Falar sobre educação é uma doce sina da carreira da atriz Jeniffer Dias. Com passagens pelo programa Esquenta e pela novela Novo mundo (2017), foi como a Dandara de Malhação — Vidas brasileiras (2018) que Jeniffer apareceu para o grande público. Agora, ela interpreta Antônia, aluna da escola Carolina Maria de Jesus, principal palco da série Segunda chamada, disponível no Globoplay.
Em comum, o eixo das duas personagens: discutir a importância de um ensino público de qualidade no país. “É muito simbólico e prazeroso, enquanto artista, fazer parte de uma série que dá voz a temas que tanto precisam de atenção. Assuntos que precisam ser trazidos para a tela, como homofobia, xenofobia, feminicídio. Além do principal, que é a educação pública”, afirma Jeniffer, em entrevista ao Correio.
Antes de Antônia, Dandara levantava as bandeiras contra o machismo e o racismo, fazendo de tudo para que o namorado, Hugo (Leonardo Bittencourt), a respeitasse como mulher. “(Trazer esse debate) abre a consciência do telespectador, que, falando de Malhação, é bem abrangente, para o que está acontecendo na nossa sociedade, e levanta discussões ótimas. Para mim, esse é o grande poder da dramaturgia: transformar pessoas e levantar discussões”, reflete a atriz.
Essa temporada de Segunda chamada conta com a entrada de um novo núcleo na história. São moradores de rua que vão estudar no colégio Carolina Maria de Jesus, mas são vistos com um certo preconceito por alguns alunos que já estão ali, como Antônia. Um erro de julgamento faz com que a menina se precipite. “O senso de justiça dela é muito mais emocional do que racional. Visceral e urgente. De quem aprendeu sozinha o que é o certo, sem pensar muito nas consequências”, defende Jeniffer.
A força de Antônia, que trabalha de dia e se esforça para não desistir da educação já tardia à noite, não vem só da ficção. Ela tem muito da história da própria Jeniffer Dias, nascida na favela Coronel Leôncio, em Niterói. A mãe dela, a quem a atriz chama de “minha rainha”, até tentou estudar à noite, mas não deu. “A vontade que ela tinha de ter um diploma era o que a motivava. Assim como minha mãe, minhas tias tiveram uma realidade parecida. Eu cresci observando tudo isso e querendo ir além”, lembra.
Determinada, Jeniffer foi além e foi a primeira da família a ter um diploma de curso superior em mãos. “Minha mãe fez de tudo para que eu visse outros horizontes, e trilhasse um caminho diferente do dela. Ela até chegou a cursar o ensino fundamental e médio numa escola EJA (educação de jovens e adultos), trabalhando de dia e estudando à noite, assim como Antônia. Antônia tem a história da minha mãe, das minhas tias, da minha avó, a minha história, e de tantas mulheres desse Brasilzão. Não precisei ir muito longe para construí-la”, afirma Jeniffer, apostando na arte como um poder transformador dessa realidade que furta educação dos cidadãos.
Você e o Yuri Marçal aproveitaram a pandemia para produzir um filme. O trabalho foi uma válvula de escape?
Acredito que todo mundo, em algum momento, sofreu emocionalmente com a pandemia. A arte, mais uma vez, foi quem me salvou. Era o meu respiro. Rodei o filme em casa, intensifiquei minhas aulas de inglês, entrei em cursos que sempre quis fazer e não fazia por falta de tempo. Isso me “distraía”. E me manteve no “eixo”.
O filme é uma comédia romântica. A ideia de não ser pesado veio de antes do projeto ou foi se delineando no decorrer do processo?
O roteiro foi todo criado durante a pandemia. Foi uma maneira que encontramos de nos manter em movimento artístico. Foi um grande respiro para todos nós. E o filme fala de um jovem casal preto em suas nuances e reviravoltas típicas de um relacionamento, de maneira leve e engraçada, sem a estereotipificação dos conteúdos que retratam a realidade do povo preto.
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