Drag Race Brasil mostra um brilho único em aguardada estreia nacional

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Estreia da semana, o reality Drag race Brasil coloca a luz em uma das artes mais potentes do país na atualidade: as drag queens

Por Pedro Ibarra

Há 15 anos uma das drag queens mais famosas do mundo deu início ao que mudaria para sempre o curso dos reality show de televisão. Estreava na televisão RuPaul’s drag race, um programa que premiava os maiores talentos da arte drag queen dos Estados Unidos. Apesar de tratar de um nicho específico da comunidade LGBTQIAP+ , o programa fez um sucesso que estourou a bolha e conquistou o mundo. Já são 26 Emmys em 63 nomeações, e RuPaul se tornou a pessoa negra mais agraciada da história do prêmio, com 11. Além disso, o reality virou uma franquia que tem “sedes” em vários países. Esta semana chegou a vez do Brasil. Estreia na Paramount+ o tão esperado Drag race Brasil.

O programa começou a ser exibido na plataforma de streaming e na MTV na última quarta-feira com a cara do Brasil. Apresentado por Grag Queen, a drag vencedora da primeira temporada do programa Queen of the universe, o reality tem ainda Bruna Braga e Dudu Bertholini completando a mesa. As participantes representam os quatro cantos do país de proporções continentais: Aquarela (Belo Horizonte-MG), Betina Polaroid (Rio de Janeiro-RJ), Dallas de Vil (Campinas-SP), Diva More (Jaquirana Serra Gaúcha-RS), Hellena Malditta (São Gonçalo-RJ), Melusine Sparkle (São José do Rio Preto-SP), Miranda Lebrão (Rio de Janeiro-RJ), Naza (Monte Santo de Minas-MG), Organzza (Rio de Janeiro-RJ), Shannon Skarllet (Rio de Janeiro-RJ), Tristan Soledade (Belém-PA) e Rubi Ocean, a representante de Brasília.

A ideia do programa, contudo, não é ser mais um país com um Drag race, mas, sim, dar a cara de uma nação para cada pedacinho. “Não é apenas um Drag race, é o Drag race Brasil, é o nosso Drag race. Ele terá temas de runaway, em que elas vão apresentar a cidade delas, temas sobre estéticas brasileiras. É um mundo de possibilidades e de personalidades de gatas muito talentosas”, explica Grag Queen. “São queens surreais, com histórias inacreditáveis e brasileiras. Porém, o formato de Drag race que todo mundo conhece está lá”, completa.

As participantes entregaram tanto que foram capazes de mudar a vida dos jurados. “Todas elas que passaram por ali me trouxeram aprendizados, não só na arte de maquiar, de performance, de tudo, mas de vida. Elas me trouxeram uma coragem e uma vontade de que cada vez mais eu fosse eu mesma”, afirma Bruna Braga. “Elas me trouxeram uma coragem de vida e um brilho no olho. Acho que o brilho que elas colocaram no meu olho é o brilho que agora eu tento enxergar a mim mesma”, complementa.

“Fica uma lição muito importante para nós, para todos, e a gente espera que para as nossas espectadoras também. A importância de valorizar a arte drag brasileira, global, de apoiar as nossas drags locais, de aumentar e apoiar plataformas como Drag race, que geram visibilidade, capacitação, eleva a percepção e o ganho de pessoas LGBTs e drag queens”, pontua Dudu Bertholini.

Os três membros da mesa acreditam que a sinergia e a conexão da bancada é uma das mais intensas da franquia, algo entre “conexão de almas” e “amigas que andam de braços dados no recreio”. Porém, para eles, o trabalho é exaltar as participantes que estão ali dando a vida em looks, performances e desafios. “A gente sempre faz o melhor que pode para que o tecido humano, por baixo de tudo isso, acompanhe o brilho dos tecidos e lamês que a gente vai ver naquela passarela”, diz Bertholini.

By popular demand

A estreia de Drag race vem após um sucesso inacreditável do reality no Brasil. O programa tem fãs em todo o território nacional, a ponto de, em diversas cidades, bares fecharem para eventos exclusivos de transmissão de episódios importantes da franquia. O Drag race Brasil era muito pedido, pois o país tem muitos talentos na arte drag. Mesmo que tenha vindo depois de títulos como Queen stars Brasil e Caravana das drags, o programa chega com status de principal reality do tema no país pela base sólida de fãs que já tem.

Grag Queen era uma dessas fãs e, agora, é a apresentadora mais nova entre todos os programas da franquia. Portanto, para além de profissional, tem algo muito pessoal nesta conquista. “Sou fascinada, desde a primeira temporada até a última. Eu assisti a tudo. Sei quem ganhou, quem perdeu, quem saiu, quem entrou. As minhas amigas me chamavam de máquina de Drag race, eu realmente sou muito fã. Comecei a fazer drag por conta de Drag race“, diz a artista de 28 anos.

Ela garante que, por mais que tenha lutado muito para conquistar este espaço, não está fazendo isso só por si. “Estou realizando um sonho que eu sonhei, mas que é da nação brasileira, um Drag race nacional. Eu só vou vivenciar esse sonho da melhor maneira, de camarote, na melhor cadeira que dava para sentar”, reflete.

A anfitriã do programa acredita que o mundo tem muito a aprender com o “jeitinho brasileiro” de fazer drag e viver como parte da comunidade LGBTQIAP+ do país. “O jeitinho brasileiro é uma forma de falar que traduz o amor e o respeito em relação ao que você acredita. É ir atrás sem medir esforços. Ser drag no Brasil é fazer roupa de papel, peruca de lã, é usar um vestido emprestado da mãe, ou é gastar R$ 200 em uma fantasia para ganhar da festa um copo de gin. Ser drag no Brasil é ser drag porque ama”, exalta Grag. “A gente vê muita drag começando do nada, sendo desrespeitada por baladas e desprotegida. Fazer uma arte política pode fazer com que você corra perigo, sim. O jeitinho brasileiro, portanto, não deixa de ser sobrevivência”, acrescenta.

A mensagem que fica é que Grag Queen apenas representa um sonho que é de todas as pessoas que decidem gastar horas do dia pensando em conceito, maquiagem, figurino e peruca para ter uma noite especial. “Eu bato no peito com muito orgulho de estar à frente de algo novo, que vai gerar oportunidades para muitas gatas que querem fazer o próprio sonho acontecer, de ver o próprio conceito sair do papel, de ter condições para bancar as próprias famílias e de elevar a arte drag, que é muito irada. É preciso apenas olhar para a gente”, cobra. “As drags provam por A B que dá para fazer qualquer coisa com uma peruca na cabeça e um sorriso no rosto”, conclui.

A queen do cerrado

O público de Brasília já tem uma direção no que diz respeito à torcida. Rubi Ocean é a única competidora do Centro-Oeste. Nascida e criada em Brasília, ela já se monta há anos, mas, atualmente, trabalha mais na área da costura, fazendo roupas para outras drag queens.

Quando surgiu a oportunidade de se inscrever no programa, viu que seria a hora de se reconectar com a Rubi “da balada”. “Eu me perguntei: ‘será que eu consigo bater de frente com essas gatinhas que se montam dia e noite e participam de eventos e festas sempre?’. E logo vim com a resposta. Amo fazer arte drag. Ser uma artista drag não é estar só na balada. E hoje em dia a gente percebe o tanto que essa vertente é enorme”, lembra. “Mergulhar nessa percepção dentro de mim me fez ter coragem de falar assim: ‘vai lá e mostra seu talento, que você é uma queen da moda, uma queen que costura, e que não é só de balada que vivem as gays deste planeta’.”

Antes de artista drag, Rubi é uma fã que começou a se montar nas festas de Brasília. Com isso, ser a única drag da capital no programa tem um gosto muito mais saboroso. ” É uma responsabilidade e uma honra muito grande. E eu me emociono toda vez que penso que, se a gente for ver a nível Centro-Oeste, sou a única queen da região”, exalta. “Fico muito feliz, é uma responsabilidade muito grande, porque eu represento drag queens do Distrito Federal, de Goiás e do Mato Grosso que são incríveis, converso com elas e estão todas eufóricas com minha participação”, confidencia. “É isso, a seca do cerrado, o deserto do cerrado, caíram todos sobre as minhas costas. Sou a queen do cerrado, não é mesmo?”, brinca.

Para ela, além de um sonho, o Drag race Brasil foi sobre autodescoberta. “Eu me conheci de uma forma muito louca”, conta a artista, que tem como principal orgulho o fato de ter aproveitado. “Tenho uma certeza que vocês podem ter, que eu me joguei, eu me entreguei, eu vivi aquele momento do começo ao fim, e fui, principalmente, fiel a mim mesma. Então, além de muita alta costura, vocês vão perceber a entrega da Rubi nessa competição”, adianta.

Pedro Ibarra

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