De um quarto na fazenda Primavera, no Pantanal, o ator Gabriel Santana responde a entrevista do Correio e aproveita para se reconectar com a natureza. O personagem dele na novela Pantanal, o rebelde Renato, filho de Tenório (Murilo Benício), ainda não apareceu muito, mas vai se destacar quando a família inteira for para a fazenda do patriarca.
“Até entrar na novela, ficava vendo como um telespectador, sabe? Foi o primeiro projeto que não entrei no início”, conta Gabriel. Pantanal é também a primeira produção da qual o ator participa não direcionada ao público infanto-juvenil. Ele esteve no remake de Chiquititas e na temporada Toda forma de amar de Malhação.
Mais adulto, Gabriel pode tocar em pontos como racismo e dependência emocional, alguns dos quais ele fala na entrevista a seguir. Confira!
A sua entrada em Pantanal veio repleta de expectativas por parte do público. Como você está lidando com isso?
Essa segunda família do Tenório (Murilo Benício) está causando muita curiosidade e especulação do público. Tenho visto isso por conta das redes sociais. A primeira família do Tenório fez sucesso, teve uma química muito boa entre os atores e um texto encaixado. Minha expectativa é continuar o belíssimo trabalho que está rolando entre a primeira família. Sinto responsabilidade de manter esse legado, de uma história muito bem contada e interpretada. Fico contente e feliz com essa responsabilidade. Isso incentiva a estudar mais e ser cada vez melhor em cena.
Vocês começaram a gravar há muito tempo? Como é essa ansiedade de ficar esperando a hora de estrear
já com a novela no ar?
Eu comecei a gravar em março de 2022, mas a galera começou bem antes, entre agosto e setembro de 2021. Eles fizeram uma maratona! Ficaram quatro meses no Pantanal e depois voltaram. Acredito que foi um dos núcleos que mais sofreram alteração comparado à versão original.
O Renato é muito ligado ao pai. Até onde vai essa lealdade, esse amor?
Tenho que defender meu personagem. Afinal, se eu não entendê-lo, quem vai? Se eu não justificar as ações dele, quem vai? Talvez eu passe o pano para ele (risos). O Renato é um cara completamente amoroso com a família, o bem mais precioso dele. Por colocar a família acima de tudo, ele poderia cometer atrocidades para manter a família junta. Ele nunca viveu com o pai dele, era inconstante. Não havia esse amor e afeto paterno. Então o Renato, sempre que tem a oportunidade de agradar o pai, ele vai fazer para ter algum tipo de recompensa. Mas conhecendo o Tenório, sabemos que ele faz coisas que não são tão legais moralmente. Acaba que o Renato, para agradar o pai, também faz coisas que não são legais. Eu defendo o Renato com isso: uma pessoa amorosa, mas muito carente, e essa combinação é tóxica.
O Renato chega a ser um vilão?
O que eu posso dizer é que o Renato vai causar bastante, ter reviravoltas com todos os personagens com quem ele interage. Espero muito que o público ame odiar o Renato, assim como eu amo odiar o Tenório! O trabalho do Murilo tem sido espetacularmente bom. O Tenório é um desgraçado, mas, como o Murilo faz isso bem, eu amo odiar o Tenório.
Você chegou a ver ou a conversar com o Ernesto Piccolo, o Renato da primeira versão?
Não. Assisti a alguns capítulos da primeira versão para entender a atmosfera, como o Benedito queria passar as coisas, tanto no cenário do Pantanal quanto no meu núcleo familiar. Fiz isso para entender as temperaturas, assim como faço questão de ler o texto de todos os atores para compreender os outros núcleos e como isso pode se relacionar com o meu, para que tudo fique interessante, sem uma mudança brusca de energia nas cenas. Cheguei a ver algumas coisas do Ernesto, mas não quis ir muito além, porque acho que, quando um ator de remake se prende muito à atuação da primeira versão, você pode exagerar pela falta e pelo excesso. Vendo o que o ator fez, você não quer copiar e vai para um caminho completamente diferente, o que pode não ser interessante. Para que se prender a querer fazer igual porque foi algo muito legal, quando você pode ir por um caminho diferente e encontrar coisas que são tão boas quanto? Quis criar o meu também, sem tantas referências.
Muito se critica a falta de autores negros no mercado e o fato de sempre termos autores brancos escrevendo sobre os problemas de negros…
Quando a gente fala de negritude no Brasil, não falamos só da cor da pele, e, sim, de uma experiência de vida. Apesar de ela poder ser entendida e compartilhada empaticamente, só quem passa entende. Chega a ser uma diferença cultural, como a sociedade te enxerga e como você enxerga a sociedade. Existem poucos autores de pele preta escrevendo, é um mercado desproporcional. Acho que todas as instituições precisam pensar por esse lado, mas a iniciativa precisa ocorrer. Óbvio que uma pessoa de pele preta consegue transformar em arte o cotidiano dela de uma forma muito melhor, mas acredito que a mudança no Bruno Luperi foi muito bem vinda para a novela.
Como está sendo essa relação entre vocês e o autor Bruno Luperi? Houve uma troca?
A iniciativa de bater no peito e falar: ‘Olha, na primeira versão, a família do Tenório era branca, mas vamos contemporizar isso, afinal mais de 50% da população do Brasil é preta, então esse núcleo é de família preta’… Achei isso muito bom, as pessoas têm que tomar essa iniciativa antirracista, e o Bruno Luperi, desde o começo, se tornou muito aberto a isso. Quando recebemos o texto, algumas vezes víamos a intenção do Bruno de escrever aquilo, mas poderia ser dito de uma maneira que ficasse mais real ou melhor contextualizada. Desde aquele dia, entramos em contato com ele, fizemos reuniões e criamos um grupo no WhatsApp para falar sobre isso. Ele sempre se mostrou muito aberto e, desde então, tem sido um trabalho muito bom para a gente, de conversa e parceria. A gente sabe que, em algumas situações, o Bruno entende na teoria, mas, na prática, pode ser mais complicado. Ele sempre nos dá liberdade para deixar as coisas do nosso jeito.
Como é sua relação com a natureza?
Nos centros urbanos, as coisas acontecem no tempo do ser humano, como ele disse para acontecer. Tudo é mega rápido, você não tem um segundo para respirar. Uma vez eu estava andando na rua e todo mundo estava andando rápido, e eu comecei a fazer isso também. Depois, pensei: ‘Por que estou andando rápido? Não estou atrasado, tenho tempo.’ Nos centros urbanos, tem essa tendência de que qualquer segundo que você perde você não está fazendo nada, precisa ocupar 100% do seu tempo sempre. E aqui não. No Pantanal, seguimos o tempo da natureza, que é mais devagar e aproveitado, de apreciação e contemplação mesmo. Às vezes, eu entro nessa crise de ‘por que eu não estou fazendo nada?’. Depois paro para pensar e percebo que não preciso estar assim, eu posso ficar tranquilo e pensar sobre a vida, ouvindo o que estou pensando. Eu me peguei várias vezes prestando atenção no que eu estava pensando. Em São Paulo, você nunca para. Está sempre trabalhando, saindo para encontrar os amigos, no celular. Esse tempo para parar e se ouvir está sendo deliciosamente bom.
Você também fez o remake de Chiquititas. Qual é o segredo para que o remake não soe datado ou seja uma mera cópia do original?
Acho que se uma história foi criada e fez sucesso a ponto de precisar fazer o remake, é legal entender a importância da novela. Em Chiquititas e em Pantanal eu assisti a coisas antigas para entender, sabe? Se você não entende o trabalho que está fazendo, o público também não entende. Entender o texto, a energia das cenas, os diretores, o porquê o público gostou tanto da primeira obra é fundamental. O importante é não pirar (risos). A primeira versão de qualquer novela era datada de um tempo. Pantanal da década de 1990 foi escrita daquela forma porque fazia sentido naquele tempo aquela atuação. Hoje em dia, talvez não faça mais, ou faça menos, ou faça total sentido. Então, é você entender por que aquilo foi daquela forma e, a partir disso, criar o seu. O tempo muda e evolui, se tornando necessário fazer alguns ajustes.
Além de Chiquititas, você fez Z4 e Malhação — Toda forma de amar. Apesar de uma participação em Carcereiros, considera Pantanal seu primeiro trabalho sem ser voltado para o público juvenil?
Posso dizer que é meu primeiro trabalho que vai ao ar que não seja voltado para o público infantil. Gosto muito da minha carreira como um todo. Acho que evoluí muito com ela. Comecei com 13 anos em Chiquititas, e acho que não teria a carga dramática para fazer algo que não fosse voltado para o público infantil. Acabando Chiquititas comecei a estudar teatro, sou formado em artes cênicas. Ao longo disso, fiz Z4 e Malhação, que são para o público jovem. Fui amadurecendo com meus personagens e entendendo a carga dramática deles. Hoje, em Pantanal, com 22 anos, sendo um homem preto e formado, acho que tenho carga dramática e experiência para conseguir fazer um personagem que nem esse com propriedade e excelência. Talvez, há dois anos, eu não tivesse isso. Olho minha carreira e penso como legal tem sido. Eu gravei, em 2021, um filme que ainda não foi lançado que conta a história do rapper Hungria, um cara muito batalhador e persistente. Ele saiu da periferia de Brasília, batalhou e venceu, é uma pessoa super humilde e super cabeça.
Essa mudança devagar é importante para o ator?
Para mim foi muito importante essa progressão de começar com uma linguagem mais infantil, depois para jovens e agora para adultos. Acho que adquiri muito conhecimento, tive acesso a muitas áreas. Atuar para crianças, esteticamente falando, é muito diferente de fazer uma novela das 21h. Tanto na movimentação, gestos, intenções de fala. Não existe melhor nem pior. Amo fazer teatro infantil e peças espíritas. A gente vai entendendo terrenos diferentes da atuação, estéticas diferentes de atuar. Isso faz o ator ser mais versátil e entendido sobre as coisas. Gosto muito de atuar em qualquer formato e estética, para qualquer público.
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