Gabriel Canella junta ficção e realidade nos atuais projetos dele: a série Reality Z, da Netflix, e o espetáculo teatral Lockdown
O ator Gabriel Canella sempre foi fã de séries com zumbis. Por isso, comemora poder unir essa preferência com o lado profissional em Reality Z, série brasileira da Netflix que se passa durante um apocalipse zumbi iniciado no Rio de Janeiro. “Foi uma realização profissional, já que era fã dessas séries de zumbis. A produção da série, que foi a primeira nesse gênero no país, foi surpreendente porque você conseguir transformar mais de 100 zumbis em um dia não é para qualquer um”, elogia Gabriel.
Na série, ele vive Marcos, participante do reality show Olimpo que, por estar confinado no programa, se vê livre dos zumbis num primeiro momento. O tempo vai passando e Reality Z vai abordando temas muito inerentes à sociedade atual, como egoísmo, racismo, violência e também coisas boas, como solidariedade, espírito de equipe e altruísmo. “Tanto Reality Z quanto a pandemia que estamos vivendo estão mostrando dois lados e trazendo uma visão aberta de que, com o ser humano agindo por meio da união e da generosidade, o mundo funciona melhor. Vemos isso claramente em Reality Z quando os personagens se colocam no lugar do outro e tentam, de alguma forma, se solidarizar e encontrar uma saída para que eles se ajudem e tenham êxito na dificuldade que estão vivendo. Mas, também conseguimos ver que os personagens agem de forma egoísta, e isso acaba prejudicando um grupo de pessoas”, reflete.
Como ator, Gabriel se define como uma “massa de argila que se molda a qualquer tipo de personagem”. As várias formas que ele toma podem ser conferidas atualmente em duas produções. Em Reality Z, Marcos é o estereótipo do homem bonitão, forte, que conquista todas as mulheres — “machista e preconceituoso”, como completa o próprio ator. Na Globo, ele dá vida a Vermelho, personagem de Êta mundo bom!, novela que voltou com sucesso na faixa Vale a pena ver de novo.
“Eu gostei muito de fazer o Vermelho porque ele tinha em comum comigo a garra de querer vencer na vida e lutar pelos sonhos. Tanto que, no final da novela, ele termina dando o beijo na futura dona do dancing onde ele começou como garçom. Eu adorei me rever na novela e também gostei muito do carinho do público”, comenta Gabriel, que se considera muito mais maduro como pessoa e como ator desde que a novela de Walcyr Carrasco foi ao ar pela primeira vez, em 2016.
Não é só em Reality Z que Gabriel consegue dialogar com a realidade. Em Lockdown, espetáculo teatral que ele pretende estrelar no início do ano que vem, isso também acontece. Ele juntou-se a Pablo Cortez e a Camila Curty, colegas no projeto Studio Casa, para levar aos palcos uma peça que tivesse “pegada realista”. A tarefa ficou a cargo do autor Herton Gustavo Gratto, que juntou dois universos no mínimo díspares.
“A peça se passa nesse momento de pandemia e faz uma relação com os personagens da peça Um bonde chamado desejo, de Tennessee Williams. Lockdown vai ser uma peça em que poderemos fazer o público passar por vários tipos de emoções e sensações. Espero que o público se identifique com vários momentos da vida e veja que a arte imita a vida de forma sincera”, finaliza um ator que não tem o menor medo da ousadia.
Entrevista// Gabriel Canella
Reality Z acaba sendo um projeto ousado por ser um produção brasileira que depende de efeitos visuais, como maquiagem, e muitos figurantes. Como foi fazer parte da série?
Reality Z é um marco na produção de séries no Brasil. Esse trabalho é uma grande ousadia dos diretores Cláudio Torres e Rodrigo Monte, que por meio do produtor de elenco Raoni Seixas, me chamaram para um teste. Foi uma realização profissional, já que era fã dessas séries de zumbis. A produção da série, que foi a primeira nesse gênero, foi surpreendente porque você conseguir transformar mais de 100 zumbis em um dia não é para qualquer um. Reality Z foi uma série de muito sucesso não só no Brasil como no mundo todo e isso me deixou extremamente orgulhoso.
O Marcos de Reality Z participa do reality Olimpo. Você participaria de um programa como esse?
Apesar de ser fã de reality shows e do Big brother — inclusive torci muito para o que Babu vencesse essa última edição ー , acredito que não porque, no momento, estou num processo de estudo como ator. Tenho o projeto de montar um espetáculo chamado Lockdown. Mas acho o programa sensacional e um sucesso. Inclusive adoraria ver outra edição ainda este ano.
O personagem acaba sendo julgado por colegas por ser o bonito bombado do programa. Sentiu esse tipo de preconceito na carreira?
Eu gosto de ser um ator multifacetado em que eu consiga fazer de um nerd magrelo a um personagem forte e machista, como Marcos. Acredito que a beleza seja uma característica boa em certos momentos, mas também ruim em outros. Nada na vida é 100% benéfico. No meu caso, já teve algumas vezes que não me deram o personagem porque me acharam bonito. Mas procuro ser uma massa de argila que se molda a qualquer tipo de personagem. Podemos ter um exemplo bem atual porque estou no ar agora fazendo um garçom numa novela (Êta mundo bom!) e um personagem machista e preconceituoso na série da Netflix. Ainda estou fazendo um playboy na série O jogo, da Amazon prime. O ator, quando está atuando, só tem que estar lá e viver acreditando no imaginário. Quanto mais crença no imaginário ele tiver mais verdadeiro ele será em cena.
Se você pudesse transformar algumas pessoas em zumbi quem não escaparia?
Acho que o (Fabrício) Queiroz, Sérgio Cabral e toda essa corja de políticos corruptos que prejudicam o nosso país. A corrupção virou uma praga no nosso país e isso trouxe um retrocesso na educação, cultura, saúde, e agora, mais do que nunca, estamos sentindo isso na pele.
Por causa do isolamento social da pandemia de covid-19, alguns temas trazidos por Reality Z ficaram ainda mais atuais. Mesmo antes disso já era uma série contemporânea, apesar da atmosfera de fantasia, não?
Claro. Vivemos em uma sociedade capitalista em que a tendência do capitalismo é acumular riquezas por ser um sistema de produção contínuo. Às vezes, isso traz uma individualidade para o ser humano de forma que ficamos egocêntricos, egoístas e até algumas vezes preconceituosos. Tanto Reality Z quanto a pandemia que estamos vivendo estão mostrando esses dois lados e trazendo uma visão aberta de que, com o ser humano agindo através da união, generosidade, o mundo funciona melhor. Vemos isso claramente em Reality Z quando os personagens se colocam no lugar do outro e tentam, de alguma forma, se solidarizar e encontrar uma saída para que eles se ajudem e tenham êxito na dificuldade que estão vivendo. Mas, também conseguimos ver que os personagens agem de forma egoísta e isso acaba prejudicando um grupo de pessoas. Quando as pessoas se unem para se solidarizar com o próximo, conseguimos salvar vidas e essa generosidade traz a crença num mundo onde as pessoas possam acreditar que podemos mudar e nos tornar seres humanos mais altruístas e generosos.
Você está no ar também na reprise de Êta mundo bom. Como foi a experiência de fazer essa novela? Você gosta de se rever?
Adoro fazer novela, acho que faz parte da cultura brasileira e Êta mundo bom foi uma novela especial porque, além de trazer uma mensagem positiva para o momento que estamos vivendo, é também uma novela de um sucesso que bateu recordes de audiência tanto na época que estreou quanto agora . Eu gostei muito de fazer o Vermelho porque ele tinha em comum comigo a garra de querer vencer na vida e lutar pelos sonhos. Tanto que, no final da novela, ele termina dando o beijo na futura dona do dancing onde ele começou como garçom. Eu adorei me rever na novela e também gostei muito do carinho do público. Mesmo se passando tanto tempo da estreia da novela, as pessoas continuam me mandando muitas mensagens.
Quais são as diferenças do Gabriel daquela época para o de hoje?
Acho que já começa por eu estar fazendo faculdade de direito e estudando bastante filosofia. Amadureci muito nesse tempo não apenas como ator, mas como ser humano. Aprendi a me conhecer um pouco mais, a saber ouvir, pensar mais antes de falar e procurei ganhar bastante cultura tanto na política, na psicologia e nos estudos de técnicas teatrais e filosofia. Busco ser uma pessoa melhor que tem como objetivo a busca do saber e tentar compreender e ser mais generoso com o próximo.
Você faz parte do Studio Casa. Como funciona essa iniciativa?
Todos nós do Studio Casa já éramos estudante do método. No studio Casa podemos aprimorar nosso conhecimento sobre método usando ferramentas novas. Nosso estudo desenvolve pesquisas sobre o estudo da atuação e buscar uma verdade em cena. Acreditamos que a verdade não vem de fora e, sim, do próprio material de vida e o que você está sentindo naquele exato momento. Assim como a vida, a arte é o aqui e agora. O Studio Casa acredita que a vida se mistura com o ator .
Você está se preparando para estrelar um espetáculo chamado Lockdown. Como será a peça? O que já pode adiantar?
Lockdown surgiu com Pablo Cortez e a Camila Curty, dois atores membros e fundadores do Studio Casa. Resolvemos montar uma peça e chamamos o autor Herton Gustavo Gratto para, junto com a gente, criar um roteiro que tenha a pegada de uma peça realista. Então, surgiu uma peça que se passa nesse momento de pandemia e faz uma relação com os personagens da peça Um bonde chamado Desejo, de Tennessee Williams. Lockdown vai ser uma peça em que poderemos fazer o público passar por vários tipos de emoções e sensações. É um projeto para o ano que vem, mas espero que nesse espetáculo, o público se identifique com vários momentos da vida e veja que arte imita a vida de forma sincera.