Não é de hoje que Fernanda Nobre entra na casa de cada um de nós. Aos 8 anos de idade, ela vivia Bibi na novela Despedida de solteiro (1992) e, hoje, continua na ativa, como a Diana na novela Deus salve o rei. “É ótimo poder fazer uma personagem tão forte”, afirma a atriz.
O tempo passou, Fernanda cresceu e aquela menina cuja infância foi “diferente” se tornou uma mulher combativa. “Estamos passando por um momento histórico de mudanças de paradigmas, a mulher hoje é um ser político, de luta. Não há nada mais lindo do que isso! Estamos modificando o comportamento das novas gerações e isso é enorme!”, diz Fernanda, que foi indicada a prêmios no teatro ao viver uma refugiada bósnia que sofria abuso sexual no espetáculo O corpo da mulher como campo de batalha.
É nesses campos de batalha ー do feminismo, da entrega à arte, da resistência ー que Fernanda vive. E foi sobre tudo isso que ela falou ao Próximo Capítulo. Leia abaixo!
Fale um pouco sobre a Diana…
A Diana é uma personagem muito forte, batalhadora e ambiciosa. Ela é uma mulher meio solitária que, por ter sofrido bastante e não saber escolher muito bem os rapazes, tem muita dificuldade em lidar com seus relacionamentos e acaba se colocando em algumas roubadas para viver uma grande paixão. É ótimo poder fazer uma personagem tão forte.
Como foi a preparação para viver Diana?
Fizemos um mês inteiro de preparação, durante 9 horas por dia, com o Eduardo Milevicz para chegarmos a um entrosamento bacana entre o elenco e virarmos um time com uma mesma linguagem de atuação. Foi ótimo porque pesquisamos referências e compusemos os personagens juntos. Foi um processo fundamental!
Mesmo antes de estrear, Deus salve o rei foi muito falada, especialmente com comparações com Game of thrones. Isso aumentou a pressão em cima de vocês?
Não pelas comparações com Game of thrones em si (Saiba o que a gente acha dessa comparação!), mas pela expectativa do público. Essa é uma novela com uma produção completamente inovadora, normal que haja expectativas! Nós, que somos artistas, queremos sempre nos entregar da melhor maneira para o personagem. Estudamos, buscamos referências, tudo para que o público se identifique com a trama. A pressão que sentimos é a de fazer o nosso melhor trabalho e isso é o que nos move como artistas e em qualquer produção.
Você passou pela Record e pela TV por assinatura antes de voltar à Globo, onde começou a carreira. O modo de criar um personagem para uma novela e para um seriado da TV fechada é muito diferente? Por quê?
Na verdade, o modo de criar de cada personagem é um trabalho de construção junto com o diretor da obra. Cada trama exige de maneira distinta uma pesquisa para que a gente consiga construir um personagem. Mas a linguagem e técnica de atuação de uma novela é a mesma para um seriado da TV fechada. Neste sentido técnico, a não ser em casos muito específicos, não faz diferença.
Você passou um tempo estudando em Londres. O que essa experiência te trouxe? Já dá para dizer que o aprendizado por lá está sendo posto em prática?
Com certeza o que sou hoje é o resultado dessa experiência. Foi um momento essencial para eu descobrir quem eu sou de verdade e me reinventar, estipular meus limites e ambições. Me sinto uma outra pessoa depois desse ciclo. Sou a prova viva de que podemos ser muitos numa mesma vida!
No teatro, em O corpo da mulher como campo de batalha, você vivia uma refugiada bósnia que sofria abuso sexual. A temática da violência contra a mulher está sendo discutida em diversas obras, de Malhação à novela das 21h. Você acha que essa discussão acaba se refletindo de alguma forma na vida real?
Sim, e principalmente por isso é tão importante que essa discussão aconteça. A função da arte é pensar a sociedade e a condição humana. Me sinto lisonjeada de exercer minha responsabilidade social como artista trazendo um espetáculo que tem a importância de alertar e aprender junto com o público o quanto a realidade feminina é cruel. Estamos passando por um momento histórico de mudanças de paradigmas, a mulher hoje é um ser político, de luta. Não há nada mais lindo do que isso! Estamos modificando o comportamento das novas gerações e isso é enorme!
Você sente que a realidade dos abusos contra as mulheres está diferente?
Apesar de achar que ainda precisamos percorrer um longo caminho, percebo que atualmente existem algumas mudanças positivas como a possibilidade de discutirmos o assunto e o número de mulheres que possuem a coragem de denunciar os abusadores. Há pouco estouraram os escândalos de assédio em Hollywood, mas isso acontece aqui também. Está mais perto do que imaginamos. Infelizmente, na sociedade em que vivemos, ser mulher é ser tratada como um ser que deve servir, ser abusada, ter medo de andar na rua, ter o seu corpo sempre demonizado como algo que deve estar a serviço do desejo do sexo oposto. Mas com a retomada do movimento feminista, estamos mudando essa realidade. É muito importante criarmos uma sociedade em que a gente possa se sentir segura para ser livre. Confio que, juntas, vamos conseguir uma mudança verdadeira.
Você começou a carreira muito cedo, ainda criança. Ter o tempo dividido entre os sets de gravação e a escola atrapalhou sua infância de alguma maneira?
Não diria que atrapalhou. Mas fez com que a minha infância fosse diferente. Desde muito cedo aprendi o que era responsabilidade e comprometimento. Apesar de o meu trabalho ser muito lúdico, o dia a dia é duro com muitas exigências. O mercado de trabalho não é um lugar para crianças. Mas eu tive a sorte de ser filha de uma psicanalista, o que fez com que eu passasse por esta experiência com muita saúde emocional.
As pessoas ainda se espantam quando te encontram na rua e veem que “você cresceu”?
Acho que não porque elas acompanharam este crescimento. Em nenhum momento, em todos esses anos, eu estive fora da televisão.
Como é seu trabalho à frente da grife Mini Alice? Você desenha as roupas, participa de alguma forma da criação…
A Mini Alice foi uma doce surpresa na minha vida, sou uma amante da moda e acompanho as tendências desde muito nova, há algum tempo reencontrei uma amiga de infância, a Juliana Couto, e juntas decidimos investir na marca de roupas para meninas de 1 a 8 anos. Eu amo participar de tudo que se refere a marca e a minha participação na marca é principalmente no desenvolvimento criativo de cada nova coleção.
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