“Não saímos do patriarcado”, avalia Bárbara França, de Reis
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No ar na oitava temporada da produção bíblica, na Record, a atriz mineira de 30 anos engata sua quinta novela de época
Por Patrick Selvatti
A julgar pela aparência física, a atriz brasileira Bárbara França poderia muito bem estar no lugar da australiana Margot Robbie interpretando o ícone Barbie nos cinemas. Entretanto, ainda que adote na vida real um estilo mais próximo da famosa boneca, a escorpiana solar, ligada à moda e cheia de estilo, optou por trilhar uma estrada diferente na carreira artística: tornou-se uma especialista em novelas de época. De oito trabalhos em folhetins, cinco se passaram em outros tempos.
“Eu acho incrível mergulhar nesse universo. Sair da nossa realidade, dos tempos modernos e embarcar… Eu acho fantástico. Os cenários são lindos, a composição no geral, as roupas, os acessórios, os textos, é um um estudo muito específico porque o vocabulário é outro, você tem que ficar super consciente. Não existia gíria, não existia tecnologia…”, afirma a atriz de 30 anos, que acabou de estrear como a Abisague da nova temporada de Reis, da RecordTV.
Na Globo, Bárbara interpretou uma moça dos anos 20, em Tempo de amar, e uma VJ descolada inspirada na MTV, em Verão 90. Nessas duas produções, a atriz de 30 anos encontra semelhanças com a imagem retratada por Barbie. “Em Tempo de amar, que foi uma novela das seis e foi a que eu mais me encantei de fazer, a minha personagem era um bibelô. Ela parecia uma bonequinha. As roupas dela, o figurino, os looks. Inclusive na época da novela foi super destaque. Tiveram várias matérias…. Já a época retratada em Verão 90, eu sou de 92, então eu estava nascendo, mas foi muito interessante. Eu fiz uma VJ, que era a época da MTV, tinha todo esse cenário musical que foi muito legal, as roupas super super diferentes, descoladas…”, compara ela.
Universo machista
Reis é o terceiro trabalho de Bárbara em uma produção bíblica. Ela atuou também em Os dez mandamentos (2015) e Gênesis (2021). “Esse universo bíblico tem muitos desafios. É um tempo mais devagar, tem silêncios, não tem essa ansiedade que eu acho que é muito característica dos dias de hoje. Essa ansiedade eu acho que remete a uma coisa muito contemporânea e na nossa novela, não”, acrescenta.
Na oitava temporada da produção atual, Bárbara interpreta uma das mulheres que vivem na periferia do universo do Rei Davi, um personagem bíblico que representa bem o universo de patriarcado marcado pela época narrada pelas escrituras sagradas. A atriz faz um paralelo com a atualidade.
“A gente ainda vive numa sociedade machista e patriarcal. Nesse ponto, eu não acredito que isso tenha mudado. Óbvio que o nível dessa desse patriarcado mudou. Na época, as mulheres não tinham voz, não tinham livre arbítrio de se expressar, de fazer as próprias escolhas, e isso a gente conquistou com os nossos direitos, mas eu acho que é muito triste ainda porque a gente vê, a gente ouve falar muito em relacionamento abusivo, lei Maria da Penha… Não é à toa que o Brasil é o quinto país no ranking que mais mata mulher por feminicídio. Fazendo um paralelo, e guardando as devidas proporções, eu acho que, ainda sim, é muito triste porque a gente não saiu desse molde patriarcal de sociedade”, reflete.
Assim como a Barbie representada nas telonas, Bárbara também traz a agenda feminista no seu discurso. Ela, entretanto, frisa que, quando se fala do movimento, a busca é pela igualdade de gênero. “Não é um movimento sexista, onde a gente busca a superioridade feminina sobre a masculina”, destaca a atriz, que, em seu dia a dia, entende a bandeira como fazer as suas próprias escolhas. “É você ter o livre arbítrio sobre a sua vida como mulher, sobre o seu corpo e se impor em situações abusivas, seja no trabalho, seja em relacionamento, seja intervindo quando alguma situação de abuso, como eu já fiz algumas vezes na minha vida”, acrescenta. “Eu acredito muito no feminismo nesse sentido: essa busca incessante, que não tem fim, pelos direitos das mulheres, porque a gente ainda vive numa numa sociedade muito machista, muito patriarcal”, pontua.
A mineira de São Lourenço destaca que existe também a questão geracional e, quando se está em família e encontra parentes que são de outras gerações, ela tenta explicar, “com muito amor, com muita educação”, que certas frases não não cabem mais ser ditas. “Eu sempre me posiciono quando escuto algo que me invada e me desrespeite como mulher. Enfim, em qualquer âmbito social, seja no trabalho, seja em relacionamento, seja dentro de casa com a família, eu acho que a gente tem que ficar passando isso para a frente até, de fato, a gente ver uma mudança concreta”, defende Bárbara, que se orgulha e fala com muito afeto de suas raízes mineiras. “Para mim, tem um lugar muito especial, apesar de eu ter sido criada no Rio de Janeiro, e ter vindo pra cá muito pequenininha, toda a minha família por parte de mãe é de Minas Gerais. São Lourenço significa a minha essência, as minhas raízes, é onde eu me sinto de verdade em casa, onde eu me reconecto”, finaliza ela, que se define como “bichinho do mato, apesar de amar a praia”.
Patrick Selvatti
Sabe noveleiro de carteirinha? A paixão começou ainda na infância, quando chorou na morte de Tancredo Neves porque a cobertura comeu um capítulo de A gata comeu. Fã de Gilberto Braga, ama Quatro por quatro e assiste até as que não gosta, só para comentar.