Em entrevista ao Correio, Mariana Ximenes, que estaria no ar em Nos tempos do Imperador, fala da carreira e do momento atual
Antes da pandemia, Mariana Ximenes preparava-se para dar vida à Condessa de Barral na novela Nos tempos do Imperador, trama que seria lançada no horário das 18h, substituindo o remake de Éramos seis. O folhetim é uma espécie de continuação de Novo Mundo, que acabou sendo escolhido para ir ao ar enquanto as atividades de gravações foram paralisadas na Globo por conta do isolamento social, e retrata a história de Dom Pedro II, vivido por Selton Mello.
Com o novo coronavírus se disseminando no Brasil, Mariana e o restante do elenco tiveram que aguardar. A trama ainda continua sem previsão de lançamento. Mas a atriz não ficou parada. Pelo contrário, transformou um projeto pensado para os palcos do teatro em uma iniciativa on-line. Ao lado de Andréia Horta, Bianca Comparato e Débora Fabella, interpreta textos em formato de vídeo, gravados de forma remota e publicados no perfil do Cara Palavra no Instagram (@cara.palavra).
Além disso, a atriz está de volta às telinhas por conta das reprises. No canal Viva, pode ser vista novamente como Ana Francisca, primeira protagonista da carreira, em Chocolate com pimenta. Com o projeto da Globo de disponibilizar no Globoplay folhetins clássicos, também está no streaming, lá, em A favorita, como Lara, a “filha” das personagens principais da história Flora (Patrícia Pilar) e Donatela (Claudia Raia).
Em entrevista ao Correio, Mariana Ximenes relembra a carreira, fala sobre Nos tempos do Imperador e o projeto Cara Palavra, além de analisar o momento atual e a importância da arte e da cultura. Confira!
Entrevista // Mariana Ximenes
Você está duplamente no ar com as reprises de Chocolate com pimenta, no Viva, e de A favorita, no Globoplay. O quão importante cada uma dessas personagens foi para você?
É tão legal rever esses dois trabalhos, que foram tão marcantes na minha carreira. Ana Francisca, de Chocolate com pimenta, é meu xodó. Ela foi minha primeira protagonista, um grande desafio que o Walcyr Carrasco confiou a mim. Fico comovida como a história dela sempre toca as pessoas, como as inspira até hoje. E Lara foi outra personagem muito especial para mim. Ela era uma jovem cheia de personalidade, que estava no meio do conflito entre “suas mães”, Flora (Patrícia Pilar) e Donatela (Claudia Raia). Tiveram cenas intensas, emocionantes, foi um grande aprendizado! Foi possível mostrar algumas paisagens lindas, como Chapada Diamantina, Carrancas, interior de Buenos Aires. A novela me marcou também pessoalmente. Fiz amigos para uma vida toda, como Claudia Raia, que é “minha mãe do coração” até hoje.
Antes de pandemia, você estrearia na trama das 18h, Nos tempos Imperador. O que pode contar da sua personagem e da novela em si?
Minha personagem é a Condessa de Barral, preceptora das princesas Isabel e Leopoldina. Ela desenvolve uma linda relação com Dom Pedro II, que é interpretado por Selton Mello. A história mostra, justamente, o reinado de Dom Pedro II, um homem que incentivou muito a educação no país. Está sendo muito especial agora, na quarentena, rever Novo Mundo, já que a minha novela é uma continuação dessa trama, ao avançar na história do nosso país.
Como foi o seu processo de preparação para viver a Condessa de Barral?
Fiz um mergulho na vida da minha personagem. Para conhecer mais da personagem, li o livro Condessa de Barral: a paixão do imperador, da Mary Del Priore, que me deu uma dimensão maior de quem foi essa figura. Ela foi uma mulher ativa, muito à frente do seu tempo, recebeu educação europeia, tinha pensamentos arrojados, defendia a liberdade da mulher. Fiz aulas de equitação, também, para a preparação para o trabalho.
O que a atrai na hora de escolher os trabalhos?
Sempre é a complexidade da personagem, a história dela, os caminhos que ela pode percorrer — já que em uma novela, por exemplo, não temos o arco completamente definido, vamos acompanhando isso semana a semana, capítulo a capítulo. É isso que me move como atriz: contar uma boa história, encontrar o que é único naquela personagem e trazer à tona. Também gosto de saber o elenco e a equipe, porque adoro trocar, ter uma convivência rica com meus colegas, adoro contracenar e aprender com eles. Confesso que adoraria fazer mais comédia, porque adoro!
Como tem sido esse período de quarentena para você?
Tem sido um período de ressignificar tudo, de rever posturas. Estou lendo muito, aproveitando para cozinhar mais, fazer ioga e meditação com mais disciplina. Acompanho direto o que está acontecendo no Brasil e no mundo, os protestos. Entender como posso fazer para agir e ser parte da mudança. O que aconteceu com João Pedro, Miguel, tantos outros casos de racismo, violência doméstica, não podem ser tolerados ou normalizados. Temos, sim, que nos incomodar, que nos unir e buscar a mudança que queremos ver. E essa busca por mudanças passa por termos um olhar e uma escuta de empatia, respeito e solidariedade. Estou fazendo parte do projeto do Instituto Capim Santo, com a chef Morena Leite, que distribui marmitas para pessoas em situação de vulnerabilidade. Doei peças do meu guarda-roupa para o bazar Ao Vivo Pela Vida, que está arrecadando doações para o Fundo Emergencial para a Saúde e para a Ação da Cidadania.
Ao lado de outras atrizes, você tem feito o projeto Cara Palavra. Como surgiu essa ideia e como tem sido fazê-lo remotamente?
A semente do Cara Palavra era para ser plantada no teatro. Com a pandemia, tivemos que adiar isso. Então, pensamos em como poderíamos adaptar nossos planos para o que temos à mão. Daí nasceu a ideia de fazermos o projeto on-line. Escolhemos o texto, e cada uma da sua casa faz a produção e grava. Acredito profundamente na arte como um meio de transformação, como uma forma de existir, resistir e lutar. É isso que fazemos no Cara Palavra: usamos nossa arte para lutar e resistir. A arte e a cultura são nossas armas, minha, da Andréia Horta, da Bianca Comparato e da Débora Falabella.
Como acredita que será o mundo pós-pandemia no âmbito cultural?
Não sei ainda, mas tenho a certeza de que será bem diferente. Como ficará a dramaturgia para gravarmos com segurança? Um set envolve o trabalho de inúmeras pessoas. Como vamos minimizar esses riscos? Isso já está sendo debatido, vemos as pessoas conjecturarem sobre isso. E, para além disso, temos que pensar como será o retorno das pessoas ao cinema, ao teatro. Como o consumo do streaming vai impactar nisso? Quais políticas estão sendo pensadas? Na Europa, já estão retomando algumas coisas. Vi uma gravação em Portugal, da novela Terra Brava, em que a gravação da cena de beijo era feita por cada ator e depois isso seria reunido na edição. Temos muitas questões na mesa, e precisamos buscar essas respostas. O fato é que sem cultura não podemos ficar. A cultura forma a identidade de um país, é a voz de um povo.