Casamento às cegas: Os encantos e desencantos da nova sensação da Netflix

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Casamento às cegas (Love is blind) tem todos os ingredientes de um bom reality show, mas parte de uma premissa um tanto questionável: é possível se apaixonar por quem você nunca viu em 10 dias?

Quanto tempo você leva para dizer “eu te amo” a uma pessoa? Mais do que 10 dias, acredito. E se você nunca tiver visto essa pessoa, qual a chance de você se casar com ela em apenas 21 dias? Loucura? Pois esse é o mundo de Casamento às cegas (Love is blind), reality show que tem levado a Netflix de volta aos trending topics e a rodas de conversas em que grupos defendem e criticam a atração.

Dividido em 10 episódios mais um necessário extra de lavagem de roupa suja (todo reality deveria ter um desse!), Casamento às cegas parte da premissa de que o amor é cego, exatamente como diz o título em inglês. Dessa forma, os apresentadores Nick e Vanessa Lachey (casados, pois é!) recebem homens e mulheres solteiros para tentar achar o grande amor da vida deles. Os dois grupos ficam separados sem se ver durante os primeiros 10 dias de programa, a não ser que elas sejam pedidos em casamento por eles ー daí eles partem para um resort no México.

Em cabines participantes de Casamento às cegas conversam sem se ver

Nessa primeira fase, os dois grupos conversam sobre tudo, mas não se veem. É divertido ver que a maioria deles já reconhece a voz do outro assim que ouve pela segunda ou terceira vez. Mas impressionante mesmo é ver como aqueles jovens (a pessoa mais velha da experiência tem 34 anos, uma falha da seleção) se apaixonam com facilidade.

No terceiro dia, surge o primeiro “eu te amo” (eu disse que era rápido) e, no quinto, o primeiro pedido de casamento. Sinal dos tempos de amor líquido ou de que as palavras perderam o valor e são ditas ao vento? “As pessoas estão se apaixonando por uma parede e isso é uma loucura”, diz Amber, uma das participantes. Mas será que ela irá se render a tal parede?

Jovens predominam a seleção de Casamento às cegas

No décimo dia, expira o prazo para os pedidos de casamento. Quem não ficou noivo ー e a regra manda que os homens peçam elas em casamento (em pleno século 21?!) – sai do programa. Os que restaram seguem para uma semana no resort do México, onde continuam sem acesso ao mundo exterior. Depois, se ainda forem um casal, vão morar juntos, conhecer a família e os amigos uns dos outros, e, em 21 dias, os sobreviventes estarão casados. O amor é cego e a jato!

De qualquer forma, chama a atenção o fato de Casamento às cegas trazer cada ingrediente de um reality de relacionamento. O primeiro deles são as pessoas. A seleção poderia ser mais inclusiva, com participantes acima do peso, fora dos padrões estéticos ou mesmo de classes sociais diferentes ou orientais. Mas não dá para negar que os que estão ali são carismáticos e que, de repente, você se pega torcendo por um casal e sofrendo com o término de outro.

Isso em falar em segredos do passado que vêm à tona, em famílias que desaprovam os eleitos, em desacertos e acertos inesperados.

O elenco simpático cativa o público de Casamento às cegas

Outro grande acerto do reality é a edição. A primeira parte, especialmente, poderia ficar maçante com uma pessoa em cada lado da parede falando sobre si mesmo, sem interagir de outra forma. Mas não é o que acontece.

Por fim, estamos num reality de casal e a gente quer é treta. Casamento às cegas não decepciona desde a primeira fase, quando três mulheres ficam interessadas no mesmo rapaz. E ele se mostra realmente dividido entre duas delas. A ele cabe a decisão e o casal formado acaba tornando-se um dos mais controversos da temporada. Uma das moças que foi preterida resolveu dar ela mesma o basta e ficou noiva de outro jovem. Já a terceira, só queria o galã e não passou para a segunda fase.

É na segunda fase, porém, que os casais se conhecem. E isso traz mais do que ver o outro e se sentir atraído fisicamente. Convenhamos que não é tão difícil assim achar aquelas pessoas bonitas. A questão está quando a rotina ou os valores de um entram em contraste com os do outro. E é briga atrás de briga. Tem anel de noivado voando pela piscina, taça de vinho arremessada no chão e palavrão adoidado. É barraco que você quer?

Os encontros com as famílias e os amigos também dão um respiro no que poderia transformar Casamento às cegas numa coisa chata, com imagens dos casais numa eterna lua de mel ou se desfazendo. Isso porque cada pai ou mãe que entra em cena traz uma reação ー tem da doida que apoia a filha em tudo e só chora ao pai observador que prefere falar com o olhar que não está aprovando nada do que o filho aprontou.

No décimo (e teoricamente último) episódio de Casamento às cegas chega a vez dos casamentos dos noivos que chegaram ao glorioso dia. São mais do que eu imaginava, posso adiantar, o que não quer dizer que todos que estão no episódio chegaram ao desejado “sim”. Mas é o episódio extra que traz o grand finale. Quase dois anos depois (o reality foi gravado em 2018), todos os casais ー incluindo os que não vingaram, graças a Deus ー estão juntos novamente para uma verdadeira lavação de roupa suja. Sem papas nas línguas, eles revivem barracos, mas também aproveitam para, em momentos fofos, pedirem desculpas. Mas o mais interessante desse episódio é ver quantos casais que começaram o programa estão juntos tanto tempo depois. Será a prova de que o amor é mesmo cego?

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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