Diante de tudo que tem acontecido no cenário político nacional e mundial, a história contada na série House of cards, da Netflix, parece cada vez mais realista. O próprio serviço de streaming tira sarro e se aproveita dessas situações que relacionam a vida real e a ficção desde a primeira temporada.
Nas últimas semanas, há alguns dias do lançamento da quinta parte (que chega ao serviço na próxima terça), a Netflix usou as redes sociais para comentar o escândalo relacionado ao presidente Michel Temer, que teve conversas comprometedoras reveladas na delação da JBS. “Tá difícil competir”, diz post no perfil oficial da série no Twitter. Esse é o tipo de coincidência que tem se tornado constante. A quarta temporada de House of cards estreou na Netflix no mesmo dia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enquadrado na Operação Lava-Jato.
Se algumas situações são meros acasos, outras não, como a decisão da Netflix de lançar os novos episódios da quinta temporada em uma terça-feira, data incomum para plataforma que costuma disponibilizar as séries originais na sexta-feira. A escolha pela terça-feira é uma referência ao dia da semana em que são realizadas as eleições presidenciais nos Estados Unidos.
O seriado tem inspiração no romance homônimo de Michael Doobs. A série acompanha a vida política de Frank Underwood (Kevin Spacey), que começa como um congressista que, até chegar à presidência dos Estados Unidos, ultrapassa limites éticos e morais. A produção tem como principal característica mostrar os bastidores do jogo político.
Para o mestre em ciência política e professor da UnB, Wladimir Ganzelevitch Gramacho, revelar o íntimo dos políticos é um dos motivos do sucesso da série. “Em todas as sociedades, a elite é sempre motivo de curiosidade dos cidadãos comuns. A elite econômica é explorada nas novelas brasileiras. A elite política não é diferente, sempre é e será motivo de curiosidade. As pessoas querem entender como é a vida de um presidente, como são as negociações. Em qualquer momento, uma série bem-feita e bem produzida que se dedica a contar os bastidores da política fará sucesso”, afirma.
O sociólogo e professor de ciência política do Centro Universitário Estácio, Odair Araújo, concorda. Segundo ele, a história de House of cards permite ao espectador conhecer a intimidade de um político nos bastidores. “A busca da sociedade pela série se dá pelo fato de querer perceber a política como um todo, principalmente os bastidores, que mostram como são feitas as grandes negociações políticas, de aumento de impostos, venda de ações, cotações. Esse tipo de assunto interessa e permite conhecer a fundo estas práticas”, comenta Araújo.
Desde o lançamento, House of cards chamou atenção pela verossimilhança com que retrata o jogo político na telinha. Wladimir Ganzelevitch Gramacho analisa que a produção retrata bem os personagens políticos — que estão interessados em promover suas carreiras, a influência das grandes corporações e empresas nas decisões políticas, e o poder econômico nas decisões políticas.
O sociólogo Odair Araújo diz que House of cards dá a oportunidade de fazer um comparativo com o pensamento de Maquiavel: “A série traz um grande despertar daquilo que, na ciência política, chamamos de “por trás das cortinas”. No livro O príncipe, Maquiavel passa a ideia que a natureza do ser humano é ser egoísta, volúvel, individualista e quando uma pessoa entra na política esta postura fica muito mais perceptível, o que é nítido nos dias de hoje e na série”, comenta.
Mas e as similaridades com a política brasileira? Para Gramacho existem alguns aspectos muito semelhantes. O cientista político compara a situação de Frank Underwood com a de Michel Temer e Garrett Walker (Michael Gill) com Dilma Rousseff. “Em primeiro lugar a dobradinha presidente e vice. Em House of cards, o presidente era uma pessoa menos experiente, menos sofisticada no jogo do xadrez político, como a Dilma era novata no jogo de fazer política e em construir uma coalizão de partidos que fizessem sua agenda legislativa avançar. Em ambos os casos, o vice era mais experiente, sofisticado e habilidoso no jogo político. Tanto Underwood quando Temer souberam medir os tempos e os passos para chegar à presidência”, aponta.
Outro ponto acrescentado por Wladimir Ganzelevitch Gramacho é o fato de ser uma trama vertiginosa, em que um episódio é mais surpreendente que o outro assim como a realidade política atual no Brasil. Porém, ele também enxerga diferenças, como o papel da imprensa. “Os repórteres na primeira temporada de House of cards são bem mais tímidos se compararmos com a atuação da imprensa brasileira, a capacidade de crítica e de denúncia”, diz. Além disso, o cientista político aponta que falta o papel dos procuradores na série, que são uma espécie de diretores, por sempre saberem que vai acontecer.
“A única coisa triste nisso tudo é que em House of cards da Netflix você pode desligar. Na vida, não dá. Não dá para parar de assistir. É uma coisa que estamos vivendo”, lamenta.
João Pedro Vazquez, cientista político formado pela UnB, faz uma análise sobre a comparação da série com o panorama político vivido no Brasil, mas afirma que é preciso perceber também as diferenças. “Isso se deve principalmente aos casos de corrupção e pela mudança de governo, levantando os questionamentos se realmente a realidade do sistema político é assim. Tendo a acreditar que sim, porque tais casos não são conhecidos pela população devido a negligência da política em relação à sociedade como um todo. Acredito que, apesar das semelhanças, existem várias diferenças. A começar pelo país: em House of cards, Frank atua de acordo com o sistema político dos EUA e leva a disputa política para nível internacional com a atuação na ONU e a tentativa de assegurar os interesses do país perante a comunidade internacional. No caso do Brasil, apesar de interesses internacionais estarem diretamente envolvidos, o desenrolar dos acontecimentos ocorre a nível nacional”, exemplifica.
A Netflix evitou muito burburinho antes da chegada da quinta temporada de House of cards, que estreia na plataforma de streaming em 30 de maio. Todos os rumores indicam, no entanto, que os novos episódios abordarão questões muito próximas dos noticiários dos últimos meses, como as polêmicas medidas do presidente norte-americano Donald Trump, os atentados terroristas e os hackers russos.
Esta será a primeira temporada depois da saída do criador da série, Beau Willimon. Agora o seriado ficou a cargo dos showrunners Melissa James Gibson e Frank Pugliese. A dupla promete seguir o mesmo trabalho de Willimon na história de Frank Underwood. “A quarta temporada termina com os Underwoods prometendo fomentar o caos e o medo. E é aí que nós vamos abordar a quinta temporada”, afirma Melissa em nota promocional da série divulgada pela Netflix.
Na quinta sequência, Frank e Claire (Robin Wright) continuarão a percorrer as carreiras políticas unindo forças após uma recente conciliação. O objetivo do “casal” é afastar as polêmicas em torno do presidente divulgadas pela história publicada pelo jornalista Tom Hammerschmidt (Boris McGiver), do Washington Herald. As denúncias do jornalista apontam Frank como o responsável por uma série de crimes e assassinatos. Underwood, de fato, praticou todos eles, mas até agora tinha conseguido passar ileso, sem nenhuma consequência maior.
Como o fim da temporada anterior anunciava, Frank e Claire devem usar todas as forças para o combate ao terrorismo. As ameaças de uma organização serão a oportunidade de os dois desviarem o foco dos problemas que enfrentam. Ao que tudo indica, Frank e Claire devem iniciar uma intensa guerra ao terror para conquistar a população.
Tudo por conta também de uma eleição iminente, que tem Will Conway (Joel Kinnaman) como um dos candidatos rivais de Frank. A disputa será o embate entre a velha e a nova política.
Além de ter referências à realidade política atual, a quinta temporada tem sido apontada pelos críticos como um retorno ao jogo político do Congresso norte-americano, que voltará a ter um importante papel no cenário da nova sequência de House of cards. A casa teve mais relevância na primeira temporada da série, quando Underwood ainda era membro do legislativo.
Por Adriana Izel, Alexandre de Paula (Especial para o Correio) e Matheus Dantas* (Sob supervisão de Vinicius Nader)
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