Primeiros programas do Se joga são marcados por muita gritaria e pouca novidade. Leia crítica da nova atração das tardes da Globo
Parece que a busca pela audiência fez com que a toda poderosa Globo se nivelasse por baixo. Só pode ser essa a explicação para Se joga, novo programa da emissora, que tem como principal meta (não assumida, naturalmente) enfrentar A hora da venenosa, atração assumidamente (agora sim!) de fofoca e maldades da Record.
A receita do Se joga parece seguir tudo que o chef Henrique Fogaça, do MasterChef, vive condenando. Alguém precisa avisar ali que menos é mais. Muito mais, no caso. São muitos os excessos do Se joga. Um programa de cerca de uma hora de duração não parece precisar de três apresentadores e o resultado é que Érico Brás, Fabiana Karla e Fernanda Gentil se atropelam a cada momento, falando ao mesmo tempo e disputando espaço.
Outro excesso é o tom de voz de Érico e Fabiana. Apenas Fernanda já entendeu que não precisa gritar no microfone.
Mas o maior erro de Se joga não é um excesso, e sim a escassez. Falta novidade na atração. O programa tem um quê de Hora da venenosa e Fofocalizando, tem um tanto de Vídeo show, de Domingão do Faustão e de Domingo Legal. Copiar (ou se inspirar, como preferem alguns) não é o problema. Chacrinha já dizia que na televisão “nada se cria, tudo se copia”. A questão é que não se acrescenta nada à cópia. A inspiração vira citação. E são tantas citações que carece identidade ao Se joga.
Em meio a tanta confusão, há mais confusão! A apresentação do trio é interrompida a cada minuto por “emojis falantes” que emitem sons ou palavras ー só pode ser na intenção de irritar. Justiça seja feita, Fabiana Karla disse no segundo programa que os internautas não gostaram dos barulhos emitidos pelos emojis a agora eles só aparecem na tela, sem som. Dos males o menor.
O Se joga tem quadros fixos comandados por Marcelo Adnet (The fake Brasil), Cátia Damasceno (Coisas do coração) e Paulo Vieira (Isso é muito minha vida) e um link com a redação do Gshow numa espécie de boletim de notícias de famosos no qual a apresentadora Tatiana Machado se comporta como se fosse uma estrela pop.
O The fake Brasil traz o Adnet fazendo imitações de vários apresentadores da casa ー a estreia, com texto inspirado, “homenageou” Tiago Leifert e os jurados do The voice Brasil, Lulu Santos, Ivete Sangalo e Michel Teló. Foi o ponto alto dos quatro primeiros programas do Se joga.
Catia Damasceno falou sobre sexo e relacionamentos de um jeito tão estranho (“a mulher trai com mais categoria, trai melhor, ela planeja”) que Fernanda Gentil disse que iria “salvar” a companheira antes que ela caísse no machismo. Não deu tempo de salvar Cátia, mas foi providencial a interrupção.
Paulo Vieira fez um quadro de humor sem inspiração nenhuma e com esquetes com estereótipos preconceituosos sobre moradores de favelas. Sem graça, mas deve ter seu público.
Se joga tem pontos positivos
Calma! Tem coisa que se salva no Se joga. Fernanda Gentil é um dos pontos altos. A apresentadora está completamente à vontade, dá um banho de simpatia e realmente se joga na plateia nas horas em que isso é possível e preciso. Fernanda participa das brincadeiras com animação e sem exageros. Dava para ser só dela o programa. Érico Brás e Fabiana Karla (que apresentou o ótimo Top do CAT, com itens das novelas que estão no ar e foram elogiados pelo público) são excelentes humoristas e poderiam ter esquetes. Fica a dica!
Mesmo com o elenco da Globo à disposição (os primeiros programas tiveram participação de Paolla Oliveira, Agatha Moreira, Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi, além de Andrea Beltrão, Luana Piovani e Giovanna Ewbank), é sem eles que o Se joga se dá melhor. Fernanda Gentil – sempre ela! – e Fabiana Karla têm a plateia no bolso e dominam os quadros que contam com a participação do público que está ali, assistindo ao programa ao vivo disposto a participar de momentos como o Que conta é essa?. Aliás, o Se joga ainda tem quadros gravados, o que era previsto, mas atrapalha um pouco o andamento.
A estreia do Se joga me faz lembrar os primeiros meses do Encontro com Fátima Bernardes, quando o programa da ex-apresentadora do Jornal Nacional sofreu com críticas negativas e foi se ajustando aos poucos até chegar ao sucesso que é hoje. Bons exemplos a serem seguidos não falta. É só escolher um e se jogar!