Voltando para uma nova fase, American Horror Story – Cult aposta na contemporaneidade política, medo de palhaços e num desenvolvimento “dinâmico” para contar uma história bem longe de ser classificada como um “terror de verdade”
Eles já estiveram em asilos, casas assombradas e uma porção de lugar que dá arrepio só de pensar, mas agora decidiram apostar em uma vertente um pouco mais ampla: o assustador contexto político contemporâneo. Por mais que American Horror Story – Cult tente se afastar – pelo menos na vertente de marketing e divulgação – de ser classificada como uma “série que trata de política”, é seguro dizer, depois de assistir a estreia da sétima temporada, que este é o seu maior trunfo.
A nova temporada tem como foco o quanto as eleições norte-americanas de 2016 afetaram de forma profunda o psicológico das pessoas mais envolvidas no pleito. Retratar isso é uma conquista louvável. As imagens reais do que os candidatos faziam, a cobertura jornalística do momento e o anúncio da vitória de Trump: tudo foi construído de maneira harmônica, mas a única coisa que não se encaixou nesse primeiro episódio foi o detalhe de que AHS – Cult não é uma trama política, ela é um terror. E vê-los tentarem misturar esses dois contextos foi como ver um trem descarrilhando.
O enredo de American Horror Story – Cult
A noite da eleição que elegeu Donald Trump como o novo presidente dos Estados Unidos da América é o ponto base que dá início a história de AHS – Cult. O público é apresentado ao casal Ally (Sarah Paulson) e Ivy (Alison Pill), fervorosas apoiadoras de Hillary Clinton, que se veem devastadas com a derrota. Na outra ponta da história está Kai Anderson (Evan Peters), um apoiador de Trump que se encontra em êxtase após a vitória.
Em longos minutos tentando harmonizar o contexto político a necessária referência de terror que a série pede, o primeiro episódio da sétima temporada parece se perder nesse encaixe, e deixa o telespectador se perguntando de onde saíram aqueles palhaços e o que os personagens secundários têm a ver com a história.
Se o contexto intelectual da estreia é um pouco difícil de entender, todo o “terror” que episódio apresenta é uma decepção sem limites. O suspense é construído com o excessivo – e ultrapassado – recurso sonoro que faz mais irritar do que assustar (a cena da Ally sendo perseguida no supermercado é algo completamente constrangedor, quase dois minutos que mais te fazem rir, do que assustar). Enfim, quando as mortes acontecem, ficam no básico do que a série poderia oferecer. Cortes na garganta, esfaqueamento e… bem, essencialmente é isso.
O – incômodo – detalhe técnico
Não é uma característica de AHS, é mais uma vontade do showrunner da série, Ryan Murphy, em tentar desenvolver uma narração mais dinâmica, e que merece ser comentada aqui. Desde Nip/Tuck, passando por Glee e agora na série de terror, Murphy tenta construir uma perfeita série que prenda mais a atenção do público.
As principais ferramentas que o showrunner usa para fazer isso é interpor diálogos uns sobre os outros, e diminuir o tempo de planos (o momento em que a câmera foca em determinada cena; também designa o contexto de mudanças de câmeras, ou o movimento que elas realizam) a cerca de dois segundos. O resultado é um design gráfico atropelado, que quase dá dor de cabeça em quem asiste.
Em resumo: AHS – Cult tem uma excelente campanha de marketing, mas na hora do “vamô ver”, se resume a mais do mesmo. Será que é um sinal do cansaço do sétimo ano?