Dentro e fora das telas, Christine Fernandes se destaca pela força de personagens como a Josephine de Orgulho e paixão ou participando de programas como o Saia justa
“Quem nunca teve a vontade de ir pra um lugar distante onde ninguém te conhecesse e recomeçar do zero? Nem que seja por um instante?”. A pergunta é da atriz Christine Fernandes e serve para explicar as atitudes de Josephine, personagem que ela defende na novela Orgulho e paixão, (leia entrevista com Jacqueline Sato, a Mariko da novela) na faixa das 18h da Globo. Ela passou anos desaparecida, se fingindo de morta para escapar das agressões do marido. “Se ela ficasse, teria morrido ー ou assassinada pelo marido brutal ou de infelicidade. O novo é sempre um horizonte muito atraente”, continua a atriz.
Fora das telas. Christine conta que também é assim: obstinada, corajosa, um passinho à frente do tempo dela. “Saí de casa aos 16 anos, fui para o exterior buscar caminhos, novas rotas e voltei muitos anos depois só, e com uma vida muito mais rica. Cresci nas dificuldades e amadureci nos erros e acertos, e o melhor: não me arrependo de nada”, orgulha-se.
Geralmente estamos acostumados a ver atores defendendo o ponto de vista de um personagem. Com Christine já foi diferente. Em 2011 ela integrou o time do programa Saia justa, ao lado de Mônica Waldvogel, Teté Ribeiro e Camila Morgado. “É arriscado ter opinião na tevê, ou em qualquer veículo de grande alcance. Mas sou meio kamikaze, gosto do risco, de expor minhas ideias. Me sentia nua ali, sem personagem, mas foi incrível. Aprendi a formular minhas ideias e verbalizá-las sem filtro, porém com responsabilidade”, afirmou a atriz, que completou 50 anos no início deste ano.
Pensa que Christine passou por uma crise por causa da idade? Que nada! Nem pessoal, nem profissional: “Ter mais ou menos idade importa menos do que ter a compreensão da personagem. O lance não está na idade que você tem, mas na que você imprime e no que expressa através da personagem.”. Sábia essa cinquentinha!
Leia a entrevista completa com a atriz Christine Fernandes!
Você diria que a Josephine é uma mulher à frente do tempo dela ou o mundo é que parou e nós ficamos da época de Josephine?
Acho que a Josephine é uma mulher com coragem de mudar tudo, correr todos os riscos em busca de sobrevivência e felicidade. Pessoas assim estão sempre um passo à frente de seu tempo.
Josephine passou dez anos se fazendo de morta para escapar dos abusos do marido. O que te levaria a fazer o mesmo?
Quem nunca teve a vontade de ir pra um lugar distante onde ninguém te conhecesse e recomeçar do zero? Nem que seja por um instante? No caso da Josephine, se ela ficasse teria morrido, ou assassinada pelo marido brutal ou de infelicidade. O novo é sempre um horizonte muito atraente.
Josephine é uma mulher muito forte, decidida, sem medo de lutar pelo que quer. A Christine também é assim?
A Christine também é assim. Saiu de casa aos 16 anos, foi para o exterior buscar caminhos, novas rotas e voltou muitos anos depois só, e com uma vida muito mais rica. Cresceu nas dificuldades e amadureceu nos erros e acertos, e, o melhor, não se arrepende de nada.
Você fez muitas novelas de época. Ter a composição de outro tempo ajuda a dar vida a um personagem?
Tenho intuitivamente um entendimento de épocas distantes. Talvez pela leitura. Li muito, especialmente clássicos da literatura, que traduzem muito bem épocas de que não tenho memória física, mas que, de alguma forma, fica impregnado no leitor. Talvez isso, aliado a um physique du role, ajude a compor.
Você participou de novelas na Globo, na Record e na Band. Tem muita diferença entre as emissoras?
Sou atriz e busco personagem. Para mim, as personagens me chamam, em qualquer emissora, eu estou focada no meu ofício, que é ajudar a contar aquela história através da minha personagem. O veículo é o mesmo. Câmera e estúdio. Para mim, no processo, nada muda. Com o entorno tento me envolver menos. Alguns vão te dar melhores condições de trabalho e você aproveita, outros não, e isso não pode afetar seu rendimento. Me mantenho concentrada na minha parte do quinhão, a personagem.
Sente saudades da época em que jogava vôlei? Você herdou daí o hábito de se exercitar com regularidade ou parou?
Sinto muita falta de ser atleta. Adquiri o hábito do esporte desde cedo e nunca perderei, no entanto, não tenho mais uma rotina de competição, o que era um grande tesão para mim. Mas, tudo bem, levo pra vida o tesão da saúde, esse nunca perderei
Você foi apresentadora do Saia justa. Ali estava a Christine Fernandes e não uma personagem. É muito diferente a sensação de defender as próprias ideias na tevê?
Sim. Arriscado ter opinião na tevê, ou em qualquer veículo de grande alcance. Mas sou meio kamikaze, gosto do risco, de expor minhas ideias. Me sentia nua ali, sem personagem, mas foi incrível. Aprendi a formular minhas ideias e verbalizá-las sem filtro, porém com responsabilidade. Libertador.
Você tem vontade de voltar a apresentar um programa? Como seria uma atração com a sua cara?
Eu gostaria sim. Gosto de um bom papo. Cinema, filosofia, esportes, ciência, tudo me interessa. Sou curiosa por natureza. Eu gostaria de aprender mais e num programa teria essa chance, de dividir conhecimentos que vou adquirindo. Dividir conhecimento é o que me interessa.
Você nasceu em Chicago. Não seria mais fácil ou promissor tentar uma carreira nos EUA do que aqui? Por que?
Minha família está no Brasil. Perdi meu pai. Não quero deixar os meus sozinhos. E hoje tenho um filho que joga futebol e não quer morar lá. Talvez um dia isso mude. Se mudar, vou amarradona. Aliás, vou feliz pra qualquer lugar do mundo. Sou cigana por natureza.
Depois do SuperChef Celebridades, sua relação com a cozinha mudou?
Mudou. Fiz uma obra em casa e tenho uma cozinha decente. Descobri o prazer – senão de cozinhar bem, ao menos tentar.
Você também esteve no Dança dos Famosos. Participaria de outro reality show? Qual?
Não sou muito de reality. Ali foi um pedido muito especial da Globo. Não é muito do meu temperamento.
Você completou 50 anos em 2018. Passou por alguma crise por causa da idade?
Nenhuma crise. Me sinto ótima. E se ninguém fica me lembrando, esqueço total minha idade.
Tem medo de os papéis irem se tornando escassos?
Na minha profissão há papéis interessantes para qualquer idade. Podem não ser as protagonistas, mas sempre haverá mulheres interessantes para serem retratadas. Espero ter sorte de vivê-las.
Você quase sempre vive mulheres mais novas do que você. Já ter passado pela fase da vida dessas personagens te ajuda? E o lado da vaidade como fica?
A vaidade é algo que limita o ator, portanto, deixo-a no camarim antes de entrar em cena. Ter mais ou menos idade importa menos do que ter a compreensão da personagem. O lance não está na idade que você tem, mas na que você imprime e no que expressa através da personagem. Foco nisso sempre e me jogo!