Ao Próximo Capítulo, a drag queen carioca fala sobre o sentimento de representar o Brasil em um dos maiores reality shows do mundo
Por Pedro Ibarra
O Brasil teve uma representante em um dos principais reality shows do planeta. O RuPaul’s Drag Race vez uma edição mundial, intitulada RuPaul’s Drag Race Global All Stars. Ou seja, entre as mais habilidosas e carismáticas drag queens estava a carioca, destaque da primeira temporada da edição brasileira do programa de televisão de sucesso internacional.
A brasileira fez parte de um grupo de 12 artistas de países distintos. Miranda estava junto de Alyssa Edwards (Estados Unidos), Athena Likis (Bélgica), Eva Le Queen (Filipinas), Gala Varo (México), Kitty Scott-Claus (Reino Unido), Kween Kong (Austrália), Nehellenia (Itália), Pytia (Canadá), Soa de Muse (França), Tessa Testicle (Suíça) e Vaidade Vain (Suécia).
Infelizmente, a drag nacional foi eliminada na segunda semana de disputa, o que não tira a importância da conquista. “É uma honra, obviamente, uma oportunidade daquelas que eu achei que não achei que poderia acontecer comigo, porque era muito distante da minha realidade enquanto uma transformista carioca”, exalta a artista.
Miranda pontua que a beleza está no fato de que ela pôde representar o país, mesmo não se sentindo reconhecida no que faz durante anos trabalhando em terras nacionais. “Depois de muito tempo da gente sendo desgastado no sentido da nossa relação nacional. Hoje ver viados, sapatões, travestis com blusas verdes e amarelas falando de drag, pra mim é praticamente uma visagem”, reflete a artista.
Mesmo eliminada, ela acredita que aprendeu na trajetória das duas edições de Drag Race que participou. “O que eu trouxe do Drag Race Brasil foi, eu tenho os meus limites e eu preciso respeitá-los”, pontua. “E quando eu fui para o Global, eu já fui muito mais ciente de qual é o meu terreno, aonde eu opero, o que eu preciso cuidar de mim, quais são as minhas limitações e, ao mesmo tempo, quais são os limites que eu quero empurrar”, completa.
Representatividade
A drag sabe que estava ali não só pelo desejo próprio de ser famosa. “Obviamente, eu sei que o fato de eu ter sido brindada com essa plataforma, também me traz uma responsabilidade, que eu assumo para mim, de falar pela minha comunidade, falar com a minha comunidade e de falar sobre aquilo que traz mudança”, analisa Miranda. “Eu não quero que o meu trabalho seja valorizado e que depois eu me sinta sozinha”, complementa.
A ideia é se utilizar da plataforma para que a Miranda Lebrão, personagem que criou para performar como drag, seja um exemplo. Afinal, ainda são poucas as profissionais da área que conseguem viver só da arte drag queen e, mesmo as que vivem, não recebem o reconhecimento artístico e monetário condizente ao esforço despendido. “Eu sei o quanto custa fazer drag, então eu não quero que o meu cachê seja justo, eu quero que o nosso cachê seja justo. Eu não quero que as minhas condições de trabalho sejam boas, eu quero que as nossas condições de trabalho sejam boas”, destaca.
A artista vê a beleza de ter uma torcida no Brasil, mas entende que o ambiente drag ainda é de resistência. “A gente é, sim, marginalizado porque somos LGBTs. Por mais que as paradas LGBTs sejam enormes e que a gente tenha patrocínios esporádicos e blá, blá, blá. No final das contas, é contra o nosso casamento que eles vão votar, é contra o nosso acesso à saúde pública no SUS e é contra a harmonização”, critica.
No final das contas, o que importa é estar fechada com aqueles que estão na mesma caminhada. O trajeto pode ser difícil e tortuoso, mas as mãos precisam estar dadas. “Não existe drag queen sem comunidade. Existe drag queen sem peruca, existe drag queen com pouca roupa, com muita roupa, com muito cabelo, pouco cabelo, mas não existe drag sem comunidade”, exalta.