Peter Dinklage, o Tyrion de Game of thrones, interpreta Hervé Villechaize no telefilme Meu jantar com Hervé, da HBO
“Estamos vivendo em uma época em que as minorias são descartadas e é importante que as pessoas tenham suas vozes ouvidas”. É assim que Sacha Gervasi, roteirista e diretor do telefilme Meu jantar com Hervé, que estreia em 24 de novembro na HBO, explica o que o motivou a produzir um longa-metragem para televisão sobre o encontro dele anos atrás com o ator francês Hervé Villechaize.
Na época, Gervasi era jornalista e tinha sido convidado para um bate-papo com o anão mais famoso da dramaturgia nos anos 1970 e 1980 nos Estados Unidos. A conversa durou três dias de uma semana e foi tão esclarecedora que deu ao repórter toda a base para o filme. “Passei três dias com ele e ele abriu o coração pra mim. Contou-me a história de sua criação complexa, os tratamentos médicos experimentais para tentar fazê-lo crescer. Foi realmente comovente”, lembra o diretor.
O longa-metragem, que será exibido às 22h na HBO, tem como inspiração o encontro entre Sacha e Hervé. “Um tempo depois ele cometeu suicídio. Aquilo partiu meu coração e eu disse: ‘prometo que vou contar sua história um dia’. Levou um quarto de século”, afirma. Na trama, a reunião se passa em uma noite estranha em Los Angeles e tem Peter Dinklage (Game of thrones) na pele de Hervé e Jamie Dornan, protagonista de 50 tons de cinza, como Danny Tate, o jornalista inspirado em Sacha.
O convite para Peter Dinklage veio pela conexão entre os dois atores. Nos anos 1970 e 1980, Hervé era o anão mais famoso do mundo estrelando sucessos como A ilha da fantasia (1978 a 1984) e 007 contra o homem com a pistola de ouro (1974). Enquanto hoje esse título é de Peter Dinklage, o astro de Game of thrones. “O anão mais famoso do mundo, no maior programa de tevê do mundo, agora está vivendo o outro mais famoso anão do mundo. Então tem essa conexão”, explica.
Temas de Meu jantar com Hervé
Em Meu jantar com Hervé, Sacha Gervasi aborda aspectos pessoais da vida do ator francês, como a escolha de deixar a Europa em busca de uma vivência com menos preconceito, a constante vergonha que a mãe sentia dele e até os desejos do pai de que ele fizesse um tratamento para crescer. “Ele e a mãe tiveram um relacionamento tremendamente complicado. Ele me disse: ‘Ela me amava, mas ela não podia suportar o fato de ter me produzido’. Então ela alternaria entre amá-lo e ter vergonha dele, o que era muito difícil para ele. O pai, por outro lado, o levou a uma clínica para fazer qualquer coisa para fazê-lo crescer. E ele não fez. Nos anos 1950 havia uma intolerância em relação as pessoas pequenas”, conta.
Esse preconceito o levou para Nova York, onde ele começou a atuar no teatro até que depois se mudou para Los Angeles e, após muitas dificuldades, conquistou um trabalho graças a Aaron Spelling e Leonard Goldberg, que o convidaram para atuar em A ilha da fantasia. “Então esse filme é quase uma meditação sobre a fama, a toxicidade e o vazio disso. Por isso que eu acho que o filme é pertinente agora, nessa cultura, onde as crianças são obcecadas em se tornarem famosas”, defende Sacha.
A relação entre Hervé e Danny também é outro aspecto importante da trama. “O tema do filme é julgamento, é como as pessoas olham para Hervé como se ele não fosse um ser humano. Este são dois personagens que foram julgados quase exclusivamente em seus olhares”, completa justificando a escalação de Jamie Dornan. “Eu senti que Jamie queria a oportunidade de subverter as expectativas”, comenta.