Na trama, ainda sem data de estreia na Globo, Raffaele Casuccio atuou como preparador corporal e coreógrafo. O italiano também em experiência em outras produções, como na série O negócio
O italiano Raffaele Casuccio começou na vida artística como dançarino. Ele rodou o mundo com alguns artistas como Pavarotti e Kylie Minogue. Depois de anos nesse ramo, o artista decidiu enveredar por outro terreno da arte: as artes cênicas.
Esse novo desafio também veio junto com a mudança de país. Ele se mudou para o Brasil para realizar o sonho da atuação. Recentemente, ele esteve na quarta e última temporada da série nacional O negócio, da HBO. O personagem do italiano, Giancarlo entrou na terceira temporada e trouxe muitas surpresas a sequência final da produção.
O próximo trabalho de Raffaele Casuccio a chegar à tevê será a minissérie Se eu fechar os olhos agora, em que atuou como coreógrafo e preparador corporal ao lado de nomes como Mariana Ximenes e Deborah Falabella. A história se passa na fictícia São Miguel ambientada nos anos 1960 e gira em torno de dois jovens que são acusados injustamente de um crime (saiba mais sobre a trama aqui). Antes da minissérie, Casuccio esteve fazendo o mesmo trabalho em novelas como Tempo de amar e Rock story.
Ao Próximo Capítulo, o ator relembrou o início da carreira, contou sobre as experiências no Brasil e adiantou algumas informações da próxima minissérie da Globo. Confira!
Entrevista / Raffaele Casuccio
Você é mais conhecido por sua experiência como coreógrafo e dançarino. Como tudo começou?
Quando eu tinha uns 8 anos, uma tia me mostrou um vídeo de um artista extremamente popular. Fiquei hipnotizado, assistindo o vídeo sem parar. Algo estava mexendo em mim, uma eletricidade começou a permear meu corpo e não podia ficar mais parado. O artista era Michael Jackson. Foi assim que comecei a empurrar os móveis da sala para dançar por horas, sozinho, tentando me aproximar dos movimentos rápidos e icônicos dele. Comecei a carreira em uma companhia de teatro que misturava dança urbana e contemporânea. Em poucos anos comecei a dançar pelo mundo inteiro e me tornei o principal dançarino dos maiores programas televisivos nacionais da Itália. Quando comecei a atuar, me mudei para o Brasil, onde sou mais conhecido como ator e coreógrafo, enquanto, na Itália, minha imagem ficou mais cristalizada como dançarino.
Como dançarino, você teve experiência com grandes nomes da música. Como foi atuar ao lado de grandes estrelas? E você tem vontade de voltar a sair em turnê dessa forma?
Foram anos muitos felizes, era muito jovem e viajava o mundo com artistas incríveis. Imagina estar do lado do maestro Pavarotti, ou estar no Olímpia, em Paris, dançando com Kylie Minogue. Aprendi muito, me estruturei enquanto profissional trabalhando nessas megaproduções, em que somente o mérito e o esforço são premiados. Além disso, ganhava uma nova família em cada turnê, já que as equipes convivem 24h por dia. Minhas memórias de todo o trabalho, das dores nas costas e das gargalhadas depois dos shows são muitos preciosas. Mas esse tempo passou, a gente se transforma fisicamente e espiritualmente. Aos 30 anos, senti necessidade de buscar novas formas de me comunicar, de me expressar. Foi assim que a atuação a se definiu como minha segunda vocação. Por isso, não sinto saudade de sair em turnê como dançarino, mas como ator ou coreógrafo de um show.
Como a atuação surgiu na sua vida?
Sentia essa inquietação ao fazer a transição do papel de dançarino para o de coreógrafo. Um amigo me dizia que eu era um ator nato, mas demorei a acreditar nele. Sempre amei o cinema, mas tinha muito medo de recomeçar, ainda mais no setor artístico, onde tive que suar muito para ser respeitado. Precisava que alguém avaliasse se eu realmente tinha talento. Então me matriculei em um workshop para atores profissionais – eu, que nunca tinha atuado, um louco. Quando chegou minha vez de ir para frente da câmera, estava tranquilo e emocionado ao mesmo tempo. Quando acabei minha cena, os atores não acreditavam que aquela tinha sido a minha primeira vez. A professora, que é a diretora de casting de Marco Bellocchio, um dos diretores mais apreciados na Itália e no mundo, disse: você é um artista. Isso me convenceu (risos). Então comecei a mergulhar nos estudos e assumi que essa era minha nova estrada.
Você está de volta à série O negócio, da HBO, que encerrará sua temporada. Como foi a experiência na série? E o que pode contar sobre o desenrolar do seu personagem nessa temporada?
Ah, foi uma das experiências mais prazerosas da minha carreira como ator. O personagem é incrível; a equipe, maravilhosa; os parceiros de trabalho, super generosos e relaxados; um sonho trabalhar assim. Entrei na terceira temporada interpretando Giancarlo, um bilionário misterioso que é viciado em jogos psicológicos, um pouco sádico, mas que, graças à sua ousadia nos negócios, conseguiu chegar ao topo. As protagonistas viajaram de São Paulo até o escritório do personagem, no Rio de Janeiro, e ficaram de queixo caído quando descobriram que só poderiam ser atendidas dali a dois anos (risos). Na quarta temporada, o Giancarlo ganha espaço e trama. Vamos desvendar ainda mais esse lado “perigoso”, a sua psicologia complexa, o que o deixa excitado e o que é preciso para fazê-lo se apaixonar. Promete muitas surpresas.
Em novelas, você já teve experiências como coreógrafo e também como ator. O que mais gosta de fazer?
Ah, é muito difícil responder. São duas profissões que amo e que ativam movimentos interiores diferentes. A função do coreógrafo não se encerra só em criar passos, mas atmosferas; permear e comunicar realidades e sensações. A partir da escolha da música, deixo minha cabeça voar e as imagens surgirem livremente; dessa forma o conceito, o figurino, o cenário, tudo vai se definindo. É um trabalho que ativa meu lado criativo e transcende a dança para se contaminar com outras artes. Foi assim que criei o universo do cabaré da Regina Duarte em Tempo de amar, da Globo, novela das 18h que acabou de terminar. Já a atuação se coloca em outro lugar: é minha paixão. Por meio dela, me entusiasmo, sofro, me emociono, fico nervoso… atuar é a vida. E eu não posso dizer que estou vivo sem atuar.
Você integra o elenco de Se eu fechar os olhos agora, minissérie da Globo ainda sem previsão de estreia, o que pode contar sobre a produção?
Na verdade, fui o preparador corporal e coreógrafo da série. Foi um trabalho muito especial. Estamos falando de uma volta ao fim dos anos 1950, no interior do Rio de Janeiro. Junto com o diretor artístico Carlos Manga Jr., pensamos como tudo isso podia se refletir nos corpos dos atores. Posso dizer que é uma serie atípica, crua, potente, que revela os impulsos mais ferozes da nossa essência humana. Já cheguei a ver algumas cenas e a direção, a fotografia, os figurinos e as atuações estão sensacionais. Fico muito orgulhoso em ter feito parte desse projeto e de poder ter trabalhado os corpos de atores tão talentosos como Deborah Falabella, Jonas Bloch, Mariana Ximenes e muitos outros.
Conte um pouco como é o processo de preparação corporal para os atores? O que isso influencia na atuação do artista?
Sou extremamente convencido de que não é na psicologia da personagem que você vai encontrar o personagem, mas sim no corpo. Quantas vezes, no nosso dia a dia, sentimos um desconforto ao escutar as pessoas e perceber que os corpos deles estão dizendo exatamente o oposto? Isso é somente um exemplo de que o corpo fala. Muitas vezes, se você observá-lo, é ai que encontra a verdade. Meu ponto de partida é a desconstrução do corpo cotidiano do ator, para permitir que um novo corpo, o corpo da personagem, surja. Deixo os atores descobrirem os músculos, as formas, os movimentos que não estão acostumados a fazer, que nunca fizeram ou esqueceram de ter feito. Só depois disso, quando o corpo está neutralizado, ofereço qualidades de movimentos que possam desvelar ao ator a psicologia da personagem. Experimentar sem construir é o segredo; e o que surge naturalmente entra potente e instintivamente no quebra cabeça da definição da personagem pelo ator. Na série Se eu fechar os olhos, usei mais uma ferramenta: o Animal Work. Cada ator escolhia um animal que, por caraterísticas próprias, poderia ter o temperamento interior do personagem e, depois de um estudo aprofundado, foi levado a experimentar seu corpo animal para que a força, o olhar e o comportamento dele deixem o corpo humano do personagem mais vivo e intenso.