Colaboração de Alexandre de Paula
Veredito: Excelente
Depois de quatro temporadas, era de se esperar que House of cards perdesse força e começasse a caminhar para o declínio, mesmo que sutilmente. Afinal, as tramas e os desmandos de Frank e Claire Underwood pareciam já ter ido longe demais para qualquer desdobramento que pudesse surpreender. A quinta temporada da série, que estreia na terça (30/5) na Netflix, prova, no entanto, que não. Quando o assunto é poder e os personagens centrais são os Underwood, aparentemente não há limites.
Em House of cards quase nada é o que parece. Portanto, nem tente assistir à nova temporada esperando conclusões rápidas ou entender facilmente para que caminho o roteiro vai. Até no último episódio (ou principalmente nele), há plots twists (reviravoltas no enredo) que fazem o espectador ficar espantado. E, no fundo, isso sempre foi um dos charmes da série.
A devoção com que Robin Wright e Kevin Spacey levam seus papéis também é cativante. É nítido como os dois se sentem à vontade na pele do casal Underwood. E isso dá uma força absurda para o roteiro e para a produção. Spacey encarna perfeitamente a falta de escrúpulos de Frank, assim como Robin consegue manter a ambiguidade (forjada) entre ingenuidade e crueldade de Claire.
Ao contrário do que superficialmente pode parecer, na nova temporada Claire dá sinais de que pode ser tão ardilosa quanto Frank e de que é capaz de ir tão longe quanto ele para conseguir o que deseja. Conforme os episódios se passam, a força da personagem dentro da série se torna cada vez maior. É de se esperar (torçamos!) que, nas próximas temporadas, Claire assuma o protagonismo de House of cards.
A disputa pela Casa Branca é importante na temporada, mas, talvez pela primeira vez, Frank deixa claro que poder vai muito além de política e que quem realmente manda em tudo não é exatamente eleito pelo povo. A disputa presidencial contra o republicano Will Conway (Joel Kinnaman) também dá a entender isso, principalmente quando se percebe que o adversário de Frank tem um quê de marionete (apesar da força política e da popularidade).
Novos personagens se destacam na série. Mark Usher (Campbell Scott) e Jane Davis (Patricia Clarkson) são extremamente instigantes e prometem muito mais para as próximas temporadas. O poder de manipulação dos dois é impressionante e os interesses deles ainda não ficam completamente claros. Os dois são acertos na história que perdeu figuras importantes como Remy Danton (Mahershala Ali) e Jackie Sharp (Molly Parker) — agora só vagamente citados.
Doug Stamper (Michael Kelly) segue como um melhores personagens da série. A angústia de Doug é forte e a lealdade dele a Underwood continua intacta e o leva a atitudes ainda mais impensáveis, mesmo com acusações e investigações de parte da imprensa.
Depois de quatro temporadas, os monólogos de Frank com o espectador ainda merecem citação. Permanecem incríveis e são aulas de como a política e o mundo do poder funcionam, momentos em que texto e atuação se completam de maneira impressionante. (Detalhe: Observe tudo com atenção, porque há surpresas no que diz respeito a diálogos com a câmera.)
Mundo real x House of cards
É claro que a nova temporada traça paralelos com o mundo real. Há organizações terroristas, a possibilidade iminente de guerra e certas medidas que podem remeter a Donald Trump. Há também paralelos com o Brasil (ou um presidente impopular querendo se manter a qualquer custo no cargo não é familiar?). Tudo isso, no entanto, é acessório, nada que, de fato, sustente a trama.
House of cards permanece forte porque mostra os meandros do poder, os esquemas e o jogo sujo dos poderosos sem perder de vista a humanidade de cada personagem ao revelar o que há de baixo e vil em cada um deles.
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