Primeiro papel de Liza Gomes na televisão, Lucilene leva humor à pesada trama de Aguinaldo Silva. Confira a entrevista com a atriz!
Em seu primeiro trabalho na televisão, a atriz Liza Gomes pode se valer do rótulo de que tem sorte de principiante. Não que ela não tenha talento — tem, sim. Mas estrear numa novela das 21h escrita por Aguinaldo Silva não é pra qualquer um.
E foi justamente isso que aconteceu com a intérprete da fofoqueira Lucilene em O sétimo guardião. A atriz conta, em entrevista ao Próximo Capítulo, que sempre perseguiu o sonho de fazer novela, enviando material para testes.
A oportunidade de viver Lucilene surgiu depois que ela, obstinada, se inscreveu num curso do próprio Aguinaldo Silva. “Estrear numa novela das nove na Globo e do Aguinaldo Silva é um sonho que se realizou porque quando entrei no curso dele essa era minha meta”, confirma.
Meta atingida, agora era a hora de divertir o público com a diarista que transita por várias casas de Serro Azul, como a do prefeito Eurico (Dan Stulbach) e a da mocinha Luz (Marina Ruy Barbosa). Prato cheio para descobrir vários segredos da misteriosa trama. Não fosse por um detalhe: “Lucilene não consegue guardar muito segredo. Ela sai falando mas não é por maldade, ela é sem filtro mesmo, guarda segredo quando pode se beneficiar de alguma forma.”
Liza se diverte ao lembrar que já teve uma Lucilene na vida real.”Tive uma diarista que trabalhava na minha casa e na casa de outra duas amigas e ela contava tudo que acontecia na casa delas. Imagino que ela fazia o mesmo comigo”, lembra, aos risos.
Mais séria, Liza Gomes muda o tom quando fala sobre a falta de incentivo governamental à cultura e ao teatro, mais especificamente. “Os governantes do nosso país têm que ter um olhar mais sério para nossa cultura, investir em leis de incentivos culturais, projetos culturais… Isso é fundamental porque gera renda, emprego, arrecadação e desenvolvimento e ainda beneficia nossa cultura”, espera.
Em entrevista ao Próximo Capítulo, Liza Gomes lembra o início da carreira, fala sobre política cultural, preconceito e, claro, O sétimo guardião. Confira!
Leia entrevista com Liza Gomes
O sétimo guardião é sua primeira novela. A TV era um sonho?
É minha primeira novela e sempre tive vontade de fazer TV, assim como tenho o objetivo de continuar fazendo e fazer cinema também é um sonho. Sempre mandava material para os produtores na tentativa de conseguir fazer um teste.
Como é estrear logo em horário nobre e com Aguinaldo Silva? A pressão não aumenta?
Estrear numa novela das nove na Globo e do Aguinaldo Silva é um sonho que se realizou porque quando entrei no curso dele essa era minha meta. Quando fui chamada para fazer o teste, foi a maior felicidade que tive e, logo em seguida, já senti a responsabilidade. Quando passei, não acreditei…fui só acreditar mesmo quando comecei gravar. Aí, sim, a responsabilidade de fazer bem aumentou mais ainda.
A Lucilene é uma diarista que transita por várias casas, como a da Luz e a do prefeito Eurico. Ela vai ter acesso a vários segredos da trama?
Ainda não sei se ela vai descobrir alguns segredos porque a Lucilene não consegue guardar muito segredo. Ela sai falando mas não é por maldade, ela é sem filtro mesmo, guarda segredo quando pode se beneficiar de alguma forma.
Ela também é muito fofoqueira e acaba levando informação de uma casa para outra, o que pode ser um perigo. Já teve uma Lucilene para chamar de sua?
(risos) Tive uma diarista que trabalhava na minha casa e na casa de outra duas amigas e ela contava tudo que acontecia na casa delas. Imagino que ela fazia o mesmo comigo na casa delas.
Serro Azul não tem internet. Você viveria desconectada?
Sim, se tivesse nascida e criada assim numa cidade assim, super viveria.
A Lucilene acaba sendo um alívio cômico numa trama pesada como a de O sétimo guardião. A comédia sempre esteve presente em seu trabalho?
Quando fiz CAL, os professores costumavam me dar personagens cômicos, sempre gostei de fazer comédia. Mas quando fui fazer teatro profissional fiz mais personagens dramáticos, mais sérios. Acabei de fazer uma peça agora em dezembro onde meu personagem era totalmente dramático.
As diaristas e empregadas domésticas estão sempre presentes em novelas e filmes brasileiros, mas quase nunca são protagonistas. Isso não acaba refletindo um preconceito da sociedade brasileira?
Acho que sim. As diaristas têm muita história pra contar e representar a nossa sociedade brasileira tão desigual.
Como atriz, como você pode lutar contra esses preconceitos estabelecidos e já enraizados?
A minha luta é a minha conduta no dia a dia, no meu trabalho e nas relações interpessoais. É ter empatia, ter respeito, tratar todos com educação porque ninguém é diferente um do outro por causa da cor, por ter mais ou menos dinheiro, pela orientação sexual…Somos todos seres humanos e um dia vamos todos pra mesmo lugar.
Você é capixaba, do interior do Espírito Santo. Teve que sair de lá e ir para o Rio para estudar teatro ou foi outra circunstância que a levou ao palco?
Eu vim para o Rio pra fazer o segundo grau na época porque minhas irmãs foram fazer faculdade e eu, como caçula da família, fui com elas. No meu colégio tinha curso de teatro e minha melhor amiga na época era atriz. Eu via todas as peças dela, sempre estava no teatro da escola vendo alguma coisa… Foi ali que eu me apaixonei e decidi que era o que eu queria fazer.
Assim como muitos atores, você tem uma formação acadêmica completamente longe das artes — farmácia. Isso te ajuda de alguma forma como atriz?
Super me ajudou. Eu trabalhei em vários lugares e vários tipos de farmácia diferentes. Me relacionava com muita gente, o que é ótimo pra quem é atriz porque encontrava figuras incríveis que, pra mim, viravam personagens.
Quando percebeu que a farmacóloga dava lugar à atriz?
Quando eu fiz minha última entrevista pra trabalhar numa farmácia e o dono viu que no meu currículo de farmacêutica tinha também que eu era atriz, daí ele me disse que ou era atriz ou era farmacêutica porque as duas coisas não dava pra ser. Saí dali decidida que eu iria me dedicar a só trabalhar como atriz, que iria correr atrás do meus objetivos, não queria mais trabalhar como farmacêutica.
Viver de teatro ainda é muito mais difícil fora do eixo Rio-São Paulo. Por que isso acontece? Como mudar esse cenário?
Isso acontece por falta de investimento cultural por parte dos governos estaduais e federal. Não temos incentivos culturais que possibilitem produzir uma peça e viver de teatro, o que é uma pena. Para mudar esse cenário, os governantes do nosso país têm que ter um olhar mais sério para nossa cultura, investir em leis de incentivos culturais, projetos culturais… Isso é fundamental porque gera renda, emprego, arrecadação e desenvolvimento e ainda beneficia nossa cultura.
Fazer teatro ainda vale a pena num país em que os governantes não valorizam a cultura e as escolas não incentivam as crianças a irem ao teatro?
Sempre vale a pena. Teatro é uma arte milenar e fazer teatro em um momento de retrocesso do nosso país é resistir a tudo isso, é uma forma de mostrar o poder que o artista tem de levar a sua arte pra qualquer canto do mundo, o seu lugar de fala, fazer pessoas refletirem e saírem de lá transformada. O teatro tem um poder de fala poderoso e nunca vai morrer.