Cria do teatro, Armando Babaioff se destaca em Segundo sol na pele do policial Ionan
No último ano, o ator Armando Babaioff, 37 anos, foi uma das estrelas do teatro brasileiro. Ele se destacou no espetáculo Tom na fazenda, que lhe garantiu prêmios e até reconhecimento fora do Brasil: “Tenho muito orgulho do que estamos fazendo com a trajetória dessa peça, levar adiante se torna a minha meta neste momento. Quero levar para os interiores, quero aproveitar esse reconhecimento para levar essa peça para todos os cantos desse país”.
A trajetória no teatro, inclusive, fez com que ele voltasse às novelas a convite do diretor Dennis Carvalho, com quem já havia trabalhado em Sangue bom. “Dennis assistiu à peça, e, a partir dali, surgiu o convite para o elenco de Segundo sol”, lembra. Na trama, ele dá vida ao policial Ionan, personagem que integra vários núcleos do folhetim, como o da família Falcão, formada por personagens vividos por Arlete Salles, José de Abreu, Emílio Dantas, Vladimir Brichta e Luis Lobianco, da polícia e da relação com a esposa Doralice, papel de Roberta Freitas. Característica que Babaioff destaca: “Isso me dá a possibilidade de apresentar várias características de Ionan”.
Entrevista / Armando Babaioff
Como foi a preparação para viver o policial Ionan?
Em um primeiro momento, tivemos encontros com o elenco. Nesses encontros, tivemos a oportunidade de experimentar, por meio de improvisos, a relação entre os personagens, o que é muito bom, pois é nesse lugar de criação que vai nascendo a identidade de cada personagem. Fiquei muito focado no caráter do personagem e na forma como ele reage a cada situação. O Ionan circula muito na novela, em diversos cenários. Isso me dá a possibilidade de apresentar várias características dele. Para cada personagem, o Ionan reage de uma forma. O que torna o personagem mais rico.
No seu núcleo, você atua ao lado de grandes nomes da tevê brasileira, como Arlete Salles e José de Abreu, além de figuras mais jovens, mas também importantes como Emílio Dantas e Vladimir Brichta. Como é essa troca em cena?
A melhor possível. São todos atores extremamente criativos e inquietos. Entendi o que seria esse núcleo quando estávamos gravando na Bahia e ficamos hospedados, todos juntos, em uma pousada em Porto Seguro. No fim do dia, estávamos sentados na piscina da pousada, conversando sobre diversos assuntos, sobre as nossas vidas e a dos personagens. Ali, naquele instante, nascia a família Falcão. Depois daquele dia, criamos um entrosamento muito forte, uma admiração mútua. Todos defendem seus personagens com tanta força e verdade, é lindo de se ver.
Você nasceu no Recife. Isso te ajudou na hora de fazer o sotaque do Ionan ou foi ainda mais difícil por serem sotaques distintos?
O fato de ser nordestino, apesar de serem vários Nordestes em uma mesma região, me coloca de cara em outro lugar. Ter morado no Recife, convivido com pernambucanos, viajar sempre para lá, ter como referência cultural, musical, artística, me faz entender o “ser nordestino”. Até a forma de pensar é diferente, a lógica é diferente, a construção de uma frase. Com relação ao sotaque, eles são completamente distintos. O sotaque pernambucano nada tem a ver com o sotaque baiano e olha, assim como o sotaque “pernambucano”, que não existe um apenas, são muitos os sotaques baianos, mesmo na capital, Salvador. Eu tive um trabalho muito grande, logo de início, de trabalhar minha escuta, mesmo tendo um bom ouvido. Precisei criar um vocabulário para Ionan. Um policial, correto, mas que trabalha por toda a cidade, com todo tipo de gente. Lógico que existe influência e deixei me levar por isso. Ele tem uma maneira própria de se apropriar do sotaque. É um personagem que de mim exige muita atenção, pois é quase uma composição.
A vida amorosa de Ionan com Doralice é conturbada. O que podemos esperar da história do casal nos próximos capítulos?
Doralice não é fácil, ela realmente tem esse ciúme descabido, ainda mais confrontando com o caráter ilibado de Ionan, o que amplia ainda mais a loucura dela. Doralice vai precisar passar por algumas provações antes de chegar a um equilíbrio. Temos mais Doralices por perto do que imaginamos.
Apesar de estar agora na televisão sua carreira teve início no teatro. Como foi lá atrás o seu envolvimento com a carreira de ator? O que te fez seguir esse caminho?
Faço teatro desde os 11 anos, tive o privilégio de ter contato com isso que seria a minha profissão desde muito cedo. Desde então eu nunca deixei de pensar no teatro um dia sequer da minha vida. Aos 15 anos, defini que esse seria o caminho que queria seguir, então fui me organizando. Nunca tive dinheiro para pagar cursos de teatro particulares, sempre estudei a minha vida inteira na rede pública de educação, e assim foi quando fiz teatro no CEI em Quintino, na Escola Estadual de Teatro Martins Penna, onde me formei e tenho muito orgulho em ser ex-aluno, e na Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO). Não sei te dizer o que me fez exatamente naquela época querer ser ator, até porque o que entendo hoje como ser ator passa mais por um lugar de eterna formação. A gente se torna ator. Toda vez que me perguntavam a profissão, eu dizia estudante de teatro e posso afirmar que passei mais tempo na minha vida dizendo que era estudante de teatro do que ator. Ainda tenho muito de estudante em mim e vejo esse trabalho como um eterno retorno as minhas origens, minha essência, quem sou eu de fato nesse lugar. Meu objetivo com isso tudo, a minha inquietude, o que me move como artista é em dizer ao mundo o que penso dele.
Com o espetáculo Tom na fazenda você teve bastante reconhecimento ganhando vários prêmios. Como foi para você essa experiência e esse feedback?
Ainda está sendo. Tom na fazenda encontra um momento no nosso país bastante propício para que o espetáculo acontecesse da forma como foi. Não sei se uma montagem dessa peça cinco anos atrás teria tido o êxito que teve. Seis temporadas na cidade do Rio de Janeiro. Algumas viagens para festivais e talvez a mais importante delas para o FTA (Festival TransAmeriques), em Montreal, na cidade do autor do espetáculo. Essa viagem abriu as portas de um mercado que eu não conheço, estamos respondendo a vários convites para viajar com o espetáculo para fora do Brasil e isso me deixa bastante excitado. Mas o que me deixa realizado é em ser o produtor e idealizador desse espetáculo e de ter encontrado nesse texto um lugar que dava vazão a várias questões que eu tinha interesse em discutir e colocar em cena. Não só ao fato de estar em cena, mas esse combo que a peça se tornou para mim. Tem a questão de produzir teatro em um ano em que os teatros estão fechando. É insistir, é resistir naquilo que é a minha profissão, meu ofício, meu ganha pão. A única coisa que sei fazer e que está sendo tratada pela política como um problema, um excesso, como algo desnecessário e danoso para a sociedade. Mais do que o reconhecimento pelo trabalho em si, eu tenho muito orgulho do que estamos fazendo com a trajetória dessa peça, levar ela adiante se torna para mim a minha meta nesse momento. Quero levar o Tom para os interiores, quero aproveitar esse reconhecimento do nosso trabalho para levar essa peça para todos os cantos desse país.