Silicon Valley, da HBO, conseguiu 10 nomeações ao Emmy neste ano. Só isso já é um indicativo de que a produção não perdeu a qualidade, não é?
Este foi um ano complicado para os garotos da Pied Piper. Para quem não acompanha o seriado, essa é a start-up comandada pelos personagens principais do programa humorístico, e que há quatro temporadas vem enfrentando todo tipo de situações absurdas. A gente torce pelo sucesso do grupo de nerds, mas não adianta, parece que o universo anda conspirando contra.
Apesar da quarta temporada ter sido boa, ficam alguns problemas para a continuação. Primeiro, o ator T. J. Miller, que interpreta Erlich Bachman, o dono da incubadora em que os personagens vivem, deixou o elenco. Qualquer fã da série sabe que ele é um elemento muito importante para manter o ritmo e o humor de Silicon Valley. Como os roteiristas vão seguir com a história sem uma peça tão importante, é uma grande preocupação. Uma das teorias que mais vêm ganhando força seria Jian Yang, outro morador da casa, assumir essa responsabilidade. O personagem tem grande potencial cômico e há tempos vinha confrontando Erlich, tendo inclusive contribuído para a solução que o programa encontrou para retirar o empreendedor de cena.
Outro nó que terá que ser desatado na quinta temporada é a evolução da história. Por mais que seja engraçado ver os programadores se estabacando no chão toda vez que um obstáculo aparece, com saídas geniosas extremamente autodestrutivas, a fórmula já está enjoando. E não tinha como ser diferente. A linha narrativa não se repete apenas de temporada em temporada, mas praticamente em quase todos os episódios. Silicon Valley ainda faz rir, mas até quando essa receita vai funcionar? Os roteiristas deveriam mudar a aposta.
Destaques da quarta temporada
Por mais que tenha irritado muitas pessoas que acompanham a série, o lado “perverso” de Richard, fundador da Pied Piper, que aflorou nesta temporada, foi uma mudança de rumo no roteiro, e deveria ser aplaudida. O cara bonzinho que vivia sendo passado para trás e se dando mal precisava ser superado. A evolução do personagem pode não ter sido muito bem recebida pelo ponto de vista moral, mas ainda assim foi uma evolução, e toda série que passa um tempo relativo no ar tem a obrigação de entregar algum crescimento dos protagonistas para os fãs.
Jared. Provavelmente O ponto alto desta temporada. Temos Jared surtando de raiva (por três segundos), Jared orgulhosamente vestindo o uniforme da Pied Piper durante a convenção dos concorrentes, fazendo de conta que não sabe dos esquemas ardilosos dos companheiros. Jared entregando a carta de demissão. Jared voltando para a empresa. Jared recebendo mulheres (sim, no plural) no seu apartamento. Jared rindo. Jared sendo Jared. Zach Woods definitivamente achou o papel de sua vida. Mesmo sendo um personagem secundário, ele gloriosamente rouba a cena e desperta simpatia no público.
Provavelmente, Silicon Valley não vai levar o Emmy por melhor elenco de comédia, mas deveria. A quantidade de atores brilhantes que passaram pela tela durante esse ano, interpretando personagens excêntricos (sempre!) que entram e saem de cena de uma forma tão natural, além dos principais que mantém o ritmo e arrasam em convencimento e interpretação têm uma sincronia assustadora. Todas as peças funcionam tão bem que nem acreditamos que esses atores podem ter problemas fora do programa (e têm: durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos, T. J. Miller disse abertamente que teve problemas com o restante do elenco por eles não terem se dedicado mais à campanha anti-Trump, discussão que culminou na sua saída da produção).
A força da série continua. Não foi o melhor ano para os nossos nerds atrapalhados, mas nem por isso deixou de ser bom. Eles devem levar o prêmio principal? Não. Mas com a quantidade de comédias que habitam o mundo fictício, dá para saber que apenas a nomeação já é muita coisa.