Recém-saído de Terra e paixão, o ator de 33 anos está no ar, ao mesmo tempo, na série Luz e no filme The Smoke Master, ambos na Netflix
Patrick Selvatti
Quem acompanhou a reta final de Terra e paixão, deparou-se com a presença do ator Daniel Rocha como o Natercinho, um pretendente de Anely (Tatá Werneck). O trabalho marcou o retorno às novelas do ator que foi revelado em Avenida Brasil (2012) e dois anos depois protagonizou Império (2014), ganhadora do Emmy Internacional. Ele esteve fora do gênero por sete anos, desde que fez A lei do amor (2016), também na Globo. Esse hiato, entretanto, não significou uma pausa na carreira. Nesse período, o paulistano de 33 anos registrou presença em trabalhos no cinema e no streaming, com filmes e séries. Duas dessas produções, inclusive, acabam de estrear na Netflix: a série Luz e o filme The Smoke Master, os quais protagoniza.
Confira o bate-papo do ator com o Próximo Capítulo
ENTREVISTA | Daniel Rocha
Terra e paixão marcou seu retorno às novelas após sete anos. Como foi estar de volta ao gênero e em uma produção já na metade?
Eu cheguei em um momento da novela onde todos já se conheciam, já tinham gravado milhares de cenas, e já estavam cansados. Eu fui muito recebido por todos, meu núcleo me abraçou. E como ator, tive de dar tudo de mim, porque além de ser a minha volta às novelas, o Natercinho exigiu o mais difícil de um ator: fingir ser um ator canastrão, ao mesmo tempo que existia ali uma comicidade ingênua, inocente. Eu me entreguei, amei descobrir esse meu lado cômico, e amei trabalhar com a Tatá, que é gênia, e com o Rainer. Foi incrível voltar para uma novela, que é algo que eu naturalmente sei fazer.
Esse intervalo foi marcado por trabalhos no streaming. Como você enxerga esse novo mercado?
O streaming veio para mudar a forma como consumimos o que assistimos, dando ao espectador o poder de escolha do que ele quer ver. O investimento do streaming nas produções é surreal, e podemos ousar mais, explorarmos novos formatos. É mais artístico e artesanal. Mas a televisão é um patrimônio brasileiro, e em um país tão desigual como o nosso, a televisão é o único meio de cultura, entretenimento e informação que chega para a maioria das pessoas. Então, o streaming ainda poderá crescer muito no Brasil.
A série Luz é seu primeiro trabalho em uma produção infantil? Como foi essa experiência?
A minha geração cresceu em frente à televisão, assistindo fantasia infantil juvenil no começo dos anos 90. Tinha muita coisa de fora, eu adorava Escrever o nome, mas também tinha o Cao Hambúrger fazendo Castelo Rá Tim Bum. Depois, na minha adolescência, veio Harry Potter. Eu lia os livros, via os filmes. Então eu pensei: o que o Daniel com 10 anos gostaria de assistir hoje? E me inspirei em Indiana Jones e em Harry Potter para viver o Marcos. Eu e o diretor somos amigos de longa data, então eu me joguei, as crianças eram todas geniais, e foi uma experiência muito peculiar na minha carreira! Tem que pensar que você chega em um set às seis da manhã, e as crianças estão todas correndo, gritando, passando texto. É muita energia! Eu entrava em todas as brincadeiras, e elas me achavam mais crianção do que elas! Fé cênica pura!
Você foi revelado em Avenida Brasil. Como foi à época estar em um estrondoso sucesso logo no primeiro trabalho e qual é a maior lembrança que tem?
Foi surreal! Um dia, eu era o Daniel, um jovem artista, estudando com o Antunes Filho. No outro dia, eu era o Daniel Rocha, que não podia mais andar na rua! Avenida Brasil foi a novela mais importante do Brasil das últimas décadas. A novela uniu o Brasil, todas as noites. Ninguém deixava de ver um capítulo! Foi uma responsabilidade linda trabalhar com um dos maiores novelistas desse país! O último episódio foi único na teledramaturgia brasileira, que literalmente parou esse país. O ibope era insano. As pessoas se reuniam para assistir, em todos os cantos do país, faziam bolão, foi concretizar um sonho, e entregar o melhor trabalho que eu pude!
E como é ter no currículo estar entre os protagonistas de uma produção premiada pelo Emmy Internacional?
Eu sou muito sortudo! Eu tive o privilégio de fazer grandes novelas, e Império era de uma elegância indescritível. Aguinaldo Silva é um novelista que surpreendia os atores com um presente diário, que era o desafio de fazer aquela novela ser tão perfeita! O João Lucas era uma reviravolta por capítulo! Estar ali diariamente contracenando ao lado do (Alexandre) Nero, da Lilia (Cabral), Leandra (Leal), Drica (Moraes), Marjorie (Estiano), Andrea (Horta), Caio (Blat)… era a certeza de que eu estava fazendo algo muito certo na minha vida, e que ela seguia os rumos que eu trabalhei muito para conseguir. E o Emmy veio para coroar isso. Os prêmios das minhas novelas triplicaram a minha responsabilidade com o meu trabalho. Imagina! Um Emmy Internacional, o prêmio mais cobiçado por qualquer artista de língua não inglesa! Ator que é ator tem que estudar, estudar muito, e para sempre!
No cinema, você teve a oportunidade de interpretar um homossexual no filme Quem vai ficar com Mário e, em Avenida Brasil, o Roni tinha uma tendência que acabou indo para o lado cômico e acabou sendo ofuscada. Qual a importância para você de se tratar desse tema com profundidade?
Quem vai ficar com Mário foi uma refilmagem italiana, um personagem que chegou pronto, mas que tive de abrasileirar. O filme foi lançado no auge da pandemia, então muita gente estava em casa, e assistiu. O filme foi muito bem recebido pela comunidade LGBTQIAPN+. Recebi só elogios. Quando você que é um ator cisgênero, heterossexual, e recebe o carinho e o aval da comunidade, é uma experiência muito linda! Se o Roni estivesse no ar hoje, os rumos do personagem teriam sido diferentes. Somente o tempo permitiu liberdades e verdades na teledramaturgia, nas séries e no cinema. É muito feliz viver em um tempo onde as pessoas podem ser o que elas são, e a cultura dessa época acompanhar. Hoje, temos grandes filmes, grandes livros, grandes personagens gays, trans, bis, travestis. E espero que o espaço para todo mundo poder contar sua história seja um lugar permanente, porque é na diversidade que a vida se faz e a arte se encontra. Homofobia existe no Brasil, e muito. Transfobia, mais ainda. A aceitação gigantesca pelo público, de personagens de todos os gêneros, nas últimas novelas, principalmente Terra e paixão, mostra que o amor está vencendo, e que a nossa contribuição como artista para a sociedade evoluir, é imensa.
Pode falar dos projetos para 2024?
Eu sou um ator que corre atrás, que estuda, que consome cultura, que sempre quer mais. Recentemente, eu me formei no método Stella Adler. Que exigiu muito de mim. Eu quero experienciar a minha carreira em todos os lugares que um ator pode experienciar. Eu estou com saudade dos palcos, e posso contar que venho trabalhando com muito amor com o Teatro! Eu também vivo criando histórias. Tenho um lado roteirista muito forte, mas não sou o cara que escreve cena por cena, mas o cara que têm muitas histórias novas para serem contadas. Está tudo na minha cabeça, o tempo todo! Escrevi um filme, que é um projeto querido a mim, que conta um pouco do que eu vivo, vivi, quis viver ou ainda quero viver, e que será a realização de um sonho pessoal. Carreira internacional também é um lugar que eu tenho vislumbrado, com dois pés no chão e muito trabalho. Mas, por enquanto, eu posso contar que quero muito voltar para as novelas, que sou protagonista de Luz, na Netflix, e que irei logo mais gravar Recife Assombrado 2, um filme de terror, em Pernambuco, que aliás, é um dos lugares mais pensantes e pulsantes de cinema desse país! E finalmente, The Smoke Master, que ganhou o Prêmio do Público na Mostra Internacional de Cinema de 2022, fez seu debut nos cinemas, foi uma loucura! Sessões lotadas! Dois diretores muito queridos, o André Sigwalt e o Augusto Soares. Estreou como uma aquisição da Netflix. Um filme indie, o primeiro filme de ode ao kung-fu do planeta, misturado com maconha! Sim, eu sou um ator que sempre invento e me reinvento!