Novela de Marcos Bernstein, Orgulho e paixão mais lembrou os bons clássicos “contos de fadas” do que um folhetim tradicional. Isso se deve ao fato de ter apostado na mistura de elementos do romance, da aventura e da ação, sempre com um ar de ingenuidade, e ainda com espaço para abordar importantes e atuais debates — apesar de a trama não se passar no dias de hoje — , com uma sutileza poucas vezes vista na tevê.
Os debates, inclusive, foram o grande trunfo da novela. O principal assunto foi o feminismo e o papel da mulher, que permeou diversas histórias desde a estreia, entre elas, a da protagonista e sonhadora Elisabeta (muito bem vivida por Nathalia Dill); da aventureira Mariana (Chandelly Braz); da senhora do café, Julieta (talvez o melhor papel da carreira de Gabriela Duarte); e até da romântica Ema (Agatha Moreira). Tanto que o discurso final de Elisabeta falou exatamente sobre as várias mulheres do Vale do Café, destacando a força de cada uma delas e as mudanças enfrentadas ao longo das trajetórias até se tornarem empoderadas ao final da novela.
Mas não foi apenas o feminino que teve holofote em Orgulho e paixão. A novela inovou mostrando o primeiro beijo gay do horário das 18h e apostou no romance entre o mecânico Luccino (Juliano Laham) e o capitão do exército Otávio (Pedro Henrique Müller). Em tempos de intolerância, o folhetim levantou a bandeira contra a homofobia e a favor da diversidade, o que nem todas as novelas têm conseguido fazer. E isso, mais uma vez, com uma leveza que o horário pede.
Inspirada em alguns livros de Jane Austen, como Orgulho e preconceito e Emma, Orgulho e paixão recorreu a uma construção narrativa que remete ao passado, com tramas leves e personagens bem caricatos. Nada de mocinhos que também são maus e vilões que também são bons. A trama apostou no maniqueísmo. O que poderia ser um defeito, no folhetim foi uma qualidade e não distanciou o público. No final, os bonzinhos viveram felizes para sempre e os maus foram castigados de alguma forma.
Outro ponto alto de Orgulho e paixão foram as atuações. Alessandra Negrini e Grace Gianoukas, Susana e Petúnia respectivamente, interpretaram a melhor dupla da novela, em uma vilania com atmosfera cômica. Gabriela Duarte também merece ser destacada. Em seu retorno à tevê, conseguiu dar vida à complexa Julieta e conquistou o público, sendo uma das personagens mais adoradas da novela. Não dá para não lembrar ainda de Vera Holtz, a mãe das Benedito, Ofélia, e de Ary Fontoura, Afrânio, o barão de Ouro Verde.
Após a exibição do capítulo final, Orgulho e paixão encerrou a história mantendo o padrão alto que mostrou em sua exibição, como uma narrativa bem redonda e bem construída, com inserção de assuntos importantes e uma leveza que será difícil esquecer e reproduzir de novo na telinha.
Quer spoilers do final? Confira aqui os desfechos de cada personagem.
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