Por Patrick Selvatti
A minissérie Sex appeal completou 30 anos de sua estreia e ainda causa frisson. Tanto entre os que assistiram a exibição original na Globo, em 1993, como também os que conheceram a obra por meio do catálogo do Globoplay.
A grande peculiaridade da produção, escrita por Antônio Calmon — é o fato de ter marcado o debut de atrizes consagradas como Luana Piovani, Camila Pitanga, Carolina Dieckmann e Danielle Winits, que interpretam as protagonistas — jovens modelos que participam de um concurso nacional de beleza. E dos atores Nico Puig e Felipe Folgosi, que fizeram muito sucesso na década, especialmente porque, dois meses depois, emendaram como os destaques jovens da novela do mesmo autor: Olho no olho, outra relíquia dos anos 1990 que desperta curiosidade.
“A sensação de rever o trabalho sempre é nostálgica. Um pouco autocrítico, mas levando-se em consideração que eu era um garoto com menos de 20 anos, e hoje eu tenho 50. Eu tentei fazer o meu melhor”, disse Nico Puig, em entrevista exclusiva ao Próximo Capítulo.
O ator, que hoje aposentou as chuteiras — “por achar que assim seria pertinente e porque também tinha muitas outras coisas que já almejava e que tinha que ir em busca de outros sonhos também” — faz uma reflexão sobre o período em que foi alçado como um galã teen. “Óbvio que isso me envaidecia, mas também me preocupava porque, sim, já me questionava em relação à minha vida pessoal e como eu iria contornar isso junto aquelas pessoas, ainda mais se tratando dos anos 90s”, comenta Nico. Ele se refere à sua homossexualidade, que, à época, não era assumida.
“Era um assunto muito delicado, como ainda hoje é. Ficava muito apreensivo. Eu queria poder viver plenamente, amar e me sentir amado, mas também queria poder trabalhar e sem estar com aquele fantasma de, em algum momento, a imprensa poder noticiar uma coisa que era muito particular minha e que eu ainda nem tinha resolvido pra mim, junto aos meus amigos e familiares. Era um misto de satisfação com apreensão”, desabafa ele, que é casado com o produtor Jeff Lattari, com quem está há 27 anos. O romance iniciou quando Nico estava no elenco das primeiras temporadas de Malhação (1995/96), ainda no auge do rótulo de sex symbol, mas só foi revelado publicamente 20 anos depois.
Em 1999, Nico Puig recebeu o convite para posar nu para a revista G Magazine, causando um grande frisson na mídia. De acordo com o intérprete do pugilista Tony de Sex appeal, a afirmativa ao chamado para exibir, sem a menor censura, os dotes sexuais — elogiadíssimos, por sinal — foi uma prévia para assumir quem realmente era.
“Eu estava me programando pra fazer uma viagem, junto com o Jeff, para ficar pelo menos dois anos em São Francisco. Logo depois do ensaio, antes mesmo da revista ir para as bancas, eu já estava lá e trabalhando com coisas que não tinham nenhuma familiaridade com o que eu fazia aqui no Brasil. Muito pelo contrário, fui trabalhar de subemprego, fui estudar, fui tentar enxergar um outro lado da minha vida e tentar me sentir um pouco mais à vontade”, explica ele, que, atualmente, lidera uma agência de eventos corporativos, em sociedade com o marido, e trabalha com reciclagem de móveis, peças de vestuário e outros objetos, além de estar cadastrado como anfitrião na plataforma Airbnb, recebendo hóspedes em sua residência, na região de Santa Cecília, na capital paulista.
Entre as vontades, estava poder expressar um pouco mais o que, até então, estava represado. “Poder andar de mãos dadas, abraçar, gritar para o mundo que eu estava amando e me sentia amado, sem ficar com medo de, em algum momento, ser pressionado, seja pela imprensa ou por amigos ou familiares que pudessem, de repente, não digerir de imediato aquela informação, que era nova pra mim também”, justifica.
Repleto de vilões no currículo, como o demoníaco Fred de Olho no olho e o marginal Raul de Malhação, Nico Puig comenta que até mesmo a pose de bad boy que ostentava naquela época era uma forma de defesa. “Na vida real, eu tinha uma casca. Uma forma de me defender e de tentar convencer os outros de que eu era mais forte, mais resiliente do que de fato era. Eu sempre fui bastante sensível e, naquele momento, eu entendia que a melhor forma que eu tinha pra poder me apresentar sem poder criar nenhum grande conflito, principalmente naquele início de trabalho, era eu me esconder um pouco, atrás de uma couraça”, avalia o ator paulistano.
Ele define o Nico daqueles tempos como uma personagem que assumiu, a fim de não levantar nenhuma suspeita e, de certa forma, também se diferenciar da grande maioria. “Era uma época em que todos os garotos queriam ser bonzinhos, plenos, e eu acho que eu estava numa levada mais de querer parecer ser um pouquinho mais bad, para, justamente, poder driblar as pessoas nas dúvidas que tinham em relação a mim e à minha realidade de vida”, conclui.
O último trabalho de Nico Puig na televisão foi no reality show Aprendiz Celebridade, apresentado por Roberto Justus e exibido pela Record em 2014. Na ocasião, ele se juntou a outros famosos na disputa e foi um dos primeiros demitidos pelo implacável apresentador. “Foi uma uma coisa inédita na minha vida. Sempre acompanhei, mas nunca me interessei em participar”, conta ele, que recusou convites anteriores para fazer parte do elenco de Casa dos artistas (SBT) e A fazenda (Record).
“Eu acabava declinando, falando que eu não queria dividir quarto, nem banheiro, porque eu não teria competência para isso. E daí o convite feito pela produção do Aprendiz foi justamente com essa ressalva. ‘Nico, você vai ter um banheiro só pra você, um quarto só pra você, em um hotel bacana e tudo mais’. E, por conta disso, também facilitou a minha decisão em aceitar”, pontua.
Segundo o ator, que é escorpiano, o Aprendiz Celebridade foi uma ponte para uma grande descoberta. “Percebi lá que sou muito mais competitivo do que eu imaginava e muito menos leve e divertido do que eu gostaria que fosse. Escutei uma frase que me acalentou, quando o Roberto (Justus) me demitiu: ele disse que eu seria uma pessoa boa demais para ser líder, e acho que ele acertou. De fato, não consigo ter essa postura de liderança tão incisiva, tão seca, tão dura, como para alguns, e que se faz necessário nesse mercado”, frisa Nico, reforçando que não aceitaria participar de nenhum outro reality show.
Sobre a profissão, embora tenha feito a última novela em 2011, ele nega que seja um ex-ator. “Apesar de não trabalhar mais como ator, eu acho que qualquer pessoa que tenha trabalhado nessa área nunca deixa de ser”, argumenta. De acordo com Nico, o artista, muitas vezes, se afasta dos holofotes por algum motivo particular. “De repente, vai buscar outros caminhos que sejam paralelos ou completamente distintos. No fundo, a gente sempre se sente uma pessoa apta, um bom profissional para poder continuar realizando aquilo, caso seja a vontade, e, enfim, mediante também a determinados convites, que a gente vai ponderar, pensar e avaliar se valem a pena ou não. Mas eu me considero um ator, sim, e não mais um atormentado, talvez”, finaliza.
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