Próximo Capítulo analisa alguns destaques e esnobados da lista de indicados de 2023 do, às vezes justo e por vezes controverso, Emmy Awards
Por Giovanna Kunz* e Pedro Ibarra
O Emmy é o prêmio mais importante da indústria da televisão norte-americana e isso não é segredo. Contudo, a Television Academy não é infalível e por vezes é até muito criticada pelas escolhas que faz. Há sempre o que questionar nas listas e em 2023 não foi diferente. A premiação anunciou os indicados com uma mistura de justiça a séries históricas e melancolia para as produções esquecidas.
O Próximo Capítulo analisa alguns aspectos da lista e aponta congruências e incongruências na premiação mais disputada da televisão internacional.
As favoritas
A começar por Succession. A série é uma das mais aclamadas pela crítica, alguns falam que é a melhor produção da HBO desde Sopranos. O resultado, 27 indicações para a quarta e derradeira temporada, dominação total em atuação com 6 indicações e presente em todas as categorias. Uma coroação louvável para uma série que chegou de fininho, mas conquistou uma legião. Falava-se de Westworld como a herdeira da popularidade de Game of Thrones, mas não se imaginava que uma produção sem ação poderia ser a verdadeira dona do trono. Agora é hora de escolher quem é a próxima na linhagem real.
A segunda mais indicada da lista é um dos maiores acertos da HBO em muito tempo. The last of us é uma das melhores adaptações de video games já feitas no audiovisual e, merecidamente, recebeu 24 indicações por isso. Apesar de estar atrás de Succession em praticamente todas as categorias que disputa, a série deu um bom cartão de visitas, visto que é estreante na premiação. Não dá para prever nada com tanta antecedência, mas as próximas temporadas de The last of us prometem ser tão dominantes quanto outras produções históricas do estúdio, quem sabe assumam o lugar no panteão deixado por Succession. Vale exaltar Bella Ramsey, a mais nova indicada do ano, e Pedro Pascal, o primeiro latino a disputar Melhor ator de drama, em um grande trabalho como os protagonistas Ellie e Joel.
Uma concorrente estranha é uma das favoritas do ano para drama. The white lotus venceu tudo nas categorias de minissérie após a primeira temporada, mas por ter lançado uma segunda temporada com uma personagem repetida, não se enquadra mais nas regras de antologia. Portanto, teve que ir para o páreo mais duro deste Emmy e deve beliscar alguma estatueta. A série disputa 23 categorias, todas em drama, mesmo tendo mais características de comédia do que de drama.
A maior indicada em comédia é, assim como em drama, também uma despedida. A série do técnico Ted Lasso concorre a 21 prêmios e é a franca favorita em todas as categorias que concorre, quase todas de comédia da premiação, com exceção de Melhor atriz. A série teve um fim digno do grande projeto que foi e colocou a Apple TV+ entre os principais streamings nas disputas de grandes premiações. O sentimento é agridoce, pois seriados como O urso e Jury duty mereciam neste ano, mas o final de Ted Lasso com certeza será o dono dos holofotes. Uma ode ao reconhecimento do ator Phil Dunster – Jaime Tarth tududududu – que merece levar o Emmy pelo último ato em um dos personagens que mais cresceram no seriado.
Não são apenas Succession e Ted Lasso que se despedem do público. Better Call Saul, A maravilhosa sra. Maisel e Barry também dizem adeus. O fato apimenta um pouco a disputa. Better call Saul é aclamada e para muitos ultrapassou Breaking bad, série da qual é derivada, em qualidade. Porém, a produção nunca levou uma estatueta sequer para casa em seis temporadas. Um reconhecimento Bob Odenkirk em Melhor ator de drama pode ser uma redenção da academia e um prêmio merecido a uma das maiores séries desta geração, visto que o artista quase morreu no set após uma parada cardíaca.
As comédias A maravilhosa sra. Maisel e Barry também juntaram uma grande quantidade de fãs e o carinho dos críticos. Seria bonito vê-las dando adeus com prêmios nas mãos. A sra. Maisel, Rachel Brosnahan, tem até chance. Ela já ganhou uma vez pela personagem pela primeira temporada do seriado, mas depois nunca mais foi lembrada. Seria como fechar com chave de ouro. Bill Hader, com Barry está na mesma situação, ganhou na primeira temporada e busca fechar com tudo na última. Entretanto, concorre com Jason Sudeikis, o Ted Lasso, e Jeremy Allen-White, protagonista de O urso, uma disputa muito pesada. Alex Borstein, de Maisel,e Anthony Carrigan e Henry Winkler , de Barry, também concorrem contra grandes nomes nas categorias de Melhor atriz e ator coadjuvante, respectivamente.
Esnobados e injustiças
O Emmy se dedica, anualmente, a reconhecer os destaques da televisão americana, mas é comum que algumas obras indicadas sejam mais aclamadas do que mereciam e outras muito queridas são esquecidas pela academia.
A série Casa do dragão chegou a ser indicada para Melhor série dramática, mas merecia mais indicações para as principais categorias. Apesar de ter aparecido sete vezes na lista exaltada por aspectos técnicos, os atores Paddy Considine e Emma D’Arcy, que interpretaram o Rei Viserys e Rhaenyra, respectivamente, mereciam ser lembrados pela grande atuação que tiveram na série.
Um dos grandes esnobados da edição foi Donald Glover, o roteirista foi deixado de lado pela quarta temporada de Atlanta e, apesar de ter recebido a indicação de melhor roteiro por Enxame, viu a outra série também ser esnobada. A minissérie recebeu apenas uma indicação para Dominique Fishback na categoria de melhor atriz e uma indicação por figurino.
A academia não deixou somente séries de lado, Elizabeth Olsen foi ignorada pelo papel da assassina real Candy Montgomery em Amor e morte, mas Jesse Plemons recebeu a indicação pela interpretação de Allan Gore. Outro ator injustiçado foi Diego Luna, que não foi indicado ao Emmy 2023 na categoria de melhor ator por Andor, mas recebeu o devido reconhecimento pelo papel com a indicação ao Globo de Ouro.
Ainda em Star Wars, uma das surpresas da lista de Melhor minissérie, Obi Wan Kenobi, talvez seja a menos merecedora da categoria. A produção não foi sequer a melhor minissérie de Star Wars já lançada, mas ganha pelo nome e apelo da volta de dois personagens muito amado pelo público, Obi Wan e Darth Vader. Sem contar que o retorno de Ewan McGregor e Hayden Christensen aos papeis tocou no lado saudosista dos fãs de Guerra nas estrelas. Para não ser injusto na ala das injustiças, o último episódio é um grande destaque e tem sequências que entram para o hall de algumas das melhores cenas da saga.
Pedro Pascal conseguiu duas indicações históricas por atuação em The last of us e Saturday night live, mas a terceira temporada de The Mandalorian não conseguiu entrar nas principais categorias nem com a presença do ator. A série de Star Wars não recebeu o mesmo destaque de Obi Wan Kenobi e Andor, ela saiu com oito indicações para categorias técnicas.
Na contramão, Wandinha foi um sucesso estrondoso entre os adolescentes, mas a indicação para Melhor série de comédia foi uma injustiça da academia com outras séries que deveriam estar concorrendo a categoria, como Disque amiga para matar, Shrinking e Poker face. Jenna Ortega, por outro lado, merece estar na disputa por todo frenesi que conseguiu fazer com a personagem.
Estagiária sob supervisão de Pedro Ibarra