Justiça 2 retrata bem Brasília fora do eixo, mas erra feio com rodoviária

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Segunda parte da antologia de sucesso, agora no DF, é excelente, mas coloca personagens embarcando para o Maranhão na Rodoviária do Plano Piloto

Patrick Selvatti

Muito aguardada pelos fãs de Justiça, produção exibida pela TV Globo em 2016, a segunda parte, criada por Manuela Dias após um hiato de sete anos, chegou nesta quinta-feira (11/4) no Globoplay, como obra original. Tratada como antologia por não ter os mesmos personagens dando sequência a uma história, Justiça 2 vem com novas histórias e, especialmente, um novo cenário, mas segue a mesma estrutura narrativa da série que vimos anteriormente.

Justiça 2 entrelaça as vidas de Balthazar (Juan Paiva), Jayme (Murilo Benício), Geíza (Belize Pombal) e Milena (Nanda Costa), que são presos no mesmo dia, e apresenta a retomada da vida de cada um ao sair da prisão, sete anos mais tarde. Eles vão em busca de uma justiça que vai além da lógica dos processos judiciários. Os quatro primeiros episódios disponíveis no Globoplay trazem a apresentação dos crimes cometidos — ironicamente em 2016 — e o momento da saída desses personagens da prisão, quando inicia a jornada pessoal desses indivíduos em busca de redenção e, em alguns casos, de retaliação.

Com abordagens sérias, delicadas e maduras sobre racismo, violência sexual, homofobia, corrupção, criminalidade e questões éticas envolvendo situações judiciais, essa primeira leva de episódios já fisga o telespectador com os enredos que se cruzam, envolvendo os núcleos que trazem nomes como Leandra Leal — que, na pele de Kellen, é a única personagem que retorna —, Paolla Oliveira, Alice Wegmann, Júlia Lemmertz, Marco Ricca, Marcello Novaes, Maria Padilha, Gi Fernandes, Filipe Bragança, Danton Mello, Fábio Lago, Teresa Seiblitz, Luciano Mallmann, Jorge Guerreiro, Xamã, Breno da Matta, entre outros.

Se na obra de 2016 o cenário era Recife, Justiça 2 é ambientada no Distrito Federal, especialmente em Ceilândia. A região administrativa localizada na periferia da capital do país é bem retratada, assim como pontos marcantes de Brasília, como a estação do metrô, o Conic, a Ponte JK, o Aeroporto Internacional JK e a Rodoviária do Plano Piloto. É nessa última, entretanto, que mora a falha da direção artística comandada pelo experiente Gustavo Fernández (o mesmo de Renascer). Em um dos episódios, o espaço é apresentado como o local destinado a embarque e desembarque de ônibus interestaduais, na cena em que uma das protagonistas tenta fugir para o Maranhão.

Por mais que haja a licença poética, não dá para cometer um erro tão grotesco. Afinal, todo cidadão de Brasília — e até mesmo moradores de outras localidades brasileiras que visitam a capital da República — sabe que existe a Rodoviária Interestadual para esse fim e que o terminal localizado no coração da cidade é destinado a viagens internas. Pode parecer preciosismo com uma obra ficcional, mas a proposta dos criadores era retratar uma Brasília como ela é, “a cidade em seu cotidiano”, conforme frisou o diretor artístico em entrevista ao Próximo Capítulo.

A coluna só espera que não apareça pela frente um personagem desembarcando em uma estação de metrô na Asa Norte — região onde é sabido que os trens não circulam.

Patrick Selvatti

Sabe noveleiro de carteirinha? A paixão começou ainda na infância, quando chorou na morte de Tancredo Neves porque a cobertura comeu um capítulo de A gata comeu. Fã de Gilberto Braga, ama Quatro por quatro e assiste até as que não gosta, só para comentar.

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