É normal sentir uma espécie de vazio quando uma de suas séries favoritas acaba. Uma espécie de tristeza. Mas esse não parece ser o caso de Bates Motel. A produção, que começou bem e só melhorou nas temporadas seguintes, teve um final digno a sua trajetória. A responsabilidade de escrever sobre o fim de uma das minhas séries favoritas é enorme, mas vamos lá…
O seriado, que conta a história de Norman Bates, o psicopata do icônico filme de Hitchcock, Psicose, fugiu de tudo o que era esperado dele. Desde o início, com uma simplicidade impressionante, rompeu com todas as expectativas. Nada de uma série de época, ambientada nos anos 1960. No lugar disso, um adolescente com iPhone, e uma cidade sombria tomada pelo tráfico. Uma história obscura que não começa com mortes, e cuja personagem principal, Marion Crane, só apareceu por dois episódios na última temporada: essa é a vez de contar a história de Norman e Norma, e mais ninguém.
Ao contrário do filme, criamos uma relação profunda de empatia pelo psicopata que tira a vida de… nossa, quantas pessoas mesmo? E tudo isso com a mãe encobrindo seus crimes. Uma mãe com a qual ele tem uma relação muito estranha. Está aí, o roteiro que ganhou as telinhas por cinco anos e deixou os espectadores completamente extasiados. Simples e cativante.
Mas não só de um bom roteiro se faz uma grande produção. Freddie Highmore e Vera Farmiga mostraram ao que vieram, e que fazem parte da nata de atores de Hollywood. Anthony Perkins? Quem conhece o filme percebe que a brilhante atuação do ator que interpreta Norman é fruto de muito estudo e trabalho. Os trejeitos, a forma de falar, de andar… Tudo está ali. Freddie nos leva em uma viagem ao tempo, e vemos o personagem de Hitchcock ganhar vida em pleno século 21. Vera… Não temos palavras para descrever o presente que foi acompanhar a nomeada ao Oscar por cinco anos, interpretando a “Mother”.
O que mais impressionou é que o programa não virou escravo de sua audiência e do seu sucesso. A história terminou no momento certo, com apenas cinco temporadas, sem estender o enredo por mais dez episódios (o que poderia ter sido feito, mas acabaria com o ritmo da série, e jogaria por água abaixo um roteiro tão bem construído).
Aviso aos leitores que ainda não viram toda a série: esse texto está cheio de spoilers. Na verdades, só tem spoilers, e mais nada. E aliás, por que vocês ainda não viram? O que é que vocês estão fazendo da vida que é mais importante do que o final maravilhoso dessa série?
O fim de Norman
É difícil explicar para as pessoas que não assistem a série o quanto nos apegamos ao personagem de Freddie, que é basicamente um psicopata, um serial killer. Mas quem assiste sabe que no fundo, ele tem um bom coração, mas infelizmente tem uma doença. Tudo o que ele quer no mundo é ficar com sua mãe. E o final entregou isso. Não apenas isso, mas também entregou a punição que todos estávamos esperando para o nosso querido Norman. Um final justo e bonito.
O último episódio passa vários sustos no espectador. Mas conhecendo a história como conhecemos, e acreditando na habilidade dos roteiristas, esses sustos passam rápido. Primeiro achamos que Romero vai matar Norman quando eles vão para o meio do mato, sozinhos, no meio da noite, encontrar o corpo de Norma. Seria o final esperado por Romero, mas uma morte cruel para Norman (que aliás, nem era Norman neste ponto) não seria o melhor. Quando ele joga o garoto no chão e se debruça sobre o corpo da esposa morta, aos prantos, já sabemos o que vai acontecer. Não tem outro jeito. Adeus, Romero.
Em seguida, após perceber que foi ele o responsável pela morte da mãe, Norman retoma controle sobre si, e finalmente a “mãe” se despede dele. Essa outra personalidade que desde a infância o protegeu de todos os acontecimentos terríveis que o assombraram, e o escondeu da cruel realidade em que vivia, finalmente vai embora. Achamos que nesse momento Norman está “curado” e a partir de agora vai enfrentar sozinho as consequências dos seus atos. Mas não. Não, não, não. É apenas a metade do episódio, pessoal!
Logo em seguida ele acorda, e parece que tudo foi um sonho. O quê? Os roteiristas vão dar essa explicação para tudo o que aconteceu na série? Que era tudo um sonho? Haha, claro que não, né? Depois de todos esses eventos tão traumatizantes, a mente de Norman vaga para o período mais feliz dele e de sua mãe, quando os dois estavam indo para o Bates Motel, recomeçar a vida, apenas os dois, felizes, sorridentes. Os cortes das cenas ensolaradas, para o rosto sangrando, o cenário frio e o corpo congelado de Norma mostram como o seriado é brilhante.
A forma como Dylan entra na história é ainda mais simples. Norman vai fazer o check-in de uma mãe e seus dois filhos no hotel, e descobre que um deles se chama Dylan: “O mesmo nome do meu irmão”. E então liga para o irmão, sem nenhuma lembrança dos últimos cinco anos, querendo saber como ele está. Ele conta sobre a mudança da família para o hotel, e diz que a mãe gostaria muito que ele fosse visitá-los.
Momentos antes de Norman receber o tiro disparado por Dylan, que tira sua vida, ele diz algo que faz com que toda a série faça sentido: Se você quiser muito alguma coisa, é só acreditar, que ela pode se tornar realidade. E após ser ferido, nos últimos momentos de vida, ele finalmente imagina o reencontro com a mãe. E a cena final, gente? Que cena final foi aquela? A lápide, os dois enterrados juntos…
Fim de Romero
O final de Romero pode não ter sido muito bom para os fãs do personagem, mas para mim, que enxergava ele como um vilão (desculpa gente, sou time Norman mesmo, admito!), foi o fim certo.
Primeiro, ele consegue algo que queria desde a morte de Norma, que é confrontar o filho dela. Ele aponta para o corpo da esposa e grita para o garoto que foi ele quem matou ela. Romero precisava disso. E mais, precisava ver ela mais uma vez, se despedir da forma correta (lembram que ele discutiu com o Norman no velório e foi embora?), e ele consegue tudo isso nos seus momentos finais. E claro, depois ele morre pelas mãos de Norman. O que, vamos ser sinceros, a gente já sabia que iria acontecer em algum momento. A briga entre os dois pelo amor de Norma só poderia ter um fim trágico. Até porque, ele não tinha mais futuro nenhum. Era um homem desesperado atrás de vingança, fugitivo da polícia, assassino.
Fim de Dylan
Outro final que surpreendeu. Quem achava que Dylan iria matar Norman, levante a mão. Pois é. O irmão, que teve uma vida supersofrida, fruto de um estupro, ignorado pela mãe, finalmente estava levando uma vida tranquila. Casou com Emma, teve uma filha, estava morando em outra cidade… E aí descobre que a mãe morreu e que o irmão está completamente louco. E na cena final, com Norman, mais uma coisa fica clara: tudo o que ele queria, era o mesmo que Norman queria, uma vida feliz, tranquila, com a família unida. Mas a vida real está ali, na sua frente. A mãe que ele não via há dois anos está morta na mesa de jantar, o irmão está segurando uma faca na sua frente, em uma última tentativa de se agarrar ao mundo fantástico que ele criou, e não há mais saída.
Dylan quer o bem de Norman, por isso se recusa a chamar a polícia, como Emma sugere. Ele sabe que não tem como ter um final feliz, mas não quer quer o irmão seja maltratado. No final, segurando a arma, ele toma a decisão de terminar com o sofrimento de Norman, ao mesmo tempo que se defende e evita se tornar mais uma de suas vítimas.
Enfim, ele volta para Emma e sua filha, e eles podem finalmente começar a vida que querem, longe de toda essa enorme confusão que aconteceu no Bates Motel.
A redenção de Marion Crane
Eu não posso deixar de fora o grande momento de Rihanna na série. A cantora e atriz entrou na trama para dar vida a icônica personagem de Psicose, Marion Crane. Mas como os roteiristas já haviam avisado, eles não recriaram a cena do chuveiro, em que ela é esfaqueada. Desta vez quem é morto no banheiro do hotel é o seu namorado, que, na realidade, era casado com uma empresária da cidade. Marion, ao descobrir que havia sido enganada, em um momento de raiva e vingança, arrebenta o carro do namorado. Não há nada mais incrível do que ver a vítima de Psicose se livrando do destino que todos achamos que ela iria ter, e aparecendo na tela como uma mulher forte, furiosa, e inteligente. Mais uma vez, temos que agradecer aos roteiristas por isso. E que Marion tenha uma vida melhor, seja lá onde ela estiver!
É isso, acabou mesmo. Hora de fazer o check-out e ir atrás de uma nova série queridinha. Mas no mesmo nível de Bates Motel… Vai ser difícil pessoal, muito difícil.
Caso você tenha curiosidade, aqui tem algumas das cenas (em inglês) do teste de elenco com os atores principais.