Jurema Reis sempre foi apaixonada por história — desde os tempos de colégio. Por isso estar em Novo mundo (leia aqui a crítica da novela) está sendo especial para a intérprete da índia Jurema. Mais do que o nome, as duas têm em comum a preocupação com a luta das minorias. Feminista confessa (“Se ser feminista significa buscar igualdade de gêneros, posso dizer que eu sou”), ela sabe que a televisão pode ser uma aliada nessa caminhada.
“A televisão tem um papel evidente na sociedade, e com isso uma responsabilidade de apresentar o mundo como ele é: com negros, mulheres, índios, transgêneros, homossexuais! Acho que de alguma forma a teledramaturgia vem dando um pouco mais de espaço para esses assuntos.”
Em sua quinta novela, Jurema não quer ficar parada, mas faz mistério quanto ao futuro: “Estou contactando novos projetos, claro… Mas acho que cabe um descanso, viajar sempre está nos meus planos!”
Novo mundo retrata um período específico da história do país. Como tem sido pra você participar de mais uma novela de época?
História sempre foi uma das minhas matérias favoritas na escola, então o assunto é sempre um prazer muito grande pra mim… Até porque adoro novela de época! A carreira de atriz me presenteia com essa oportunidade onde, além de construir um personagem diferente de quem sou, me possibilita conhecer e vivenciar épocas, mundos e costumes completamente diferentes dos meus. É um desafio e requer muito estudo e dedicação, pois é uma entrega, mesmo! Sou hiperdisciplinada, então caio de cabeça!
Conte um pouco da preparação para viver uma índia na tevê.
Fizemos uma visita a Marabá, no Pará, em um aldeia chamada Parkateje. Ficamos na aldeia (eu, Giulia Buscaccio, Allan Souza Lima, Rodrigo Simas e Chay Suede) por uns dias. Lá convivemos com os índios, ouvimos suas histórias, participamos de suas atividades… E até fomos batizados com nomes indígenas! Essa foi uma experiência incrível! O que me deixou encantada (não só na aldeia, mas em todos os registros de vídeo que vi) é como eles lidam com o tempo. Não existe urgência! Eles contemplam a vida, o todo ao seu redor. Foi um aprendizado imenso. Além disso, fiz um trabalho de prosódia e corpo com a Íris Gomes e a Ana Kfouri, e também assisti a muitos filmes e documentários.
Você acha que falta espaço para a representatividade de minorias, como os índios e os negros na tevê?
Acho que temos um logo caminho a percorrer. Ainda há muito preconceito em torno das minorias – e aí digo todas elas, sejam étnicas, religiosas, de gênero… A falta de representatividade é um problema muito sério! A televisão tem um papel evidente na sociedade, e com isso uma responsabilidade de apresentar o mundo como ele é: com negros, mulheres, índios, transgêneros, homossexuais! Acho que de alguma forma a teledramaturgia vem dando um pouco mais de espaço para esses assuntos.
Como resolver essa questão?
Tudo que é desconhecido assusta, amedronta e é passível de algum julgamento, apenas como defesa… Isso é do ser humano. Acho que a sociedade precisa se abrir para o novo – e, na verdade, na maioria dos casos nem novo é, apenas são assuntos pouco ou mal divulgados. Dar acesso ao conhecimento e a essas informações é determinante! A grande questão está em não olhar apenas pra dentro de si, mas respeitar o espaço do outro e quem ele é! A tevê, com o alcance que tem (a maioria do povo brasileiro tem e assiste a tevê aberta), deve cada vez mais apresentar e representar essas personalidades. Isso é necessário!
Em Babilônia, sua personagem discutiu a questão do aborto. Assuntos como esse tabu merecem mais espaço na tevê aberta?
Sempre é muito delicado falar desse tema. Ainda é muito mais fácil quando se trata de um personagem fictício, como no caso. A Rosângela fez um aborto porque engravidou do patrão, que era vivido pelo Marcos Palmeira, com quem ela não tinha vínculo afetivo – e ainda foi comprada por ele pra tomar essa decisão. Então, acaba sendo menos complexo do que na vida real. Sobretudo por ser pouco falado abertamente e compreendido, de modo geral, acho que esse assunto sempre deve ser levantado. Muitas mulheres morrem em decorrência de abortos mal feitos. Acredito que a teledramaturgia pode, sim, clarear muito esse quadro, que está longe de ser o ideal… Se falássemos mais sobre natalidade, sexualidade, métodos contraceptivos e se as mulheres conhecessem um pouco mais o seu corpo, essa triste realidade em torno do aborto seria bem diferente. E isso falando sem entrar em casos de violência sexual, porque o buraco é bem mais embaixo!
Como foi a repercussão na época?
Sendo um tema pouco discutido e muito polêmico, repercussão sempre tem, né?! E teve… Porém, foi mais em torno da atitude dela de levar alguma vantagem em cima daquela situação, porque ela ganhou dinheiro para ficar quieta e não expor o prefeito, do que a questão do aborto em si.
Você esteve em Lado a lado, novela premiada com o Emmy. Como foi a sensação de participar de uma produção como aquela?
Lado a Lado é uma novela tão especial… Fui muito feliz dando vida à Gilda, uma menina batalhadora e à frente do tempo dela! Se ser feminista significa buscar igualdade de gêneros, posso dizer que eu sou e a Gilda também era! Essa personagem foi um presente dos autores João Ximenes e da Claudia Lage. E como em Novo Mundo, também nos unimos (todos, elenco e equipe) para contar aquela história tão necessária! Falava justamente de toda essa representatividade que desejamos, da questão da mulher, do negro, da religião. A novela concorreu ao Emmy com produções de muito sucesso, incluindo Avenida Brasil, que foi um sucesso na época. E saímos vencedores! Foi um orgulho!
Você já tem planos para depois de Novo mundo?
Sou libriana, programada e organizada (risos)! Estou contactando novos projetos, claro… Mas acho que cabe um descanso, viajar sempre está nos meus planos!
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