estúdio, a opção para este ano foi inverter: o estúdio é que reproduz a casa do apresentador. “É mais inteligente, sabe? Aqui em casa são três crianças pequenas. A casa é uma creche. Ficava mais difícil”, comenta Gregório, em entrevista ao Próximo Capítulo. “Essa opção acabou sendo mais segura também”, completa.
O formato só não permite que a mãe de Gregório, a cantora Olívia Byington, faça as vezes de plateia, como na temporada passada, o que é uma pena, pois a risada dela muitas vezes simbolizou a de quem estava em casa.
“Minha mãe não pôde estar na gravação porque ainda não foi vacinada. Eu sinto falta da plateia. Ela é a razão maior da comédia. A gente se pauta pela risada da plateia”, afirma Gregório, que conta com o aval de uma equipe de mais nove pessoas e da irmã, que faz maquiagem, cabelo, filma… “mas ri para dentro da máscara”, brinca Gregório.
Apesar de lamentar a falta de plateia, Gregório sabe da importância de fazer o programa isoladamente: “Ano passado, em outubro, achávamos que essa temporada teria uma plateia espaçada. Quando imaginaríamos que, em abril, estaríamos nessa situação? Pensamos em cancelar, mas é importante que a gente faça. Até para ser um documento de como (a pandemia) não estava melhor. Mais tarde, vamos ter orgulho de ter feito um programa com a cara do nosso tempo.”
O roteiro do Greg news é algo vivo, o que entra na reunião de roteiristas, ganha novos formatos nas mão de jornalistas e humoristas até chegar à redação final do próprio Gregório Duvivier e ao “gravando”. Por isso é difícil apontar desde já o que estará no programa.
Mas alguns assuntos não poderão ficar de fora. “Vacina vai ser a grande palavra desta temporada”, aposta Gregório. Já na estreia o tema será esse. “Mas não vamos falar dos números e, sim, do que está por trás da demora na vacinação no Brasil. Essa demora não é fruto de um improviso, é um descontrole intencional. O momento é fruto de um projeto do Bolsonaro, que acreditava na imunidade de rebanho e abraçou uma teoria refutada por toda a comunidade científica”, afirma Duviver, mostrando que a verve crítica (ainda bem) continuará dando o tom do Greg news.
O tom também será dado pelo humor, claro. “O humor é a grande tecnologia do brasileiro. Sempre tivemos um humor de ponta”, afirma o apresentador, citando ícones como Nelson Rodrigues, Sérgio Porto, Millôr Fernandes e Machado de Assis, que tinha “um humor muito politizado”.
Para Gregório, a comédia é a arma dos mais fracos contra os mais fortes, a arma dos vencidos. “Não tem palavra melhor para definir o brasileiro hoje do que vencidos. A gente foi vencido nas eleições, na pandemia”, explica o humorista, lembrando que essa arma “é muito forte” e pode ser a salvação de muita gente.
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