Sintonia, série de Kondzilla para a Netflix, peca pela superficialidade, mas tem pontos bons, como a trilha sonora e o fato de trazer a periferia paulista para o centro das atenções. Leia a crítica!
Funk, religião e drogas. Esse é o tripé em que se apoia Sintonia, nova série nacional da Netflix. O drama tem direção de Johny Araújo e Kondzilla, também idealizador do projeto, e tem o maior mérito na escolha do cenário. A periferia paulista é praticamente um personagem de Sintonia, tamanha a importância dada a ela, retratada sem medo e com a coragem que falta a muitas produções nacionais.
É numa favela da capital paulista que moram os amigos de infância Doni (Jottapê), Rita (Bruna Mascarenhas) e Nando (Christian Malheiros). Eles são unidos pelo cenário e por serem povoados de vários sonhos. Doni é funkeiro e se divide entre a carreira no início e a escola. Rita é mais na dela, ligada à igreja evangélica, onde estão seus conflitos. Nando é traficante, faz de conta que quer sair dessa vida para cuidar da esposa e da filha, mas não luta muito por isso ー o tráfico já engoliu o rapaz.
Sintonia tinha tudo para ter bons conflitos e ser um marco entre as séries nacionais da Netflix, mas não é isso que acontece. O roteiro é fraco, raso, recheado de estereótipos e muito fragmentado ー o drama dos protagonistas é apresentado sem unidade. Poucos diálogos se salvam ー por que o jovem da periferia tem que falar um palavrão a cada cena no audiovisual brasileiro? Algumas vezes, temas como racismo e violência urbana são trazidos à tona, mas volto a ressaltar: com diálogos pobres que mais irritam do que levam à reflexão.
Muito disso poderia ser salvo, caso o trio de atores fosse excepcional. Definitivamente não é o que acontece. Bruna tem em mãos o personagem mais complexo e se sai bem, aparecendo como uma boa revelação em sua primeira experiência no audiovisual. Christian começa meio perdido, mas acha logo o tom do personagem. E logo Jottapê, que tem mais destaque do que os outros, não rende tanto. O menino precisa melhorar a dicção com urgência. Entre os coadjuvantes, Fernanda Viacava, a pastora Sueli, se destaca, o que dá ainda mais sustento a Bruna. O jogo entre elas é de gente grande.
Além do mérito de retratar a periferia, chama a atenção em Sintonia a trilha sonora. Era de se esperar de uma série com direção de Kondzilla, um dos maiores produtores do funk nacional. Mas isso não diminui o brilho das músicas, que têm refrões chicletes, daqueles que não saem da sua cabeça quando o episódio acaba. O que deveria ficar martelando após a temporada de Sintonia era a reflexão da dura realidade vivida pelos protagonistas e não as rimas pobres e o batidão eficiente de MC Doni.