O filme da Netflix teve o complexo dever de concluir a aclamada série, entretanto El camino mais entretém do que acrescenta
Os ângulos diferenciados, o deserto como cenário, a trilha sonora instrumental pop rock da década de 1980. Está tudo de volta. A clássica receita que fez de Breaking bad, uma das séries de maior referência dos últimos anos retornou, dessa vez com o filme El camino — A breaking bad movie, uma produção “original” da Netflix.
Para quem acompanhou a série desde a completa invisibilidade em que a AMC (emissora responsável pela transmissão original da série nos Estados Unidos) passava por um momento pós-Mad men de instabilidade, a boa notícia é que — diferentemente do que a maioria poderia imaginar — , El camino não estraga a série. Algo fácil de temer, afinal são poucas as produções que tentam “mais um suspiro” de vida e não acabam se engasgando.
Parte desse “sucesso” nas duas horas adicionais de Breaking bad tem nome e sobrenome: Vince Gilligan. A visão do showrunner, escritor e diretor da série são novamente usadas no filme e o resultado acaba não diferindo muito do que os fãs já estavam acostumados.
Por outro lado, El camino não é perfeito. O maior problema aqui parece ser a indigesta sensação de que após duas horas a história não andou muito. Tudo bem, ao longo de seis temporadas, Breaking bad nunca se destacou pelo ritmo frenético, mas em um formato “cinematográfico” de conclusão, podia-se esperar algo mais dinâmico, ou surpreendente, do que o filme entrega.
Grande parte da história é apresentada em flashbacks do período em que Jesse (Aaron Paul) — o protagonista da nova produção — ficou em cativeiro durante o último ano da série. Não se preocupe, tudo que você precisa se lembrar da série para poder assistir El camino (nome em referência ao carro usado por Jesse na fuga no último episódio da série) será apresentado no começo do filme em formato de “previously”.
CUIDADO O CONTEÚDO ABAIXO CONTÉM SPOILERS!!!
Crítica (com spoilers) de El camino
Os fãs acompanham então os primeiros dias de Jesse em liberdade. Envolto em traumas pela prisão, e uma caçada pela polícia, o personagem tem de conseguir o dinheiro de Todd (Jesse Plemons), o ex-algoz, para conseguir fugir. Todo o clímax do filme é essencialmente apresentado em cenas de ação, algo que funciona no longa.
Alguns dos grandes personagens da série “voltam” — em flashbacks. O maior deles: Walter White. Em duas horas e dois minutos de filme, o icônico personagem faz uma ponta de seis minutos e cinco segundos. No melhor estilo “Jesse e Mr. White”, a cena é uma daquelas brilhantes que voltou ao primeiro ano da série com Walter sendo pretensioso, Jesse meio burro, e um diálogo rápido, cheio de humor misturado a uma agridoce metáfora filosófica (sobre ter um “momento especial na vida”) tal como Breaking bad fez escola. Uma cena excelente, que faz valer quase todo o filme.
Entre alguns tropeços, Jesse finalmente consegue o dinheiro e foge — dirigindo novamente, tal qual o final da série. É essencialmente isso. Nada de mais. Um filme que não acrescenta muito a história original de Breaking bad. El Camino não se colocou como imprescindível, mas foi uma colher de chá para aplacar a saudade dos fãs.