Atriz mineira pode ser vista na segunda temporada de “Bom dia, Verônica”, na novela “Travessia” e no filme “Delicadeza”
Patrick Selvatti
Isabelle Nassar recebeu com empolgação a notícia de que a colega Tainá Muller foi premiada como Melhor Atriz Americana, em Amsterdã, por sua atuação em Bom dia, Verônica. Afinal, a atriz mineira está no elenco da segunda temporada da série, que se tornou conhecida internacionalmente. Na produção, ela interpreta Olga, um dos pilares da organização criminosa comandada pelo vilão Matias (Reynaldo Gianecchini).
“Olga é uma mulher inserida nessa organização ainda muito nova, com uma servidão cega. Mas ela fica nesse lugar entre a algoz e a vítima, o que faz ela seguir esses mandamentos, a ter essa não vida tragada de canudinho”, defende a atriz, que mergulhou nas histórias de pessoas na mesma situação. “Fui muito atrás dessas possíveis mulheres, para poder criar uma certa empatia. Assisti documentários, como o de João de Deus. Busquei esse olhar de quem não sabia que era vítima, essa necessidade de pertencimento que as levam a integrar essas quadrilhas”, explica.
Isabelle não enxerga um caminho de justificativa para os atos cruéis de Olga sem entrar no feminismo. “Ela é uma mulher branca, como eu, e nós pertencemos a lugares de privilégio ante as negras, mas toda mulher parte na sociedade com um passo atrás. A sociedade é patriarcal, mas vem mudando, com políticas de reparação, especialmente na arte”, argumenta.
A pauta feminista também assinalou a outra personagem de Isabelle Nassar: Sara, de Travessia, a amiga de Debora (Grazi Massafera) que retorna 20 anos depois para investigar o que aconteceu com o bebê que a ex-namorada de Guerra (Humberto Martins) e amante de Moretti (Rodrigo Lombardi) esperava.
“Sara não aceitava nãos e não aceitou essa história da amiga que tinha sumido. A partir do momento em que ela descobre esse abandono sofrido pela Débora, o propósito era dar voz a essas mães solos. O abandono parental masculino é uma realidade triste e dura. Evoluímos em tantas situações, mas nisso a gente não evolui. Então, em todas as cenas a gente buscava trabalhar com verdade e responsabilidade à pauta”, observa a atriz, que tem uma filha de 11 anos e se orgulha de ter construído uma sólida família ao lado do marido.
Mulheres possíveis
A dureza de Sara, aliada ao perfil físico de Isabelle, gerou na web uma certa estranheza que resultou em dúvidas sobre a possível transgeneridade da atriz. Ela, que é uma mulher cis, entretanto, revela que os questionamentos foram bem menores do que foram noticiados. “A Internet cria uma proporção que não aconteceu. Sara era uma mulher muito forte, que tinha como foco encontrar essa criança. Uma dureza, frieza e força que as pessoas não conseguiram entender porque estão acostumadas com o estereótipo de mulher com perfis mais suaves”, desabafa. Por outro lado, encara como positiva a repercussão. “Me fez pensar sobre pertencimento. A mulher pode ser o que ela quiser. E, no geral, tive uma recepção carinhosa, com muito elogio pela minha atuação”, resume.
Isabelle observa muito e se incomoda com o silêncio feminino diante das situações que a vida coloca. “A minha aparência me dá esse privilégio de interpretar essas fortalezas e mostrar às mulheres que dá para ser firme sem perder a capacidade de ser delicada”, conclui a atriz.
Delicadeza, aliás, é o nome do filme que Isabelle protagoniza e produz. De Ciça Castello, baseado no livro de Miguel Paiva, o longa teve lançamento internacional em Portugal, no FESTin (Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa) e fala da primeira geração pós-ditadura, que ainda possui resquícios do patriarcado até agora. “O feminismo sempre nos atravessa e eu o abraço nas minhas personagens”, declara ela, que também retorna com a peça Era Medeia, que fala sobre machismo e abuso de poder. “É um trabalho muito autoral”, conclui.
Recentemente, Isabelle anunciou o lançamento da exposição A quarta geração construtiva no Rio de Janeiro, com curadoria de Paulo Herkenhoff e que fica em cartaz até novembro, no Rio de Janeiro, na FGV Arte. A atriz também é pós-graduanda em filosofia contemporânea pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica), onde se dedica à pesquisa sobre o corpo e suas diversas manifestações. “Eu tenho muita curiosidade e busco esse caminho da espiritualidade, mas da forma menos religiosa possível, mais pela arte. Fui buscar respostas e encontrei mais perguntas. Mas me abriu os olhos, a minha escuta como atriz, para olhar para filósofos com compaixão, e o universo com calma. É mais uma ferramenta de trabalho, e tudo se conecta”, conclui.