Edu Porto, o eunuco Jaali de Jezabel, comenta as dificuldades de estar numa novela bíblica e diz que se encantou pelo “antagonismo histórico” do personagem. Leia entrevista com o ator!
Das aulas como personal trainer aos estúdios de gravação e aos palcos. O caminho trilhado pelo ator Edu Porto deságua atualmente em Jezabel, novela da Rede Record na qual ele vive o eunuco Jaali. “Ele era escravo em sua terra (Núbia), veio fugido numa carroça e se tornou o eunuco responsável pelo harém de Samaria. O antagonismo histórico que esse personagem carrega me deixou muito motivado”, define o ator, em entrevista ao Próximo Capítulo.
Na terceira novela bíblica ー ele esteve no elenco de José do Egito (2013) e de A terra prometida (2016) ー , Edu revela que a maior dificuldade desse tipo de trama é “acertar o tom do personagem e entender o tom da trama. O desafio inicial é suavizar o sotaque.”. No caso do eunuco Jaali, isso aumentou “pelo fato de já termos gravado 80% da novela sem assistir a nada”.
Além de enfeitar a telinha (Edu mantém o corpo sarado à base de alimentação saudável e de exercícios físicos, hábito herdado pela época em que era personal e dava aulas de capoeira), Edu se prepara para estrear dois filmes ー Quatro amigas numa fria, no qual tem uma cena de striptease, e Salafrários ー e sobe aos palcos na peça Guerra doce, em que ele atua e escreve. “Teatro é responsabilidade social e utilidade pública. Como o espetáculo fala da temática gay e do HIV na década de 1990 é sempre delicado. Nosso desabafo é mostrar que o amor vence sempre”, afirma.
Leia entrevista completa com Edu Porto!
Como você definiria Jaali?
Eunuco é uma pessoa que não tem seus órgãos genitais e cuida de todas as mulheres do rei. Jaali era escravo em sua terra (Núbia), veio fugido numa carroça e se tornou o eunuco responsável pelo harém de Samaria. O antagonismo histórico que esse personagem carrega me deixou muito motivado.
Jezabel é sua terceira novela bíblica. Quais são as maiores dificuldades desse tipo de trama?
A dificuldade é acertar o tom do personagem e entender o tom da trama. Digo isso pelo fato de já termos gravado 80% da novela sem assistir a nada. Em relação às outras novelas o desafio inicial foi suavizar o sotaque.
Antes de ser ator, você era personal trainer. Como se deu essa troca de profissão?
Foi por acaso. Começou quando o dono de uma academia que eu trabalhava me convidou para fazer uma publicidade da mesma (fotos e vídeos) em troca de eu não pagar o repasse por um ano (valor dado a academia ao mês por cada aluno de personal, na época uns R$ 70, tinha uns 8 alunos). E mergulha na piscina mais de 30 vezes, corre nas esteira, anda pra lá e pra cá, caras e bocas (risos). Passei uma tarde maravilhosa atuando e sendo livre, daí eu pensei: “Foi ótimo pela grana e hoje estou mais feliz do que os outros dias…Achei!”
A sua carreira anterior ajuda de alguma forma na atual?
Ajuda sim! A minha formação na área da saúde me fez entender como funciona meu corpo de uma forma geral! E minha profissão atual depende integralmente dele. O ritmo das gravações é intenso e você estando bem fisicamente e mentalmente não tem como ter erro.
Você tem cuidados especiais com o corpo herdados daquela época?
Olha, já fui professor de capoeira também. Tinha uma vida de atleta. Hoje em dia faço 30% do que eu fazia antes. Lógico que herdei muita coisa e que hoje em dia aplico de uma forma mais branda. Saúde é tudo!
Você tem dois filmes previstos para este ano. O que pode falar sobre eles?
Sim, tenho dois longas pra esse ano. Em Quatro amigas numa fria, o personagem se chama Diego, é um argentino que trabalha no hostel que as quatro amigas frequentam durante a viagem. Ele é convidado para fazer um striptease particular para elas em seu chalé. Como o termômetro marcava 8 graus negativos, o ato não teve muito sucesso e digamos que sua libido diminuiu. Foi uma cena bem difícil de fazer pois tive que ficar seminu durante horas no set de filmagem numa Argentina que marcava 12 graus. Fazer humor é sempre bom! Em Os Salafrários faço o Rui, um personagem que mora na região dos Lagos (Cabo Frio) e é ciumento e machista.
E nos palcos? Tem alguma novidade?
Sigo viajando com meu espetáculo Guerra doce e começando a levantar um outro de comédia para o final do ano.
Como você faz para conciliar a televisão, o cinema e o teatro? Para você, é preciso fazer um de cada vez ou é possível acumular?
Essa é a guerra da nossa profissão (risos). Às vezes/ quase sempre acontece tudo ao mesmo tempo! No teatro, a gente tem a possibilidade de colocar um substituto, mas na TV e cinema a gente tem que rebolar pra conseguir fazer tudo. Algumas vezes temos que dispensar o trabalho. Faz parte, desapego (risos).
Na peça Guerra doce, que você escreveu e é ator, a temática gira em torno de um casal gay. Qual é a importância de tirar assuntos como esse do gueto?
Nunca podemos deixar de gritar contra o preconceito! O teatro é a caixa mais propícia para ampliar esse grito. Como o espetáculo fala da temática gay e do HIV na década de 1990 é sempre delicado. Nosso desabafo é mostrar que o amor vence sempre.
Trabalhos como esse acabam ressaltando o papel social do ator. Como vê essa função?
Faremos sempre esse movimento social. É a função do comunicador romântico. Teatro é responsabilidade social e utilidade pública!
Você notou algum tipo de preconceito da plateia quando estava em cena?
No espetáculo, temos três momentos que a gente percebe que a plateia reage de forma distinta a cada dia. Não consigo identificar do palco o sentimento fidedigno, mas sinto que um leve incômodo tem.
Além de ator, você é dono de um delivery de comida japonesa. Se arrisca na cozinha?
Sim, me arrisco (risos). No início do Sushi 7, meu sócio e eu colocamos a mão na massa, na verdade no peixe cru! Aprendi muita coisa da culinária japonesa. No início passei por todos os setores da empresa: 7 dias de motoboy, 7 dias na chapa, 7 dias nos frios, 7 dias no atendimento. Foi muito importante!
E na moda, já que você também tem uma marca de roupas, também se arrisca?
Nunca fui modelo, mas já fiz muitos catálogos quando mais novo. Hoje em dia tenho uma marca que se chama 3 guys. Como no início é sempre tudo difícil, claro que eu fiz as fotos iniciais (risos).
No Brasil, a carreira de ator é muito instável, sua veia empreendedora vem da necessidade de garantir (ou tentar) essa estabilidade?
Exatamente. Todo mundo precisa ter algo seu. Quando você fica do outro lado (empregador) você consegue entender muito quando você é o empregado. Se colocar no lugar do outro é primordial para seguirmos.