Por Pedro Ibarra*
Tudo que começa tem um fim, mesmo que esse fim seja na verdade um meio. Foi assim que o público deu adeus para a Viúva Negra nos cinemas. O primeiro e único longa solo da heroína chegou aos cinemas e ao Disney +, por meio Premier Access no valor R$ 69,99, nesta sexta com última história de Natasha Romanoff, a superespiã vivida por Scarlett Johansson, nos cinemas. Contudo, com um enredo que se passa entre os filmes Capitão América: Guerra Civil e Vingadores: Guerra Infinita, bem antes do trágico fim da personagem em Vingadores: Ultimato.
Foram mais de 10 anos de Scarlett Johansson como a heroína. A personagem apareceu nas telas da Marvel pela primeira vez em Homem de Ferro 2, em 2010 e desde então esteve em todas as histórias mais importantes da Marvel. Porém, Natasha sempre foi uma coadjuvante de luxo, nunca uma protagonista, o passado da personagem foi se desenvolvendo em pequenas citações durante esses anos de Universo Cinematográfico Marvel, mas nunca efetivamente explorada como uma narrativa.
O novo longa da Marvel, portanto, chegou já com o duro dever de responder as perguntas que ficaram durante todo esse tempo e trabalhar com uma personagem já amada pelo público lidando com a pressão de milhões de fãs que esperavam para que finalmente a Viúva Negra ganhasse um lugar para brilhar ao sol. Mesmo com todos os desafios, o dever do filme é cumprido. Viúva Negra é um filme do tamanho que a personagem merece, com discussões pertinentes, ação interessante e força na narrativa.
A produção conta o que aconteceu no meio tempo em que Natasha Romanoff era uma foragida do governo por não querer assinar o Tratado de Sokovia, um registro de heróis que gera os eventos de Capitão América: Guerra Civil. A super-heroína decide derrubar toda organização que a criou como espiã e assassina e enfrentar todos os fantasmas do passado, incluindo Budapeste, trauma central da personagem citado em Vingadores e explorado pelo vilão no novo filme.
O longa é um reencontro dela com a família que a criou, formada por personagens interessantes como Yelena, espiã e irmã da personagem vivida por Florence Pugh, Alexei, um supersoldado interpretado por David Harbour, e Melina, uma espiã e cientista que Rachel Weisz dá vida.
As interações entre Natasha e os novos personagens são o ponto alto do filme, em certos momentos as situações tomam nuances de drama familiar inclusive. Mas isso não tira em nada o caráter de filme de ação, muito menos as características da fórmula da Marvel de fazer filmes. O longa flutua entre ação, drama e comédia com destreza. Mesmo seguindo uma fórmula, o filme também tem uma linguagem muito própria. O tom é de espionagem, mas as lutas são heroicas, as cenas são mais violentas, e as lutas tem mais impacto. A produção foge do óbvio Marvel mescla bem gêneros.
O filme acerta tanto que chega a dar pena de ter lançado tão tarde. Era claro, pelo menos para os fãs, que a Viúva Negra era uma personagem interessante e explorável no MCU, e o longa deixa mais cristalino o quão interessante e potente é a personagem, mas ao mesmo tempo deixa um “gostinho de quero mais”. A Marvel faz uma retratação justa com uma personagem muitos anos deixada de lado, e Scarlett Johansson deixa o Universo sem a possibilidade de um Viúva Negra 2 ou 3, pelo menos por enquanto, mas com o dever cumprido de ter entregado uma interpretação importante para uma personagem igualmente importante.
Há também um enredo muito claro, que gira em torno da figura da mulher como um todo. As Viúvas Negras são espiãs altamente treinadas para matar, mas também são mulheres que cresceram envolvidas em um esquema de tráfico humano, tiveram a mente reprogramada para seguir ordens e não tiveram controle nem do que vestiam durante toda vida, uma das passagens mais singelas tem relação com a forma como Yelena lida com este fato.
O longa é dirigido por uma mulher, Cate Shortland, escrito por uma mulher, Jac Schaeffer, e tem em seu elenco maioria esmagadora de mulheres. O filme é todo feito para conversar de mulher para mulher, critica a forma como as super-heroínas foram representadas como pessoas que querem ser olhadas o tempo todo e tem toda história regida de forma a apresentar que não, não é só com homens que se salva o mundo.
Viúva Negra dá uma aula de representatividade. “É muito importante que mulheres jovens vejam um filme gigante como esse, que tem uma personagem feminina central carregando todo filme”, afirma Rachel Weisz em entrevista para Disney cedida exclusivamente ao Correio. “O motivo de homens gostarem de filmes de ação e heróis é porque, independente deles serem pequenos garotos ou homens formados, eles sentem: ‘Esse sou eu’”, analisa a atriz vencedora do Oscar em 2005 por Jardineiro Fiel. “Então, quando uma mulher vê um filme como esse, elas conseguem se identificar com as personagens.Você pode acompanhar o filme imaginando que aquela personagem é você, o que é muito mais empolgante”, completa.
*Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader
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