Segunda temporada de Segunda chamada parte do universo da educação pública para tocar em temas que vão da homofobia à liberdade de expressão
“Educar é sobre resistir, sobre acreditar que as coisas podem mudar.” A primeira de muitas duras lições da segunda temporada da série Segunda chamada vem logo no episódio de estreia, em reflexão da professora Lúcia (Débora Bloch) com ela mesma. O seriado, em seis episódios, vem mais forte do que a primeira temporada, mas, infelizmente, saiu da TV aberta justamente quando toca mais fundo em feridas abertas da nossa sociedade. A obra pode ser vista apenas no Globoplay.
Segunda chamada continua falando sobre ensino público, em específico do ensino noturno para adultos. O texto de Carla Faour e Julia Spadaccini é de uma crueza corajosa e necessária. Desta vez, os professores da Escola Carolina Maria de Jesus precisam evitar que o colégio feche por falta de alunos, deixando os que estão matriculados sem estudo.
Essa é apenas a primeira luta de Lúcia, Eliete (Thalita Carauta), Sônia (Hermila Guedes) e Marco André (Silvio Guindane). A série aproveita dramas possíveis de serem encontrados em qualquer classe de escola pública brasileira para falar sobre homofobia, alcoolismo, acessibilidade, violência contra a mulher, racismo, liberdade de expressão e Alzheimer. Parece muito, mas há espaço para todos eles.
Movidos por sonhos, os personagens principais — além dos professores, tem o diretor Jaci (Pedro Gorgulho), que assume um estranho posto de antagonista na temporada — vão mostrando que é possível transformar vidas pela educação. A trama da aluna Néia (Rejane Faria), que vende livros sem ser alfabetizada e adora viajar nas histórias, é emocionante. A dificuldade de aceitação do indígena Anuiá (Adanilo) também é de arrancar lágrimas. Aliás, o lenço é companheiro inseparável para quem assiste à Segunda chamada.
Dois personagens da primeira temporada estão de volta. Wallace (Elzio Vieira) luta contra as dificuldades de um cadeirante e Expedita (Vilma Melo) se matricula após os filhos Gero e Cleiton estudarem na Carolina Maria de Jesus na primeira temporada. Vilma Melo cresce a cada cena, meio que nos preparando para o auge, quando Expedita descobre que é mãe biológica de Marco André.
Mas gigante mesmo é Moacyr Franco, no papel de Seu Gilsinho, um idoso que quer se formar antes que o Alzheimer tome conta da mente dele. Curioso como o ator é mal aproveitado em nossa teledramaturgia. Como é forte e delicada a construção de Moacyr para o personagem! Forte e delicada como é toda a temporada de Segunda chamada. O telespectador merecia essa série na TV aberta.