Demorei mais de um mês para terminar de ler Mindhunter — O primeiro caçador de serial killers americano, de John Douglas e Mark Olshaker, livro que inspirou a série homônima, da Netflix (a qual só assisti, até agora, ao episódio de estreia, mas o blog Abacaxi de Óculos postou uma crítica que você pode ler aqui). Só ao fim do livro fui entender o motivo da minha demora.
Ao retratar como se tornou um especialista em traçar o perfil de criminosos, John Douglas despeja ao leitor uma centena de detalhes sobre crimes horrorosos, o que causa agonia, nojo e até medo. Mas não estou escrevendo nada disso para te desencorajar a ler a obra. Muito pelo contrário, recomendo demais a leitura. Ela me fez refletir muito.
No livro, John Douglas conta como se tornou no principal nome do FBI na hora de descobrir as características de um suspeito de um crime e como ajudou a agência a criar um departamento dedicado a estudar o comportamento desses criminosos. Para isso, ele cita uma série de casos em que trabalhou, alguns famosos apenas nos Estados Unidos e outros tão chocantes que ultrapassaram as barreiras do país e ficaram conhecidos no mundo.
O que mais surpreende no livro é exatamente a riqueza de detalhes com que John Douglas narra os casos em que trabalhou. O que expõe o quanto esse homem abdicou da própria vida em diversos momentos para se dedicar ao que fazia de melhor: descobrir as características de quem cometeu um crime.
E como ele fazia isso bem. Bastava saber como aconteceu o caso para traçar um perfil com média de idade, cor da pele, tipo de carro e histórico familiar e profissional do suspeito. Ao contar sobre suas técnicas, tudo faz muito sentido. E junto com Douglas, ao longo da narrativa, o leitor também vai aprendendo, aos poucos, a perceber o padrão de comportamento de certos criminosos.
O livro também levanta discussões sobre o encarceramento dos serial killers. O posicionamento de John Douglas, claro, é bem simplista e radical — o que é bastante explicado em Mindhunter — O primeiro caçador de serial killers americano. Ele defende a análise da periculosidade, em vez de questões psicológicas.
Em diversas situações achei que John Douglas (ou Mark Olshaker, que foi o responsável por reunir as ideias e transformá-las no formato narrativo do livro), estava lendo minha mente. Quando eu questionava alguns pontos da investigação de um crime, lá estava ele mostrando aquela explicação no parágrafo seguinte. Em certo momento do livro notei que não existem narrações de casos que envolvessem mulheres serial killers. Páginas depois, lá estava John Douglas falando sobre isso:
“Nossas pesquisas mostram que praticamente todos os assassinos em série vêm de históricos disfuncionais que envolvem abusos sexuais e físicos, drogas e alcoolismo ou qualquer outro problema relacionado. Mulheres também possuem esses mesmos históricos, e, na realidade, meninas estão ainda mais sujeitas a abusos do que os meninos. Então, por que tão poucas crescem e cometem os mesmos tipos de crimes que os homens? […] A única coisa que podemos afirmar por experiência e com certa autoridade é que as mulheres parecem internalizar seus estressores. Em vez de descontar nos outros, elas tendem a punir a si mesmas por meio de posturas como alcoolismo, drogas, prostituição e suicídio”
Por ter trabalhado diretamente em uma série de casos de assassinato, estupro, estrangulamento, entre outros, John Douglas diversas vezes foi questionado sobre como seria possível diminuir esse tipo de crime no mundo. Ao fim do Mindhunter, ele fala sobre isso e diz coisas bem interessantes, que divido abaixo:
“O único jeito de reduzir a criminalidade é se todos nós pararmos de aceitar e tolerar isso dentro de nossas famílias, entre nossos amigos e conhecidos. Essa é uma lição que devemos aprender de outros países com taxas muito baixas do que as nossas”
“Mas de 25 anos de observação também me provaram que criminosos são mais “criados” do que “nascidos assim”, o que significa que, em algum momento, da vida, alguém que exerceu uma influência negativa muito forte poderia ter exercido uma influência positiva muito forte. Portanto, o que acredito, de verdade, é que, além de mais dinheiro, policiamento e presídios, o que mais precisamos é de amor. Não estou sendo simplista; isso faz parte do cerne da questão”
SERVIÇO
Mindhunter — O primeiro caçador de serial killers americano
De John Douglas e Mark Olshaker. Editora Intrínseca, 383 páginas.
Mindhunter
A primeira temporada da série está disponível na Netflix. A segunda sequência foi confirmada, ainda sem data de lançamento.
Ao Próximo Capítulo, os responsáveis pela série falam sobre o fato de ter se tornado…
Emissora apresentou os principais nomes do remake da obra icônica de 1988 que será lançada…
Ao Próximo Capítulo, a drag queen carioca fala sobre o sentimento de representar o Brasil…
Como nascem os heróis tem previsão de estreia no primeiro semestre de 2025, na TV…
Sam Mendes, Daniel Brühl, Jessica Heynes, Armando Ianoucci e Jon Brown comentam sobre a nova…
Volta Priscila estreou na última quarta-feira (25/9) e mostra um novo ponto de vista sobre…