Série documental Missões de vida conta história de brasileiros que encontraram propósitos dentro das profissões e dos locais onde vivem
O dia a dia de pessoas como a parteira Maria dos Prazeres e a médica Ana Claudia Quintana Arantes inspiraram a dupla de cineastas Ana Cláudia Streva e o Bruno Modolo, que criou a série documental Missões de vida, que estreou no último dia 6 no canal Cinemax e no serviço on-demand da HBO (HBO GO). Ao todo, a produção tem 10 episódios exibidos sempre às segundas, a partir de amanhã no horário de 18h55.
O episódio de estreia mostra as histórias de Maria dos Prazeres, parteira do município pernambucano de Jaboatão dos Guararapes, e de Ana Claudia Quintana Arantes, médica geriatra paulista especialista em cuidados paliativos. As personagens trabalham para mostrar que o carinho e o cuidado com os preparos do nascimento também podem ser proporcionados a quem está chegando ao fim da vida. “Maria dos Prazeres é uma parteira que tem 79 anos e já fez mais de 5 mil partos, com nenhum óbito. A história da doutora Claudia fala de morte humanizada. Quisemos criar essa narrativa intercalada ao longo dos episódios”, explica Ana Cláudia Streva em entrevista ao Correio.
O segundo episódio tem como tema “Nova chance” e acompanha Marcia Dias, fundadora da ONG Santa Fé, e Gianfranco Melillo, coordenador do Arsenal da Esperança, que trabalham diariamente no resgate de pessoas que se encontram em situações extremas.
Ao longo da temporada, o público poderá assistir a enredos que vão desde o resgate de pessoas em situação de rua e à busca por familiares desaparecidos, passando por soluções urgentes para a preservação ambiental e sobre como o esporte pode mudar a vida de jovens em contato com a criminalidade. “Em todas as áreas da nossa sociedade, encontramos histórias de ressignificação”, adianta Bruno.
Para contar essas histórias, a dupla passou por cidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Belo Horizonte e em Pernambuco. “Foi muito bom, porque a gente via as realidades bem de perto. Ir para essas outras realidades, como Jaboatão dos Guararapes, que é um lugar muito humilde, ou como Ilhéus, nos fez ter noção do dia a dia das pessoas. Essas pessoas que salvam, que trazem um impacto. Eu e Ana crescemos demais ao ter contato com essas pessoas. Elas trazem um outro olhar do mundo que a gente nem sabia que era possível”, afirma.
Inspiração e processo
“A ideia inicial veio de fazer um projeto que falasse de propósito. A gente descobriu esses personagens, que são exemplos de pessoas que sabem exatamente a sua missão no mundo, o que estão buscando aqui na Terra. Queríamos fazer um projeto que inspirasse alguma transformação social”, explica Ana sobre a inspiração para o projeto.
Para encontrar essas histórias, a dupla passou um ano e meio pesquisando o conteúdo antes de apresentar a série para a Grifa Filmes, coprodutora ao lado da Nós Filmes, que é a realizadora. Esse processo foi longo, inclusive, porque as narrativas são diferenciadas. “A gente passou muito tempo para achar os personagens, porque tem mais a ver com saber o sentido de estar no mundo. E também pensamos em um recorte específico para a série, em que, a cada episódio, haja um casamento nas histórias. São sempre duas pessoas que têm um tema em comum, apesar das missões serem diferentes”, revela Ana.
O processo como um todo teve quatro etapas, sendo três de pré-produção até a última de pós-produção. A dupla buscou diversas histórias e personagens e chegou a 50 nomes para avaliação. Depois, foi feito um filtro até chegar às 20 pessoas que integram os 10 episódios da primeira temporada. “Fomos filtrando e indo a fundo nas histórias. Fizemos essa combinação de quais missões poderiam conversar. E, por fim, fomos a campo para conviver um pouco com esses personagens e a rotina deles. Realmente foi um ano e pouco antes para ter essa produção toda organizada”, analisa Bruno Modolo.
Duas perguntas // Ana Cláudia Streva e Bruno Modolo, de Missões de vida
Missões de vida estreia num momento complicado para as pessoas em meio à crise pandêmica de coronavírus. Como vocês veem isso?
Ana Cláudia Streva: São histórias que ressignificam a vida das pessoas. Queríamos trazer a esperança de volta. Hoje estamos falando muito de resiliência e empatia. Essa série é um exemplo disso, pessoas que trabalham dessa forma. Então é um momento muito bacana de colocar essa série no ar, de certa maneira a gente pode se espelhar e se inspirar neles, mesmo nesse momento difícil.
Bruno Modolo: É um momento muito propício para a estreia dessa série. Todo mundo está se perguntando: “e agora, como vai ser?” Ter essas missões inspiradores pode mostrar para todo mundo que, dentro do seu próprio ambiente, do seu círculo, você pode achar sua missão e fazer diferença. Não foi por acaso que essa estreia ocorre neste momento.
Vocês são duas pessoas da área do audiovisual, que será impactada nessa crise. O que vocês têm pensado sobre esse cenário?
Ana Cláudia Streva: Eu acredito muito na importância do audiovisual. Não é à toa que trabalho há quase 20 anos. É porque acredito nas histórias e, acima de tudo, no poder de trazer consciência e conhecimento. Quero muito que a sociedade como um todo reconheça a importância do nosso trabalho. Tem muita coisa acontecendo. A gente está sofrendo um pouco, mas acredito que, agora, por as pessoas estarem confinadas e estarem consumindo mais o audiovisual, é um bom momento para olhar para isso e ver a importância do nosso trabalho.
Bruno Modolo: Assino embaixo!