Natural de Brasília, ator se despede do personagem Ruan, que morre neste sábado (7/10) na novela
Patrick Selvatti
O que têm em comum Mateus Solano, Tiago Iorc e Tairone Vale? Além de artistas, os três nasceram em Brasília, mas não viveram na cidade. Ao contrário dos colegas, entretanto, Tairone, de 47 anos, passou alguns anos na capital, mas era muito criança e tem poucas lembranças. “Meu pai era militar, então tenho memórias do desfile de 7 de setembro. Mas lembro também de Ceilândia, onde a minha avó morava, e do Parque Ana Lídia. O castelinho e o foguete estão nesse meu imaginário colorido e lúdico”, revela o ator, que se despede, no capítulo deste sábado (7/10), de Terra e paixão, onde interpreta Ruan.
Na novela, o personagem é vítima de assassinato pelas mãos de Agatha (Eliane Giardini). “As pessoas já me alertavam que o Ruan iria morrer pela forma como a narrativa dele foi se construindo. Foi um choque ao ler o roteiro, mas vi que seria uma senhora cena de despedida, até porque ele acaba se destacando em um episódio marcante com a Eliane Giardini. A morte dele assinala a grande virada da vilania da Ágatha, que era vista com desvios de caráter, mas, até então, não como a vilãzona que é. É um presente essa cena pela grande responsabilidade que me foi confiada”, conta o brasiliense criado desde os 4 anos em Juiz de Fora (MG) e que atualmente reside no Rio de Janeiro.
O luto do ator se explica pela importância que esse trabalho tem em sua vida. Com um mercado instável, Tairone comemorou bastante a entrada na obra de Walcyr Carrasco. “Fiquei parado desde o início da pandemia. Fiz uma participação em Espelho da vida, em 2019, e depois fiquei completamente recluso, não tinha voltado nem para o palco. Daí quando recebi o telefonema do Fábio Zambroni [produtor de elenco], foi uma comemoração. Não era um teste, era um convite para o papel. Meu primeiro elenco fixo da novela, com nome da abertura e tudo… A série Se eu fechar os olhos agora foi a única vez, mas não tinha a repercussão de uma novela”, celebra ele, que destaca o fato de, apesar de décadas de carreira, ter se sentido um “calouro” em meio a veteranos como Tony Ramos, Glória Pires, Susana Viera e Eliane Giardini. “Todos muito generosos”, destaca.
De acordo com o intérprete, Ruan é um trabalhador que está na base da cadeia alimentar e é obrigado a tomar decisões cruciais que nem sempre são éticas ou legais. No início da novela, ficou bem claro seu grande objetivo: ele tem uma irmã, Zulmira, que está presa por ter assassinado o marido agressor em legítima defesa. Assim, o personagem é movido pela necessidade de contratar um advogado que consiga livrá-la da cadeia. “Os patrões usam disso para manipulá-lo. Ele topa tudo por dinheiro. Mas é um vilão pequeno oprimido pelos grandes”, descreve. Ao chantagear Ágatha, que foi companheira de cela de Zulmira, o sujeito é morto. “Gosto de pensar que o Ruan é um daqueles que anda torto, porém por motivos nobres”, explica.
Assim como em Terra e paixão, Tairone já esteve em outros trabalhos em que seus personagens tinham cenas importantes para a narrativa central. Na novela Segundo Sol, de 2017, interpretou o delegado Nolasco, responsável pela prisão de Laureta, vivida por Adriana Esteves. Coincidentemente, ele também deu vida ao delegado que prendia a atriz, na série Justiça, um ano antes. “Na segunda vez, ela me viu e falou: ‘Não acredito que você vai me prender de novo’…”, diverte-se.
O ator já tem novos projetos em andamento no teatro e no cinema. “Versão Demo é meu primeiro monólogo, com dramaturgia minha e direção do meu velho amigo Rodrigo Portella, cuja trama principal acompanha os acontecimentos narrados pelas escrituras sob o ponto de vista inédito do Diabo. Também estou dedicado à escrita e pré-produção de um novo espetáculo teatral de comédia, ambientado numa sessão de terapia. Este texto é baseado em uma cena curta que escrevi por volta de 2011 e vai contar com direção de Suzana Nascimento e meus colegas de Terra e paixão Valéria Barcellos e Amaury Lorenzo”, conta Tairone, que trabalha, ainda, no roteiro de um longa-metragem de forte cunho político e social, que constrói uma distopia dos tempos atuais em alguma comunidade periférica brasileira.