Os realities shows invadiram a televisão brasileira nos anos 2000, quando a tevê aberta resolveu apostar nas próprias versões de formatos de sucesso internacional do gênero. No limite, Big brother Brasil e Casa dos artistas foram os primeiros projetos lançados a conquistar o público. Os anos se passaram e os realities mudaram. Vieram as disputas musicais, de dança e até gastronômicas.
Em 2020, o mercado vive um novo e bom momento impulsionado por diferentes dinâmicas e pela força da internet. O Big brother Brasil que, no ano passado, amargou números baixos de audiência, finalmente se recuperou, reconquistando o público tradicional do sofá, que acompanha os episódios exibidos na Globo, e engajando o público da internet, que acompanha pelo Globoplay e interage pelas redes sociais. Neste ano, inclusive, o programa bateu recorde de votação no paredão disputado por Guilherme, Pyong e Gizelly.
“É engraçado, porque é algo bem cíclico. Os realities viveram momentos de altos e baixos. O mais recente ciclo tinha sido o dos realities gastronômicos. Agora vemos novamente essa atenção ao Big brother Brasil. Não dá para cravar as causas, mas acho que as redes sociais e os sites noticiosos acompanhando o dia a dia desse confinamento, com certeza, impulsionaram e instigaram as pessoas”, avalia Cláudio Ferreira, jornalista e pesquisador de reality show.
“No caso do BBB, especificamente, também tem muito a ver com a identificação das pessoas. Dependendo do grupo, o programa tem mais ou menos empatia”, completa o especialista. A 20ª temporada do programa buscou anônimos e famosos, o que logo chamou a atenção. Entre as celebridades, o ator Babu Santana, a atriz e cantora Manu Gavassi, a digital influencer Bianca Andrade e hipnólogo Pyong, que somam números altos de seguidores nas redes sociais.
Ao mesmo tempo em que o Big brother Brasil vive novamente um momento de glória na programação televisiva, outros realities também se destacam na programação. O serviço de streaming Netflix teve grande repercussão nos dois primeiros meses do ano com o lançamento de atrações do formato: The circle e Casamento às cegas.
O primeiro, que tem na plataforma uma versão norte-americana e uma brasileira, confina participantes em um prédio, em que eles só podem interagir via chat e compartilhamento de fotos e vídeos. Já o segundo mostra a dinâmica entre solteiros em busca de um amor, que eles só podem ver na segunda fase do programa. “A cada ano vão surgindo esses novos realities galgados na vigilância e no acompanhamento do público, algo que havia sido abandonado um pouco. Mas com os novos formatos isso voltou a chamar a atenção do público”, avalia Ferreira.
Os realities de romance, de certa forma, voltaram aos holofotes com o sucesso do formato De férias com o ex, da MTV. A atração já teve cinco temporadas e uma sexta acabou de ser finalizada, para, em breve, ser lançada no canal da tevê por assinatura. O programa gerou um spin-off, A treta não tira férias, e acumula diversas interações entre fãs e participantes nas redes sociais.
De olho nesse público, a Amazon Prime Vídeo lança neste ano o primeiro reality show original brasileiro aos mesmos moldes. É o Soltos em Floripa, que estreia em 20 de março. A atração reúne oito jovens de diferentes lugares do Brasil, incluindo Brasília, confinados em uma casa de praia vivendo uma jornada de festas, brigas, dramas, diversão e relacionamentos.
Assim que os realities começaram no Brasil, o pesquisador Cláudio Ferreira que estudou o formato no livro A dinâmica dos reality-shows na televisão aberta brasileira e, na época, identificou que as atrações bebiam da fonte de outros gêneros televisivos de sucesso, como a novela e os programas de auditório.
Nos últimos anos, a premissa foi invertida. Quem se aproveita do sucesso dos realities são exatamente essas atrações que, um dia, serviram de inspiração. Um exemplo foi a novela A dona do pedaço que criou um reality dentro da trama. Apresentado por Angélica, Best cake premiou a protagonista Maria da Paz (Juliana Paes) como a melhor boleira da competição.
Apesar de esse ser um caso mais raro, os realities se tornaram comum em formato de quatro programas. Domingão do Faustão, Caldeirão do Huck, Mais você e, mais recentemente, a nova versão do Domingo show estão entre as atrações que constantemente contam com atrações do gênero dentro da programação. No último domingo, Fausto Silva anunciou a quarta temporada do Show dos famosos. Enquanto, no mesmo dia, Sabrina Sato estreava no Domingo show, tendo como aposta o game show Made in Japão, disputado por celebridades que ficam em uma casa japonesa e se enfrentam em provas inusitadas pelo prêmio de R$ 500 mil.
“Engraçado é porque, quando estudei, acabei identificando outros formatos bem conhecidos do público inseridos nos realities. Isso foi feito para ter uma ligação com o público, já que era uma novidade. Hoje, os realities estão servindo para alavancar outros programas. Os formatos antigos serviram de base para os realities, hoje, é o contrário que acontece”, diz.
Para Cláudio Ferreira, isso acontece porque a televisão aberta brasileira se reinventa muito pouco. “Ela está sempre se retroalimentando. Falta um pouco de criatividade para novos formatos que não sejam baseados na própria tevê. Talvez, seja um medo de errar. O reality show, talvez, tenha sido o último grande risco da tevê aberta”, completa.
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