Série do Globoplay, Eu, a Vó e a Boi se apóia em bom texto de Miguel Falabella e em show das protagonistas Arlete Salles e Vera Holtz. Leia a crítica!
“Uma história de ódio, uma grande crônica do rancor”. É assim que, nos primeiros minutos, o narrador Roblou (Daniel Rangel) define a histórias de Eu, a Vó e a Boi, série de Miguel Falabella que chegou na última sexta-feira (29/11) ao Globoplay, serviço sob demanda da Globo. Em seis capítulos de cerca de meia hora cada, a comédia estrelada por Vera Holtz e Arlete Salles tem texto ágil e é fácil de ser maratonada.
Eu, a Vó e a Boi começa no dia do aniversário de 18 anos de Roblou, narrador não só da estreia, mas da série toda. Na verdade, o personagem funciona como um espião nosso no universo de Turandot (Arlete Salles), a Vó, e Yolanda (Vera Holtz), a Boi. As duas são avós de Roblou e vivem em pé de guerra. Para piorar, moram uma de frente para a outra. Com frequência, o rapaz quebra a chamada quarta parede e se dirige ao público como se conversasse conosco, artifício usado em momentos certos. A estratégia é divertida, dá certo e o carisma de Daniel faz com que queiramos tirar Roblou de cada furada em que as avós metem ele ou em que ele se mete sozinho.
E são muitas. Tantas que, a exemplo de Tom e Jerry, vão perdendo o frescor da novidade. A diferença é que não sabemos quem vai aprontar para cima de quem. A nossa sorte é que estamos diante de duas grandes atrizes que deitam e rolam no texto de Falabella. Aliás, o texto tem a cara do autor ー e aí quem é fã vai cair de amores e quem não é não passará dos primeiros minutos de Eu, a Vó e a Boi. Isso quer dizer que estão lá “piadas” com as minorias, sempre representadas na obra de Falabella, tiradas politizadas disfarçadas, nomes engraçados, pitadas de sobrenatural e muito do politicamente incorreto. O humor de Falabella parece mais bem alocado no streaming do que na TV aberta de hoje em dia.
O texto de Eu, a Vó e a Boi vai além da intriga de Turandot e Yolanda. Ele passa meio como quem não quer nada por temas contemporâneos, como a intolerância, amor nos tempos de hoje, valores, homossexualidade, preconceito, política. Acerta quase sempre.
Outra marca de Falabella são coadjuvantes fortes e eles estão lá. Alessandra Maestrini dá show como a policial Seu Rocha, apaixonada por Norma (Danielle Winits, completamente fora do tom), mãe a quem Roblou define como “seriamente sequelada”. Otávio Augusto tem cenas emocionantes com Vera e Arlete como Orlando. Valentina Blunc (Demimur, namorada de Roblou), Eliana Rocha (Belize Bungalow) e Magno Bandarz (Marlon, tio de Roblou e filho da Boi) têm bons momentos. Stella Miranda como Mary Tyller se repete, mas acaba funcionando.
Assista a Eu, a Vó e a Boi como quem assiste a uma comédia despretensiosa, para se divertir mesmo. Vai dar certo, mas vai passar.